segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Biografia do Padre Júlio Maria de Lombaerde

3 – Missionário no Brasil

Pe. Júlio Maria estava no auge de seu trabalho de missionário paroquial na França, Bélgica e Holanda, com grandes planos que incluíam seminários para os jovens que procuravam a Congregação da Sagrada Família, muitos roteiros missionários, e a redação e publicação de uma série de livros sobre Nossa Senhora e a maneira de servi-la, quando, sem ele esperar, sem explicações, aparentemente sem razão plausível, ele teve de interromper tudo o que estava fazendo e vir para o Brasil. Seus Superiores religiosos, por motivos que ele nunca soube exatamente quais eram, resolveram enviá-lo para as missões amazônicas. Não seria ele, tão convicto de seu voto de obediência e do mistério da Divina Providência, que iria questionar a ordem recebida ou pedir satisfações. Encerrou o estava fazendo, desfez os compromissos que ainda viriam, arrumou as malas e zarpou para o desconhecido. Não conhecia a língua portuguesa, não sabia praticamente nada sobre o país, não havia sido preparado para a nova missão... mas entregou-se às mãos de Deus e Nossa Senhora. E veio. Despediu-se dos dirigidos e alunos, foi dar um abraço aos familiares, especialmente a Aquiles, o irmão mais novo e embarcou no dia 25/09/1912, junto com os padres Scholl e Burgard e mais dois irmãos religiosos: Micael e Ambrósio.

Foi quase um mês de viagem. Chegaram a Recife dia 15/10/1912. Grande era a apreensão dos cinco "heróis", sem conhecer a língua, sem saber nada dos costumes da terra, missionários despreparados. Pe. Júlio Maria "aprendeu" a língua "só Deus sabe como". (É bom dizer que, depois, reaprendeu-a, e falava e escrevia bastante bem e com absoluta fluência o português, apesar do sotaque às vezes pesado, que não impedia, entretanto, que o povo o entendesse perfeitamente bem.) Antes de partir para Belém, de onde iria para Macapá, seu destino final, passou dois meses e meio em S. Gonçalo, a 15 km de Natal, RN, onde trabalhavam os Padres Paulsen e Belchold, velhos companheiros e irmãos de hábito - quer dizer, de Congregação. Aí aprendeu mais ou menos a falar português e alguma coisa dos costumes da missão. Foi, então, para Belém, PA. (Naquele tempo, Macapá pertencia ao Pará.) Em Belém, ficou hospedado algum tempo com os padres barnabitas (franceses), com quem pôde refazer e completar o curso de português e aprender algo mais sobre o Brasil e seu povo.

Em 27/02/1913, desembarcou afinal em Macapá, onde foi recebido amigavelmente por dois outros irmãos de hábito e bons companheiros, o Pe. José Lauth e o Pe. Hermano. Começou logo seu trabalho. Ele viera para "salvar almas", e era isso mesmo que ele queria fazer. Mas o povo era muito pobre e necessitado de quase tudo em termos de saúde, de instrução, de alimentação. Muita malária, úlceras, gripes, pneumonia... Como o Pe. Júlio tinha certo conhecimento de medicina, começou, juntamente com o trabalho religioso de evangelização, a cuidar também dos corpos, das necessidades materiais das pessoas. Conseguiu tanto que se tornou um ídolo do povo. O Prefeito e outras pessoas importantes da cidadezinha solicitaram ao governo e obtiveram um decreto que outorgava ao Pe. Júlio Maria a administração da farmácia e do posto médico de Macapá. Isto abriu para o missionário as portas das casas de família. E sua presença era tão boa que se tornou amigo e conquistou a simpatia de todos. Ia freqüentemente às escolas e era "adorado" pelas crianças. Em 02/05/1913, foi nomeado, por decreto do Governo do Pará, diretor das Escolas Reunidas, "com todos os direitos e privilégios", inclusive os vencimentos do cargo. Desse modo, ele era o médico, o farmacêutico, o mestre-escola, o amigo e pai dos pobres, o encanto das criancinhas.

Paralelamente a tudo isso, ele rezava muito, administrava os sacramentos, celebrava a missa todos os dias e catequizava. Dava catecismo, de manhã, para as crianças; de tarde, para os jovens e, de noite, para os adultos. Em seu trabalho missionário, visitou vários lugares da Amazônia, foi até ao Tumuc-Humac. Ficava embevecido com a majestade da floresta, mas passou muitas dificuldades. O grande companheiro e amigo era o caboclo Canoza. Rústico, mas fiel, corajoso e conhecedor dos segredos da floresta, era o guia nas caminhadas, defendia os missionários. Salvou o Pe. Júlio num desastre de canoa e, outra vez, matou uma onça brava que investiu contra os padres. À noite, dormia ao pé das redes dos missionários, pronto para levantar-se ao primeiro chamado. Era o sacristão, o guarda vigilante, o amigo de todas as horas.


(Este texto é uma resenha e um rearranjo do livro “Pe. Júlio Maria, sua vida e sua missão”, de Dom Antônio Afonso de Miranda, sdn, o primeiro religioso da Congregação do Pe. Júlio Maria escolhido para ser bispo, hoje Bispo Emérito de Taubaté, SP, e que foi o primeiro biógrafo do seu Fundador.)

[Continua...]

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