quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um pouco do trabalho do Padre Júlio no Amapá

O ano de 1911 marca a vinda dos primeiros missionários da Sagrada Família (MSF) para residirem em Macapá. Esses primeiros religiosos MSF foram João Henrique Paulsen, Hermano Elsink e irmão Boaventura Hammouche, que deram por fundada oficialmente a comunidade em 14 de agosto. Esses padres permaneceram com a gente até 1948, quando passaram a região para o comando do Pime (Pontifício Instituto das Missões). Em 1912 chega o quarto padre: José Maria Lauth, para assumir a função de superior local, ficando aqui até 1923.

De todos esses missionários, o que teve maior atuação foi o padre belga Júlio Maria Lomberdi (* 1878 – Werghein, na França; + 1941, Manhumirim, Minas Gerais, Brasil). Padre Júlio chegou em Macapá em 27 de fevereiro de 1913 para assumir a função de vigário da Paróquia de São José. Em 1916 funda a Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria, entregando o hábito às duas primeiras postulantes, na capela de Santo Antonio em Belém. Foi durante o governo do padre Júlio que apareceram os primeiros protestantes em Macapá.

A Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria, obra do padre Júlio, passou a funcionar em Macapá a partir de 13 de dezembro de 1916, constituída de religiosas que passaram a assessorar o sacerdote nos trabalhos de pastoral da juventude e da catequese da criança.

A atuação do padre Lombarde se deu também na cultura. Foi ele quem fundou o primeiro cinema em Macapá, que passou a funcionar próximo à igreja de São José (Não confundir com o ex- Cine João XXIII que iniciou a partir de 1963 com os padres do Pime). Vários artigos sobre a vida, o cotidiano e a história da cidade, ilustrando as páginas do jornal Correio de Macapá, foram de autoria desse padre belga, hoje guardados por colecionadores particulares, constituindo documentário importante.


Fonte: http://navegadorbrasileiro.wordpress.com/tag/religiao-o-inicio-das-religioes-no-estado-do-amapa/

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Pe. Júlio, grande orador das coisas sagradas!

Em 1927, a convite do Ordinário local, Dom Adauto de Miranda Henriques, Padre Júlio pregou missões na capital paraibana. Sua passagem por lá ganhou destaque no jornal católico local "A Imprensa":

Realizaram-se durante esta semana santa, na igreja cathedral de nossa cidade, as conferencias religiosas do revmo. sr. padre Julio Maria Lombardi, eloquente e festejado orador sacro, que, a convite do sr. arcebispo metropolitano, veio à Parahyba em missão apostolica, que colheu entre nós os mais sazonados e abundantes fructos.

O pe. dr. Julio Maria, com sua vasta e profunda erudição theologica, abordou e desenvolveu proficientemente as mais interessantes questões religiosas, esmagando debaixo de uma argumentação segura e convincente os adversarios mesquinhos de nossa santa Fé. (...)

A figura imponente do orador, a sua palavra facil, a gesticulação expressiva impressionaram e commoveram a todos quantos o ouviram. E dessa bôa disposição do auditorio o pe. Julio Maria soube tirar os mais consoladores fructos, num êxito magnifico que se reflectiu na aproximação de milhares de pessoas ao santo tribunal da Penitencia e à mesa da Comunhão (A Imprensa, Paraíba, p. 1, 20 abr. 1927).

domingo, 16 de agosto de 2009

Ângelus com o Papa Bento XVI - Nutrir-se com o pão da Vida Eterna

Palavras ao rezar o Angelus com os peregrinos neste domingo

CASTEL GANDOLFO, domingo, 16 de agosto de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI rezou o Angelus com os peregrinos ao meio-dia deste domingo, no pátio interno do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo. Estas foram as palavras do Papa na introdução da oração mariana.

* * *

Queridos irmãos e irmãs!

Ontem nós comemoramos a grande festa da Assunção de Maria ao Céu, e hoje lemos no Evangelho estas palavras de Jesus: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu" (Jo 6, 51). Não se pode ficar indiferente a esta correspondência, que gira em torno do símbolo do "céu": Maria foi "assunta" ao local de que seu filho tinha "descido". Evidentemente, esta linguagem, que é bíblica, expressa em termos figurados coisas que não entram completamente no mundo dos nossos conceitos e da nossa imaginação. Mas vamos parar um momento para refletir! Jesus se apresenta como o "pão vivo", ou seja, alimento que contém a própria vida de Deus e é capaz de comunicá-la a quem d’Ele se alimenta, o verdadeiro nutrimento que dá a vida, nutre realmente em profundidade. Jesus diz: "Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo”. Bem, de quem o Filho de Deus tomou esta sua "carne", a sua humanidade concreta e verdadeira? Da Virgem Maria. Deus recebeu d’Ela o corpo humano para entrar na nossa condição mortal. A sua vez, no fim da existência terrena, o corpo da Virgem foi assunto ao céu por Deus e entrou na condição celeste. É uma espécie de intercâmbio, no qual Deus tem sempre a plena iniciativa, mas, como vimos em outras ocasiões, tem também necessidade de Maria, do “sim” da criatura, da sua carne, da sua existência concreta, para preparar a matéria do seu sacrifício: o corpo e o sangue, a ser oferecido na Cruz como instrumento de vida eterna e, no sacramento da Eucaristia, como alimento e bebida espirituais.

