sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Liga Católica

Neste primeiro número do Lutador merece lugar de honra a fotografia da Liga Católica de Manhumirim. A Diretoria, composta de homens de destaque em nossa sociedade, constitui um elemento de progresso e de dignidade, do qual se pode esperar tudo o que é grande e nobre.

A Liga católica, cuja finalidade é a prática leal e briosa da nossa santa religião, a defesa dos seus sagrados princípios, e o realce das suas cerimônias, já conta com mais de 320 homens.

E este número é apenas um começo.

Em Breve contará seus 500 homens decididos, firmes, que proclamarão bem alto o espírito religioso do povo mineiro, e entre este povo, dos habitantes de Manhumirim.

A concorrência das festas, a freqüência dos ofícios religiosos aos Domingos, a assistência numerosíssima no mais perfeito recolhimento, as conferências semanais dos homens, são provas cabais da vitalidade da religião de Jesus Cristo, e do sopro vivificador que passou por entre os católicos, depois das polêmicas com os protestantes.

Como Deus sabe servir-se do mal, para faze-lo concorrer à realização dos seus planos!

Estávamos numa paz relativa – numa espécie de entorpecimento religioso – o protestantismo julgou a hora oportuna de espalhar os seus erros e seu espírito de revolta contra a Igreja do Cristo – e eis que a pedra que eles atiraram contra esta Igreja recaiu sobre eles e está esmagando-os sob o seu peso.

Não somente a Igreja Católica saiu incólume da peleja, mas saiu radiante, resplandecente, fulgurante; mostrando de um lado a sua fecundidade, a sua santidade, o seu eterno triunfo, e de outro lado, mostrando a perfídia, a hipocrisia e a supina ignorância dos seus adversários: os tais pastores intrusos e mercenários.

O feitiço virou contra o feiticeiro.

Em vez de abalar a fé dos católicos, esta fé arraigou-se, solidificou-se extraordinariamente; e muitos católicos, já meio seduzidos pelo erro, voltaram ao rebanho único e verdadeiro da Igreja Católica, sem falar dos muitos protestantes que renunciaram a seus erros tornando-se de novo filhos dedicados da Santa Igreja.

É sobre as ruínas ainda fumegantes da protestantismo que se fundou a bela Liga Católica, isto é: a união dos católicos verdadeira, para defenderem a sua fé e a fé dos seus filhos, e continuar a repelir, com desassombro, o erro e a revolta de Lutero.

É como órgão desta reação que nasceu O Lutador, que será como o lábaro, o porta-voz, o clarim da Liga Católica, espalhando as suas obras, as suas iniciativas e o seu entusiasmo.

Eis a nossa Liga Católica

É uma força... é um exercício de valentes cujo estado maior é constituído pela Diretoria, tendo à sua frente o Vigário da freguezia[1], ou melhor, o próprio Bispo que ele representa.

Os nossos homens estão de parabéns! O triunfo é nosso, porque temos para nós a Verdade, o auxílio do Altíssimo, a virtude e o número.

E tudo isso é como a desforra dos ataques insensatos dos protestantes.

Hoje o catolicismo de Manhumirim não é mais um catolicismo adormecido, latente; é uma fé vibrante, estuasiasta, empreendedor, conquistador... é um fogo que quer espalhar-se, e há de espalhar-se.

A prova está no belo e fecundo movimento religioso da paróquia.

Além dos 320homens da Liga a paróquia conta com 250 associados do coração de Jesus, 80 membros da Cruzada Eucarística, 60 filhas de Maria e um centro de Catecismo com 215 crianças.

E tudo isso progride, desenvolve-se e há de duplicar-se, com a graça divina.

Eis a nossa força espiritual.

Tudo isso é belo, é grande, e tudo isso indica claramente o dedo de Deus.

Continuamos, decididos e unidos, e breve desaparecerá de Manhumirim a triste e decadente seita do protestantismo, para só deixar subsistir um só rebanho e um só pastor, a unidade da fé, no seio da Igreja Católica: fiet unum ovile et unus pastor, como diz São João (10, 16).

Eis o ideal da Liga Católica. A união faz a força. O catolicismo é a religião da união, como o protestantismo é a seita da desunião.

Continuemos unidos e seremos fortes da força divina, desta força que sempre triunfa, e cujo triunfo é a coroa eterna (II Tm 4, 7).

Eis porque figura neste primeiro número a fotografia dos homens da Liga Católica. Tal fotografia dos homens da Liga Católica.

