Mês da Bíblia:
Marcos – um roteiro de viagem tendo Jesus como guia.
Olhar no
retrovisor da história nos ajuda a continuar a caminhada sem perder de vista a
direção. Os primeiros discípulos foram chamados por Jesus e deixaram seus
pertences, famílias, barcos e redes (Mc 1, 16-20), sua fonte de riqueza: Levi
(Mc 2, 13-14). A experiência que fizeram com Ele, mudou completamente suas
vidas. Os bispos reunidos em Aparecida apontam alguns exemplos de encontros com
o Senhor que surtiu efeitos e teve consequências inovadoras: “Nicodemos e seu
anseio de vida eterna (cf. Jo 3,1-21); da samaritana com seu desejo de culto
verdadeiro (cf. 4,1-42); do cego de nascença e seu desejo de luz interior (cf.
Jo 9); de Zaqueu e seu anseio de ser diferente (cf. Lc 19,1-10)… Todos eles,
graças a esse encontro, foram iluminados e recriados porque se abriram à
experiência da misericórdia do Pai que se oferece por sua Palavra de verdade e
vida”. (DAp 249)
A vontade de
Deus e seus caminhos desfizeram os projetos pessoais que Padre Júlio Maria De
Lombaerde tinha, e o tornou um homem sem fronteiras. O encontro com o Pai, nas
longas orações e em contato permanente com a Palavra, o fez capaz de ter
solidez e ser solidário! Acreditou na promessa: “Eu estarei contigo…” (cf. Ex
3,12); “Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome;
sê uma bênção!” (cf. Gn 12,2). O encontro com o Senhor e sua Palavra teve
consequências fortes em sua vida e ações sendo capaz de deixar expressar seus
sentimentos mais profundos diante do que seus olhos viam: “Meus ardentes
anseios eram pegar-me o coração com as duas mãos e jogá-lo transbordando de
ternura e de chamas para esse povo assentado à minha frente…” (Diário Missionário
do Pe. Júlio Maria, p. 126).
Nesse Ano Jubilar
fomos chamados a olhar no retrovisor da nossa história Julimariana para
contemplar, ‘escutar’, ver de novo aquele que teve em vida o coração abrasado
de amor, paixão, ternura, ousadia para nossos irmãos pouco vistos e menos
amados!
O Evangelho de
Marcos (neste mês da Bíblia) nos propõe um
roteiro de viagem tendo Jesus como guia. Esse roteiro ajudou os cristãos em
momentos de crise a não se perder no longo caminho que tinham pela frente.
Na Festa
Julimariana que celebramos em julho foi um momento rico e oportuno de rever
alguns dos muitos roteiros deixados por nosso querido Fundador! Reforçou em
todos e em todas, a convicção que já tínhamos da sua paixão na divulgação da
Palavra, da evangelização! Moldou sua vida em Jesus e a partir de então foi capaz
de fazer várias travessias em diferentes mares sob o olhar apaixonado de Maria.
Ir para o ‘outro lado’ é abrir mão de nossas seguranças, trocar as lentes dos
óculos, e aprender a caminhar num outro ritmo! Só os encharcados de sabedoria,
pela escuta atenta e amorosa de Deus por meio de sua Palavra, passam no teste
desta aprendizagem! Somos filhos e filhas deste grande herói que foi aprendendo
a ser criativo em todas as travessias que fez: “Na França, na Bélgica e na Holanda, pregou com amor e ardor, ousadia
e veemência apostólicas. Fez missões paroquiais numerosas, durante quatro anos,
mobilizando e trazendo à prática religiosa centenas, milhares de pessoas,
reconstituindo famílias,…” (Bibliografia
do Pe. JM); de Recife, Belém, Macapá,
Manhumirim, acolheu, interagiu, inculturou-se, amou, salvou, educou,
evangelizou; fundou: Congregações e obras, tais como: hospital, “O Lutador”,
escolas… para difundir a vida, a saúde e a Palavra evangelizadora.
Padre Júlio
Maria foi interativo e alternativo nas ações, usou de todos os recursos que
ajudou a somar na sua árdua missão. Sabemos da sua ousadia, frente às
escassezes da realidade que o envolvia! Qual era a fonte que abastecia e
alimentava tanta inspiração, coragem, determinação? A sua vida de oração frente
ao Senhor na Eucaristia, a Palavra e a realidade, eram molas mestras do seu ser
e agir! “Pe. Júlio era um homem diante do qual a gente tinha de tomar posição. A
favor ou contra”. (Bibliografia do Pe. JM). Sua autoridade era alicerçada e
configurada na escuta da Palavra de Deus, abastecido na Eucaristia e guiado
pelas mãos amorosas de Maria.
O grande
apaixonado por Maria, desejoso de fazer comungar dos valores eucarísticos,
deixa esse legado precioso para nós em um de seus escritos: “Há nesse mundo, a
mesa da intimidade, onde se reúnem os membros de uma família. Há também a mesa
festiva, em redor da qual se reúnem os amigos na alegria de seus encontros. […]
Mas há, na Igreja uma mesa única, que se chama a Mesa Sagrada, onde não se
assenta, mas ajoelha-se, de mãos postas, de olhos baixos e coração pulsando de
fé e amor, por causa da santidade, da divindade do alimento que é servido”.
(Comentário Dogmático, Pe. JM, p. 217). Em outra passagem ele continua falando
da eucaristia baseado em Orígenes: “Tomando um alimento inferior, ele se muda
em nós; mas sendo este alimento de uma natureza mais excelente, nós somos
mudados nele”. (Comentário Dogmático, Pe. JM, p. 220).
Celebrar os 100
anos de sua chegada ao Brasil é celebrar sua audácia, sua paixão, sua entrega
encharcada de amor a Deus, ao povo, aos pobres.
E como missionário, pisando em terras estranhas, teve a humildade,
sabedoria e atitudes contemplativas da vida do povo. “A pergunta que esquentava
sua cabeça e ardia em seu coração era: o que poderia ser e fazer para ganhar o
coração desse povo” (cf. ‘O Lutador’, dez. 2011).
[Retiro
preparado pela Equipe de Espiritualidade e Formação Continuada das Irmãs
Sacramentinas de Nossa Senhora]
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