Queridos irmãos e irmãs, o que aconteceu a Maria, vale, de outras maneiras, mas realmente, para cada homem e cada mulher, porque a cada um de nós Deus pede acolhê-Lo, colocar à disposição o nosso coração e o nosso corpo, a nossa inteira existência, para que Ele possa habitar no mundo. Convida a unir-nos a Ele no sacramento da Eucaristia, Pão repartido pela vida do mundo, para formar juntos a Igreja, seu corpo histórico. E se dissermos sim, como Maria, na mesma medida desse nosso sim, ocorre também para nós e em nós aquele misterioso intercâmbio: somos admitidos na divindade d’Aquele que assumiu a nossa humanidade. A Eucaristia é o meio, o instrumento desse recíproco transformar-se, que tem sempre Deus como fim e como ator principal: Ele é a Cabeça e nós os membros, Ele é a Videira, nós os ramos. Quem come deste Pão e vive em comunhão com Jesus, deixando-se transformar por Ele e n’Ele, é salvo da morte eterna: certamente morre, como todos, participando também do mistério da Paixão e da Cruz de Cristo, mas não é mais escravo da morte, e ressuscitará no último dia, para desfrutar da festa eterna com Maria e com todos os Santos.

Este mistério, esta festa de Deus começa aqui: é mistério de fé, de esperança e de amor, que se celebra na vida e na liturgia, especialmente eucarística, e se exprime na comunhão fraterna e no serviço ao próximo. Rezemos à Virgem Santa, a fim de que nos ajude a nutrirmos sempre com fé do Pão da vida eterna para experimentar já na terra a alegria do Céu.

[Após o Angelus, o Papa dirigiu-se aos peregrinos em vários idiomas; em português, disse:]

Saúdo os jovens brasileiros da Comunidade Missionária Villareggia e demais peregrinos de língua portuguesa que quiseram participar neste momento diário de louvor e gratidão ao Verbo divino, que Se fez homem no seio da Virgem Maria para ficar connosco todos os dias até ao fim do mundo. Deixai Cristo tomar posse da vossa vida, para serdes cada vez mais vida e presença de Cristo!

[© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]

sábado, 15 de agosto de 2009

Suspiros a Maria Santíssima


(publicamos hoje, dia da Assunção da Virgem Maria aos Céus, os Suspiros a Maria Santíssima)


O amor do Pe. Júlio Maria pelas missões se expressa em seus “Suspiros a Maria Santíssima”, que é o testemunho de seu grande ardor missionário. Em cada estrofe vemos o amor, o ardor de um missionário. Vamos refletir e rezar estes ‘Suspiros’, procurando ter também em nós estes mesmos sentimentos.