Tal fotografia é um programa... é um ideal... é um exemplo... é sobretudo um triunfo. O triunfo do Cristo!

Deo Gratias, qui triumphat... nos in Christo Jesu. (II Cor 11,14)

P. Júlio Maria



[1] NdE: Freguezia, na nomenclatura eclesiástica da época, equivale à paróquia.

domingo, 20 de setembro de 2009

Apreciação dos escritos do Pe. Júlio

A revista Lar Católico, da Congregação dos Missionários do Verbo Divino, a propósito do livro Polêmicas de Doutrina, de Ciência e de Bom Senso (1933), dedicou-lhe a seguinte apreciação:

O Rvmo. Pe. Julio Maria tem uma pena terrível – digam-no os protestantes, espíritas e outros adversários da religião católica. Metam-se com ele, para verem o que fica de suas doutrinas. Este livro, mais um primor do trabalho apologético do apostolo lutador de Manhumirim, deveria ter a mais ampla divulgação entre as famílias católicas. Quem é hoje o católico que não ouça constantemente as invectivas de um protestantismo rancoroso e arrogante, do espiritismo ímpio e desrespeitador, sem saber ás vezes achar a resposta pronta e acertada? Nesta polemica encontra tudo do que precisa para se orientar no labirinto das objeções contra a Igreja Católica. O Pe. Julio Maria não usa de luvas de pelica. Sua argumentação é forte, radical, decisiva, sem cerimônia, sem dó nem misericórdia. É delicioso ler qualquer uma de suas Polemicas”



SIMÕES, Daniel Soares. O Rebanho de Pedro e os Filhos de Lutero: O Pe. Júlio Maria De Lombaerde e a Polêmica Antiprotestante no Brasil (1928-1944). Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. 2008.

A grafia das palavras foi atualizada segundo a norma atual.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Biografia do Padre Júlio Maria de Lombaerde

3 – Missionário no Brasil

Pe. Júlio Maria estava no auge de seu trabalho de missionário paroquial na França, Bélgica e Holanda, com grandes planos que incluíam seminários para os jovens que procuravam a Congregação da Sagrada Família, muitos roteiros missionários, e a redação e publicação de uma série de livros sobre Nossa Senhora e a maneira de servi-la, quando, sem ele esperar, sem explicações, aparentemente sem razão plausível, ele teve de interromper tudo o que estava fazendo e vir para o Brasil. Seus Superiores religiosos, por motivos que ele nunca soube exatamente quais eram, resolveram enviá-lo para as missões amazônicas. Não seria ele, tão convicto de seu voto de obediência e do mistério da Divina Providência, que iria questionar a ordem recebida ou pedir satisfações. Encerrou o estava fazendo, desfez os compromissos que ainda viriam, arrumou as malas e zarpou para o desconhecido. Não conhecia a língua portuguesa, não sabia praticamente nada sobre o país, não havia sido preparado para a nova missão... mas entregou-se às mãos de Deus e Nossa Senhora. E veio. Despediu-se dos dirigidos e alunos, foi dar um abraço aos familiares, especialmente a Aquiles, o irmão mais novo e embarcou no dia 25/09/1912, junto com os padres Scholl e Burgard e mais dois irmãos religiosos: Micael e Ambrósio.

Foi quase um mês de viagem. Chegaram a Recife dia 15/10/1912. Grande era a apreensão dos cinco "heróis", sem conhecer a língua, sem saber nada dos costumes da terra, missionários despreparados. Pe. Júlio Maria "aprendeu" a língua "só Deus sabe como". (É bom dizer que, depois, reaprendeu-a, e falava e escrevia bastante bem e com absoluta fluência o português, apesar do sotaque às vezes pesado, que não impedia, entretanto, que o povo o entendesse perfeitamente bem.) Antes de partir para Belém, de onde iria para Macapá, seu destino final, passou dois meses e meio em S. Gonçalo, a 15 km de Natal, RN, onde trabalhavam os Padres Paulsen e Belchold, velhos companheiros e irmãos de hábito - quer dizer, de Congregação. Aí aprendeu mais ou menos a falar português e alguma coisa dos costumes da missão. Foi, então, para Belém, PA. (Naquele tempo, Macapá pertencia ao Pará.) Em Belém, ficou hospedado algum tempo com os padres barnabitas (franceses), com quem pôde refazer e completar o curso de português e aprender algo mais sobre o Brasil e seu povo.

