quinta-feira, 8 de outubro de 2009

[Comentários Apologéticos] O Depósito da Revelação

4º Domingo do Advento (Segundo a forma extraordinária do Rito Romano)


Evangelho: Lc 3, 1-6

1. No ano décimo quinto do reinado do imperador Tibério, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca da Abilina,

2. sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra do Senhor no deserto a João, filho de Zacarias.

3. Ele percorria toda a região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados,

4. como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías (40,3ss.): Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.

5. Todo vale será aterrado, e todo monte e outeiro serão arrasados; tornar-se-á direito o que estiver torto, e os caminhos escabrosos serão aplainados.

6. Todo homem verá a salvação de Deus.

Comentário Apologético

O Evangelho de hoje é uma introdução majestosa ao grande acontecimento do nascimento de Jesus Cristo.

A figura saliente deste belo quadro é João Batista, pregando o batismo de penitência como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías.

Esta frase nos mostra que o Precursor não pregava uma doutrina nova, pessoal, mas ia tirando do depósito da revelação tudo o que ensinava.

Nós também temos este depósito, o mesmo, porém, mais completo do que o de João Batista.

Para ele havia a revelação divina, feita a nossos primeiros pais, a Moisés e aos profetas, enquanto além disso nós temos as palavras de Jesus Cristo e dos Apóstolos.

Meditemos hoje sobre este assunto, considerando a dupla fonte da Revelação, formando um único depósito, a saber:

  1. A Sagrada Escritura;
  2. A Tradição Católica.

Teremos, deste modo, uma idéia clara sobre o fundamento da religião e sobre a firmeza imutável dos seus princípios.

I – A Sagrada Escritura

As verdades reveladas e os preceitos impostos pela revelação estão contidos na Sagrada Escritura e na Tradição.

A primeira parte da Sagrada Escritura, a que chamamos Antigo Testamento, contém as revelações feitas antes de Jesus Cristo; enquanto o Novo Testamento contém as revelações feitas pelo próprio Jesus Cristo e pelos Apóstolos.

Temos a plena certeza da integridade e autenticidade da Sagrada Escritura, pela autoridade infalível da Igreja, que demonstraremos mais adiante.

Notemos bem que a Sagrada Escritura é a Palavra de Deus, escrita sob a inspiração do Espírito Santo, tendo Deus por autor, e transmitida como tal pela Igreja. (Conc. Trento: De fide, II).

Sendo a Bíblia a palavra de Deus, não é a aprovação da Igreja que faz que seja a palavra de Deus. A Igreja infalível, para todo equívoco ou dúvida da parte de seus filhos, declara que tal livro, e não um outro, é Sagrada Escritura, e portanto a palavra de Deus.

A Igreja proclama um fato, mas não é a causa deste fato.

Sabemos e cremos, por exemplo, que o Evangelho contém a vida, atos e doutrinas de Jesus Cristo, mas qual entre os vários livros, que tem este nome, é o Evangelho autêntico?

É a autoridade infalível da Igreja que nos dá a certeza. Sem esta autoridade, o Evangelho será sempre a palavra de Deus, mas ninguém saberá distinguir o Evangelho verdadeiro.

Nossos sentimentos para com a Sagrada Escritura devem ser de respeito profundo, pois devemos o mesmo respeito à palavra de uma pessoa que à própria pessoa.

É Deus que levou tal homem a escrever, instruindo-o do que devera escrever, sugerindo-lhe o fundo das verdades e o modo de dizê-las, conduzindo-o pela graça de modo que não pode errar. Tudo o que escreveu tem por autor o próprio Deus, sendo, pois, a Sagrada Escritura: a palavra de Deus.

II – A Tradição

A Tradição, rejeitada ilógica e anti-biblicamente pelos protestantes, é também a palavra de Deus, a sua palavra não escrita por homens inspirados, mas transmitida oralmente e escrita depois pelos católicos dos primeiros séculos.

Não pode existir dúvida a respeito da existência da tradição, pois é certo que tudo o que fez ou disso o Salvador, não foi escrito, como no-lo afirma São João, no fim de seu Evangelho: Muitas outras coisas há que fez Jesus, as quais, se se escrevessem, nem o mundo todo poderia conter os livros que seria preciso escrever. (Jô 21, 25)

São essas coisas que Jesus disse e fez e que não foram escritas, que chamamos Tradição.