  1. Ó querida e doce Virgem Maria, por amor de vosso Filho, baixai os olhos sobre o mundo, que tão miseravelmente se perde no abismo do vício e da indiferença.
  2. A fé vai se apagando nos corações, os quais se afastam do único amor verdadeiro, e as trevas do erro envolvem o espírito da maior parte dos homens.
  3. Esses homens, entretanto, ó querida Mãe, são filhos de Deus, resgatados pelo sangue de Jesus, banhados pelas vossas lágrimas e pelo vosso amor.
  4. Esses homens são vossos filhos como nós, filhos ingratos e rebeldes, é certo, mas sempre filhos queridos e esperados.
  5. Esses homens são nossos irmãos; como seria, pois possível, calarmo-nos ó doce Mãe, em face de tanta calamidade, cegueira e desgraça?
  6. Que seria do nosso amor de Deus e do próximo se, vendo os nossos irmãos se afastarem do reto caminho, nossas entranhas não se comovessem de compaixão?
  7. Como poderiam fechar-se nossos corações e calar-se a nossa língua, à vista da ilusão com que o mal seduz as pessoas e lhes tira o ideal da vida cristã?
  8. Como é possível vivermos sossegados e quietos, quando continuamente Jesus Cristo é ofendido, sua lei é desprezada, e as pessoas se entregam a todo tipo de vícios?
  9. Oh! Não! É impossível, meu Deus, não posso mais viver no meio de tamanha desgraça; retirai-me deste mundo, ou concedei-me a graça de salvar esses nossos irmãos!
  10. Vosso próprio Coração, ó Jesus, transborda de amor para os pecadores. Como Bom Pastor, correis atrás das ovelhas perdidas, e vossa voz repete: “Vinde a mim todos os que sofreis”!
  11. Convosco, ó Jesus, quero amar os irmãos, quero procurar as ovelhas feridas e perdidas, quero levantar a voz de dia e de noite para chama-las para perto de vosso coração.
  12. E se os homens não quiserem escutar a minha voz, hei de bradar pó Vós, ó Mãe de misericórdia, e não vos deixarei, até ouvirdes os meus gemidos.
  13. Ó doce mãe, escutai a voz de toda a vossa Congregação que vos implora; não digais que não podeis, visto vosso Filho vos ter dado todo poder sobre o seu divino coração.
  14. Quereis e podeis, temos, pois, certeza de que a vossa misericórdia há de iluminar os pecadores, e de que o vosso amor há de resplandecer no coração desses nossos irmãos.
  15. Ó Virgem Santa, imploramos vossa misericórdia em favor dos pecadores, apesar de nós mesmos sermos pecadores, cheios de enfermidades e de fraquezas.
  16. Eis-nos aqui, vossos filhos, mandai-nos e levaremos a nossos irmãos a palavra do Evangelho, o sorriso fraterno e o sacrifício de nossa vida.
  17. Nada somos e nada podemos por nós mesmos, porém tudo será possível com a ajuda da graça divina, cujo auxílio todo poderoso nunca nos há de faltar.
  18. Ó Mãe amantíssima, eis-nos aqui, mandai-nos junto às pessoas que se sentem perdidas, para salva-las; junto às tíbias, para reanima-las e junto às fervorosas, para leva-las ao céu.
  19. Mandai-nos e guiai-nos; queremos penetrar no meio da sociedade indiferente e viciada, para opor à indiferença, o amor e o sacrifício.
  20. Pela palavra e pelo exemplo queremos proclamar o reino de Jesus; queremos lutar contra o mal; queremos anunciar a Boa Nova para que todos cheguem a Deus.
  21. Doce Mãe, não vos faltam no céu, anjos para serem os mensageiros de vossas ternuras, mas quereis servir-vos de nós, para que todos se sintam amados por Deus e pela Igreja.
  22. Suscitai, pois, uma legião de apóstolos desapegados e disponíveis que, com a cruz no peito e o rosário nas mãos, proclamem em toda parte as vossas grandezas e o vosso amor.
  23. Suscitai apóstolos de vosso Coração e do Coração eucarístico de Jesus, para espalharem o vosso culto, pelo exemplo, pela palavra e pela dedicação.
  24. Nossa humilde Congregação, nascida de vosso amor, abençoada e protegida por vós, há de difundir-se pelo mundo inteiro, e com ela, a espiritualidade sacramentina.
  25. Mas, para realizar-se tão divina tarefa, para sermos auxiliares de Jesus nessa missão, precisamos de amor, de virtude e de generosidade.
  26. É esta virtude sem fraqueza, este amor sem alteração e esta generosidade sem medida que imploramos para todos os membros de nossa Congregação.
  27. Doce e querida Mãe, levantai-nos todos acima das idéias, das inclinações e dos costumes que nos afastam de vós, para nos fazerdes seguir os passos de vossos santos.
  28. Dai-nos um corações amante e generoso, uma vontade decidida e forte, um espírito sobrenatural e uma alma grande e generosa.
  29. Nunca uma afeição que nos afaste de vosso ideal viole o santuário de nosso coração, nem altere o espírito missionário do amor divino que nele deve arder.
  30. Alcançai-nos compaixão pelo povo sofredor, rigidez para com nós mesmos, nunca transigindo com o que desvie do dever, da virtude e da santidade.
  31. Ó Virgem Imaculada, alcançai-nos uma santidade completa, uma santidade fruto do sacrifício, do esforço generoso e da perseverante dedicação.
  32. Corações eucarísticos de Jesus e de Maria, impregnai-nos de vosso amor, para que a missão se manifeste através do zelo, amor e sacrifício.
  33. E assim formados por vós, doce Mãe, estaremos prontos a ir até onde a obediência nos mandar para aí nos mostrarmos verdadeiros apóstolos da Eucaristia.
  34. Mandai-nos, querida mãe, para que, como os anjos no céu, sejamos mensageiros da grandeza da missão a nós confiada.