Em 27/02/1913, desembarcou afinal em Macapá, onde foi recebido amigavelmente por dois outros irmãos de hábito e bons companheiros, o Pe. José Lauth e o Pe. Hermano. Começou logo seu trabalho. Ele viera para "salvar almas", e era isso mesmo que ele queria fazer. Mas o povo era muito pobre e necessitado de quase tudo em termos de saúde, de instrução, de alimentação. Muita malária, úlceras, gripes, pneumonia... Como o Pe. Júlio tinha certo conhecimento de medicina, começou, juntamente com o trabalho religioso de evangelização, a cuidar também dos corpos, das necessidades materiais das pessoas. Conseguiu tanto que se tornou um ídolo do povo. O Prefeito e outras pessoas importantes da cidadezinha solicitaram ao governo e obtiveram um decreto que outorgava ao Pe. Júlio Maria a administração da farmácia e do posto médico de Macapá. Isto abriu para o missionário as portas das casas de família. E sua presença era tão boa que se tornou amigo e conquistou a simpatia de todos. Ia freqüentemente às escolas e era "adorado" pelas crianças. Em 02/05/1913, foi nomeado, por decreto do Governo do Pará, diretor das Escolas Reunidas, "com todos os direitos e privilégios", inclusive os vencimentos do cargo. Desse modo, ele era o médico, o farmacêutico, o mestre-escola, o amigo e pai dos pobres, o encanto das criancinhas.

Paralelamente a tudo isso, ele rezava muito, administrava os sacramentos, celebrava a missa todos os dias e catequizava. Dava catecismo, de manhã, para as crianças; de tarde, para os jovens e, de noite, para os adultos. Em seu trabalho missionário, visitou vários lugares da Amazônia, foi até ao Tumuc-Humac. Ficava embevecido com a majestade da floresta, mas passou muitas dificuldades. O grande companheiro e amigo era o caboclo Canoza. Rústico, mas fiel, corajoso e conhecedor dos segredos da floresta, era o guia nas caminhadas, defendia os missionários. Salvou o Pe. Júlio num desastre de canoa e, outra vez, matou uma onça brava que investiu contra os padres. À noite, dormia ao pé das redes dos missionários, pronto para levantar-se ao primeiro chamado. Era o sacristão, o guarda vigilante, o amigo de todas as horas.


(Este texto é uma resenha e um rearranjo do livro “Pe. Júlio Maria, sua vida e sua missão”, de Dom Antônio Afonso de Miranda, sdn, o primeiro religioso da Congregação do Pe. Júlio Maria escolhido para ser bispo, hoje Bispo Emérito de Taubaté, SP, e que foi o primeiro biógrafo do seu Fundador.)

[Continua...]

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Carta de Dom Carloto ao Padre Júlio por ocasião da primeira edição de O Lutador



Na primeira edição do semanário católico O Lutador, editado pelo Pe. Júlio e pelos missionários sacramentinos, foi publicada a carta de aprovação e bênção do Bispo à nova empresa:




Manhuaçu, 10 de novembro de 1928

Revmo. Padre Júlio Maria

De coração abençoamos o jornal “O Lutador” que acaba de fundar, pedindo a Deus que ele seja sempre entre suas ....mãos de Apóstolo um paladino intemerato na defesa dos interesses de Jesus Cristo e de sua Igreja.

O novo Lutador será um instrumento eficaz nas mãos deste outro Lutador, o o é V. Revma., para combater o erro, espalhar a luz da verdade e fazer o bem à nossa população, de tanta boa vontade e de tão nobres sentimentos.

Meus parabéns a V. Revma., à católica população de Manhumirim e de um modo especial à bela e simpática Liga Católica dos homens.

Abençoamos o Lutador e estendemos essa bênção à primeira Liga dos Homens, fundada em nossa diocese de Caratinga, com a firme esperança de que o brioso exemplo dos homens de Manhumirim há de excitar muitos imitadores em todas as cidades e igrejas desta nossa Diocese.

Sou de V. Revma. o humilde servo em N. S. Jesus Cristo.

+ Carloto

Bispo de Caratingaque acaba de fundar, pedindo a Deus que ele seja sempre entre suas m


Fonte: Semanário Católico “O Lutador”, n° 1. 25 de novembro de 1928.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Jornal Católico "O Lutador"

No complexo gráfico que é a Editora O Lutador, nasceu primeiro o jornal "O Lutador", em Manhumirim, interior de Minas Gerais. Precisamente no dia 25 de novembro de 1928, saía o primeiro número do semanário, que nunca mais deixaria de viver e lutar pela causa do Evangelho, que em última análise é a causa do homem.