São Paulo escreve aos tessalonicenses: Permanecei firmes e guardai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras ou por nossa carta (2 Tess 2, 14)

Esta recomendação do Apóstolo prova que ele não ensinara tudo por escrito, mas que pregou muitas coisas que não chegou a escrever.

Ora, compreende-se que uma palavra falada de uma pessoa tem tanto valor quanto à sua palavra escrita. É a mesma palavra: o que difere é apenas o meio de transmissão.

Aqui de novo deve intervir a autoridade infalível da Igreja, para declara qual tradição em particular vem de Jesus Cristo ou dos Apóstolos.

Ao comparar essas duas vias de transmissão da palavra de Deus, pode-se dizer que a Tradição é a mais importante, porque sem ela quem nos certificará da integridade dos Evangelhos e outros livros sagrados?

Quem nos indica com certeza o sentido de certas passagens obscuras na Bíblia? A tradição, recolhida pela Igreja.

Quem ensinou a religião de Cristo antes de serem escritos os Evangelhos? A Tradição.

O Salvador deu aos Apóstolos a missão não de escrever a sai palavra, mas de prega-la a todas as nações. (Mc 16, 15)

Conclusão

Tal é o grande depósito da Revelação: a Sagrada Escritura e a Tradição; sendo a primeira escrita por inspiração divina, e a segunda pregada pela mesma inspiração, conservada oralmente pelos primeiros fiéis que a transmitiram de pai para filho, até que foi escrita por sua vez pelos escritores da Igreja, eu a recolheram, sem assistência especial do Espírito Santo, mas por amor à verdade.

Este depósito é guardado e apresentado pela autoridade infalível da Igreja, sendo esta mesma autoridade que nos apresenta a Tradição, pela voz do Papa, dos Concílios ou escritos dos Santos Padres, pelos Símbolos da fé, a liturgia, a disciplina da Igreja e os monumentos religiosos dos primeiros séculos.

Este depósito sagrado devia, necessariamente, ser confiado a uma sociedade, cuja finalidade é conserva-lo íntegro, interpretar e aplicar estas revelações, conforme a ordem recebida do Divino Mestre: Ide, ensinai todas as gentes a observar todas as coisas que vos mandei... e eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos. (Mt 28, 19)

Sem este depósito a religião não teria continuidade de existência, nem laço que a prendesse a Deus.

Exemplos

1. Em plena água doce

Pobres náufragos, recolhidos em uma canoa, faziam sinais desesperados a um grande vapor americano que passava ao largo. Foram percebidos e socorridos. Estavam morrendo de sede, e com a voz fraca diziam: ‘Dá-nos de beber!... água... água...!’

Admirado, o capitão perguntou-lhes se sabiam onde estavam.

-Não! Não sabemos de nada!

Estão na embocadura do Amazonas... Estão morrendo de sede, e não têm senão de estender a mão para beber: estão em plena água doce.

Assim acontece com muitos homens. Querem desalterar a sua sede de religião e não sabem onde encontrar a água doce da verdade... enquanto estão nadando no meio dela, no seio da Igreja Católica, que tem o depósito das verdades divinas na Sagrada Escritura e na Tradição.

2. O Elefante e as tartarugas

O senador de Mohrenheim era católico e embaixador da Rússia cismática perto da corte herética da Prússia.

Um dia atacaram a religião católica em sua presença. O caso era delicado, pois tanto o país que representava quanto a corte onde estava eram inimigos do catolicismo.

O embaixador não desanimou, e não querendo magoar a ninguém, nem deixar insultar a sua fé, pediu licença para fazer uma simples observação, e disse:

“A cosmologia indiana representa o mundo sob a forma de um elefante, tendo as quatro patas em cima de enormes tartarugas. Que é que sustenta as tartarugas? Os indianos não o dizem. O sistema religioso deles está, pois, no ar, sem base: é falso.

“O protestantismo como o Catolicismo apoia-se sobre os quatro Evangelhos... mas sobre o que apóia-se a autenticidade destes Evangelhos? Não admitem nada além do Evangelho... Logo, o sistema deles é tão falso e errado como o dos indianos.

“O catolicismo apóia-se sobre os quatro evangelhos, e estes Evangelhos são sustentados, declarados autênticos, pela Tradição e pela Autoridade da Igreja. Logo, é o único sistema religioso que tem base certa”.

Ninguém replicou a esta demonstração; e até hoje as quatro tartarugas enormes do budismo como do protestantismo continuam suspensas no ar, enquanto o Evangelho católico está seguro e indefectível sobre a Tradição e a autoridade.


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