Amém!

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Nota-se por algumas expressões que o autor redigiu a oração num contexto específico, congregacional. O que não impede que o qualquer cristão reze com ele esta belíssima oração à Maria Santíssima, bastando algumas adaptações de expressão.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

[Comentários Apologéticos] A existência da Revelação

3º Domingo do Advento (Segundo a forma extraordinária do Rito Romano)

Evangelho: Jo 1, 19-28

19. Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: Quem és tu? 20. Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: Eu não sou o Cristo. 21. Pois, então, quem és?, perguntaram-lhe eles. És tu Elias? Disse ele: Não o sou. És tu o profeta? Ele respondeu: Não. 22. Perguntaram-lhe de novo: Dize-nos, afinal, quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo? 23. Ele respondeu: Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías (40,3). 24. Alguns dos emissários eram fariseus. 25. Continuaram a perguntar-lhe: Como, pois, batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 26. João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. 27. Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado. 28. Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.

Comentário Apologético

O Evangelho de hoje conta que os judeus enviaram mensageiros a João Batista, perguntando-lhe quem era. Se era o Cristo, Elias ou qualquer outro Profeta.

O precursor rejeitou todos os títulos e intitulou-se: a voz que clama no deserto, para preparar os caminhos do Senhor; e ele termina fazendo, em nome de Deus, a grande revelação da presença de Jesus Cristo entre eles: Entre vós está quem não conheceis.

Nós também devemos aproximar-nos de Deus, e pedir-lhe que se revele a nossa fé, pois sem essa revelação, nunca teremos uma idéia certa, clara, convicta de Deus, e de sua vida em nós.

Procuremos convencer-nos fortemente da necessidade da Revelação Divina, examinando hoje:

1. A existência da revelação.
2. As épocas da revelação.

São duas noções necessárias para excitar em nós este espírito de fé com que devemos receber e acatar as verdades reveladas.

I – A existência da revelação

A revelação existe. É um fato.

Temos toda a certeza de que Deus manifestou aos homens verdades que a simples razão não pode descobrir, ou pode apenas conhecer superficialmente.

Deus não era obrigado a retirar o homem da abjeção em que o havia mergulhado o pecado original e a remediar as suas grandes misérias.

Mas, notemos que Deus é pai; e um pai, vendo o seu filho no fundo da miséria não pode deixar de estender-lhe a mão.

Quando a criança entra nesse mundo, é já um ser racional, embora seja incapaz de orientar-se. Deus colocou a seu lado uma criatura, sua mãe, que se inclina sobre o berço, e o semblante iluminado pelo amor, lhe fala, instrui-a e sustenta-a.

E Deus, pai tão amoroso, não se inclinaria sobre o berço da humanidade, onde se agita e chora sua pobre filha, pedindo luz e amparo? Ah! Isto não; é impossível. Deus seria menos terno do que nossos pais na terra!

Eis porque Deus falou, nos revelou i que ignoramos e o que precisamos saber.

Deus destina o homem para um fim sobrenatural; é preciso pois que lhe dê luzes sobrenaturais, e tais luzes devem brotar de seu próprio Coração e lábios.

E como pode o homem conhecer que uma revelação é verdadeiramente divina?

Pelos caracteres negativos e positivos que acompanham sempre a palavra divina.

Os negativos referem-se à própria revelação, afastando o que seria oposto às perfeições divinas, a uma revelação anterior, a preceitos positivos existentes, e à perfeição do homem.

Os positivos às provas que acompanham as revelações, isto é: os milagres e as profecias, dois fenômenos exteriores extraordinários, luminosos, que se impõe à convicção.

Os milagres e as profecias não fazem compreender o mistério revelado, nem dão a razão do preceito positivo, mas fazem-nos aceitar como sendo de Deus.

São como o selo, o carimbo que Deus imprime sobre suas obras, ou as credenciais com as quais Ele apresenta seus enviados; os milagres e as profecias constituem o
Sinal divino por exceleência.

II – As épocas da revelação

A revelação completa efetuou-se em três épocas.

A primeira foi feita a Adão, no berço da existência humana, nas sombras do paraíso terrenal.

Continha essa revelação verdades naturais, por exemplo: a existência dos anjos bons e maus, e, depois da queda, a visão do libertador prometido.

Continha também certos preceitos positivos, por exemplo: o modo de oferecer sacrifícios.