Nas circunstâncias históricas em que foi fundado pelo Pe. Júlio Maria de Lombaerde, o nome "O Lutador" tinha endereço certo e lutas concretas!

A Igreja era acuada publicamente por ataques protestantes, espíritas e maçônicos, e não tinha como defender-se e mostrar ao povo a verdade da fé católica. O Pe. Júlio Maria fundou o jornal para ter esse espaço e poder responder aos ataques que a Igreja sofria. Mais tarde, o espírito ecumênico que tomou conta da Igreja Católica iria mudar essa posição. Passou da polêmica e do anátema ao diálogo.

A linguagem e as intenções, hoje, são outras. Mas a luta pela Igreja e pelo homem, a vontade histórica continua sendo a mesma. Hoje, os adversários do cristianismo são diferentes. Mas estão aí, agressivos e corrosivos, e precisam de encontrar quem não recuse a luta do esclarecimento e do dever do diálogo, por vezes duro.

Com a morte do Pe. Júlio Maria, em 1944, substituiu-o o Pe. José Batista; depois, o Pe. Antônio Miranda (hoje, bispo emérito de Taubaté, SP), a seguir o Pe. Paschoal Rangel e, enfim, o Pe. Sebastião Sant’Ana - todos da Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, fundada pelo mesmo Pe. Júlio Maria. Pe. Paschoal Rangel assumiu a direção editorial em 1967, trouxe o jornal para Belo Horizonte, em 1972, e imprimiu-lhe uma feição nova, procurando manter uma linha de equilíbrio, sem progressismos, sem reacionarismos: uma linha moderada, mas sem medo de tomar posição; esclarecendo e interpretando fatos e idéias, à luz do magistério da Igreja.

O olhar do teólogo e do filósofo católico passou a orientar as páginas de O Lutador. Pe. Sebastião Sant’Ana modernizou ainda mais o jornal, graças às facilidades oferecidas pela Internet, além de acrescentar a publicação de 3 encartes mensais: Cadernos Missionários, Cadernos de Liturgia e Cadernos de Cidadania.

O Jornal circula em 3 edições mensais e é composto de 16 páginas. Traz sessões importantes, como Editorial sobre os temas do momento, Igreja Hoje, Crônicas, Respondendo aos leitores, páginas de interesse das pastorais paroquiais (Família, Catequese, Juventude, Espiritualidade, etc.) e espaço para a manifestação dos leitores.

O jornal é distribuído mediante assinatura anual, diretamente em nossa Livraria Online [http://www.olutador.com.br/] ou pelo telefone 0800-317171. Ligue e receba gratuitamente três edições do jornal, para sua apreciação!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Brevíssimo resumo das contribuições do Pe. Júlio em Manhumirim

O TESOURO HISTÓRICO DA PARÓQUIA DE BOM JESUS.

Conjunto arquitetônico conta a história da fé no município.

O belíssimo conjunto arquitetônico da Paróquia de Bom Jesus de Manhumirim é um símbolo do crescimento da cidade. Seus prédios, a igreja e um seminário não estão exatamente ligados ao surgimento do município, mas ao padre Júlio Maria de Lombaerde, uma das pessoas que mais colaborou para o desenvolvimento da localidade.

A construção da igreja matriz foi iniciada pelo Padre espanhol Frederico de La Barrera. Padre Júlio Maria concluiu o templo e construiu muitas outras coisas nos 16 anos em que permaneceu em Manhumirim.

A Igreja foi inaugurada em 23 de setembro de 1928 e foi a primeira da América Latina a ser erguida em concreto armado. Sua estrutura não tem tijolos, apenas blocos maciços de cimento. O estilo arquitetônico é do 3º Período Gótico.

A princípio, duas coisas chamam a atenção do visitante: a torre frontal, com 70 metros de altura, e o formato losangular do templo. A parte interna tem afrescos das paredes ao teto. São cenas que registram desde o nascimento de Cristo até a Via Crucis. Uma curiosidade é que não se vê os pés de nenhum personagem retratado. Conta-se que o pintor tinha dificuldade para desenhá-los.

O altar, todo trabalhado, encontra-se no vértice central do templo. No vértice direito, fica o túmulo do Padre Júlio Maria. No lado oposto, um púlpito e um órgão antigo. Mais de 20 imagens de santos vindas da Europa estão espalhados pelo templo.






Na foto, a Matriz do Bom Jesus de Manhumirim e o
Seminário Apostólico, à esquerda, pintado de amarelo.