Esta primeira revelação confirmada e cada vez mais determinada a Abraão e aos demais patriarcas recebeu o nome de:Revelação primitiva ou patriarcal.

***

A segunda revelação foi feita a Moisés, no monte Sinai e aos profetas, encarregados de a transmitir aos hebreus.

Esta segunda revelação relembrava e revigorava a lei natural, as revelações anteriores, e prescreviam muitos novos preceitos, tendo em vista a preparação dos espíritos para a vinda do Messias. É a revelação mosaica.

***

A terceira foi feita pelo próprio Jesus Cristo, sendo dirigida à humanidade inteira.

Esta nova revelação que completa todas as revelações precedentes, com mais clareza e perfeição junta-lhe um conjunto completo de verdades, de preceitos e de auxílios sobrenaturais, que dão à lei antiga a sua perfeição completa e definitiva.

É a revelação cristã ou religião cristã.

***
Convém notar que estas três revelações, distintas quanto ao tempo em que foram feitas, constituem uma única e mesma revelação, ou religião, desenvolvida por Deus através dos tempos.

Todas essas revelações tem o mesmo autor: Deus; o mesmo fim: a fé sobrenatural; os mesmos meios sobrenaturais: a graça sobrenatural; o mesmo fundamento: o Redentor esperado e chegado; os mesmos preceitos: o decálogo; e os mesmos dogmas.

O que se constata é que os dogmas foram revelados progressivamente, manifestados pouco a pouca na medida das disposições dos espíritos; todos, porém, estavam contidos em gérmen nas três revelações.

III- Conclusão

Pelo que precedo compreendemos os imensos benefícios que nos trouxe a revelação.

Antes de tudo, a revelação vem enxertar uma nova ordem de idéias sobre as idéias existentes: a ordem sobrenatural veio elevar e aperfeiçoar a ordem natural.

A ordem sobrenatural é uma mudança radical em nossas idéias e aspirações.

A razão, tocada pela graça, tornou-se fé;
O desejo natural de gozo tornou-se esperança;
A simpatia natural, mudou-se em caridade.

Em resumo: o homem da lei natural saiu das mãos de Jesus Cristo, enaltecido, transfigurado, aperfeiçoado, não fugindo mais de Deus, como os antigos judeus, mas apresentando-se diante dele com sentimento de amor filial.

A lei do temor cedeu lugar à lei do amor.

O homem racional tornou-se homem celestial, como o admiramos nos santos, dizendo que são anjos numa carne mortal.

Exemplo

Inauguração de uma estátua

Devia ser inaugurada uma grande e bela estátua de um herói da nação. Lá estava a estátua, de pé, altiva, em cima do céu pedestal finamente esculpido. Embaixo, lia-se o nome do herói.

A estátua, porém, ficou velada por um pano grosso, que só deixava aparecer as linhas gerais, o tamanho do herói, mas que encobria por completo a expressão de seus traços, seu gesto, a flama de seu olhar, a sua fronte altiva.

Há música, há discursos, há foguetes e vivas.

Os oradores, em frases altissonantes retraçam a vida operosa e benfazeja do herói. Outros, mostram a caridade, o seu corações generoso, os rasgos de sua dedicação. Mas a estátua permanece velada.

Lê-se no olhar da multidão o desejo de contemplar o herói, de admirar a sua fronte serena, de penetrar, como pelos seus lábios, até o seu grande coração.

E os oradores falam, exaltam, suscitam nos ouvintes um fremido de entusiasmo. Enfim, é a hora de tirar o véu, de revelaro grande homem.

Os braços se estendem... as mão se preparam... os olhos dardejam chamas, as bocas se abrem.

O véu cai... A imagem aparece em toda a sua beleza. Os seus traços se revelam, enquanto mil mãos batem palmas e mil vozes lançam retumbantes vivas!

Caiu o véu!
A estátua fica desvelada.
O herói está revelado.

Eis o que é a revelação divina.

Lá estava Deus, grande, majestoso, mas velado... deixando aparecer contornos de sua majestade, nas obras de sua mão, no universo. Mas ele vai ser revelado, vai cair o véu.

Um canto do véu caiu já no paraíso terreno: é a primeira revelação. Outro canto caiu no Sinai: é a segunda revelação.

Enfim, o véu cai inteiro: e nos aparece o Cristo, Deus e Homem, falando ao mundo e revelando-lhe os mais íntimos segredos de sua natureza e da sua vida. É a grande revelação. A revelação completa da religião.

A razão viu a estátua em seus traços gerais. A revelação fez cair o véu e Deus apareceu, tão visível quanto pode ser visível a olhos humanos a deslumbrante grandeza de Deus.