sábado, 6 de junho de 2009

[Comentários Apologéticos] Introdução, um pouco extensa, mas necessária, para os sacerdotes

Peço aos queridos sacerdotes lerem esta introdução: nada de novo lhes ensinará, talvez, porém relembrar-lhes-á umas verdades práticas que facilmente ficam sepultadas no esquecimento.

I – Razão de ser deste trabalho

Um comentário apologético do Evangelho Dominical é quase uma novidade nas homilias, tanto estamos acostumados a ver apenas: comentários literal, dogmático e moral.

Em tempos idos, tais comentários eram suficientes, porque as crianças recebiam dos pais a instrução necessária para firmar sua fé e não deixar dúvidas em seu espírito. Deste modo, podia o sacerdote enxertar, sobre estas noções, comentários evangélicos, dogmáticos e morais, que eram compreendidos porque encontravam alicerces.

Hoje, infelizmente, estamos numa época de ‘falta de tempo, de gesto e de espírito religioso produtivo’, de modo que raros são os pais que ensinam a doutrina católica a seus filhos; uma mãe cristã ensina ainda a rezar, ministra-lhes umas verdades fundamentais, porém, muitas vezes de modo superficial, mal assimilado, feito às pressas, sem deixar uma convicção sólida no espírito da criança.

Este trabalho fundamental e básico da convicção tem que ser feito pelo sacerdote, no púlpito, nas homilias do Domingo ou no catecismo de perseverança.

Para muitos, a religião é uma espécie de opinião, iguais às opiniões sociais ou políticas: tomam o que lhes agradam, rejeitam o que não agrada e duvidam de uma doutrina que mal conhecem.

Para reagir contra esse abuso e retificar esta idéia falsa de religião, é preciso preparar a inteligência e a vontade para a aquisição de um espírito de fé, mais intenso e mais ativo. É tal preparação que se faz pela Apologética.

II – O que é Apologética?

É a demonstração da verdadeira religião contra todos os seus adversários, quer sejam incrédulos, quer sejam heréticos.

O grande ponto de controvérsia está nesta questão: É ou não é verdade a doutrina da Igreja Católica?

Esclarecidos pela fé, nós católicos respondemos: Sim, é a pura e imutável verdade!

Mas os adversários tem o direito de pedir provas de uma afirmação tão categórico.

Estas provas são dadas pelo ensino apologético.

Há no mundo um fato público, visível e inegável para todos: é a existência da Igreja Católica, que ao longo dos séculos proclama bem alto: Eu sou a única Religião Verdadeira! Aquele que crer em mim se salvará. Aquele que me rejeitar, será rejeitado por Deus!

Para nós, católicos, tal verdade não se discute: é de absoluta certeza. Infelizmente, há alguns que ignoram e outros que negam tal verdade.

A uns e outros a apologética dá uma resposta. Tal resposta, para ser completa, deve apresentar três partes em sua demonstração:

1) O fundamento

2) Os meios

3) Os fatos

O fundamento compreende:

  • A existência de Deus
  • A Imortalidade de Deus
  • A Providência Divina
  • A Lei Natural
  • A necessidade da religião

Os meios de demonstração são: os milagres e profecias, provando que a religião cristã foi divinamente revelada, e divinamente provada pelos milagres.

Os fatos são:

  • A existência da religião cristã
  • A sua admirável história
  • A sua preeminência sobre as demais religiões
  • A aplicação das profecias
  • Os milagres do antigo e novo testamento

Uma vez provado que a religião cristã é a única religião divina, torna-se fácil provar que essa única religião é conservada e ensinada pela Igreja católica, tendo, ela só, inscritos na fronte os característicos de Jesus Cristo.

Nesse novo quadro vem agrupar-se sucessivamente:

  • Os erros das seitas dissidentes,
  • O papado no Evangelho
  • A necessidade da infalibilidade
  • A hierarquia da Igreja
  • O Papado e a Eucaristia

É tudo isso que vamos por nessas instruções apologéticas.

III – O preâmbulo da fé

Os teólogos chamam a Apologética o preâmbulo da fé. Vejamos a razão e a certeza desta denominação.

Muitos pregadores queixam-se da inutilidade de seus sermões e conferências. Pode haver nesta queixa muita humildade, que ignora o bem produzido, pode haver também muita verdade.

Estará, talvez, o assunto bem adaptado às necessidades do presente? Estamos atravessando uma crise de caráter e, portanto, de fé.

A fé, embora sincera, é muitas vezes fraca, vacilante, porque não tem base. A fé é uma virtude sobrenatural, porém, no homem, o sobrenatural está como enxertado no natural.

Faltando a disposição natural na pessoa, o sobrenatural não encontra base sólida, e afora um milagre, não se sustenta. É fácil analisar isso. Basta analisar o ato de fé.

A fé completa percorre três etapas:

  • A credibilidade (é crível)
  • A credidade ou conveniência (convém crer)
  • A fé propriamente dita (creio)

A fé deve apresentar-se com títulos sérios ou credenciais, que mostram que esta ou aquela verdade é crível: são os motivos da credibilidade.

À vista destas credenciais, o espírito convence-se especulativamente de que deve crer em tais verdades críveis: é o assentimento de simples credibilidade.

Depois, saindo da ordem teórica, o espírito passa à determinação prática, e diz: Se tal coisa é crível, convém, pois, crer! São os atos de credidade.

A vontade, então orientada pela inteligência, faz o ato livre de fé: É crível, convém crer, creio!

IV – O ato de fé

Estes três atos que acabamos de assinalar encadeiam-se, e não podem ser separados.

Para que a fé penetre numa alma é preciso recorrer aos motivos que iluminam a inteligência e estimulam a vontade: são os motivos de credibilidade.

Os motivos de credidade são uma espécie de impulso dado à vontade para crer: convém Crer!

A vontade tira a conclusão e diz: creio. – é o ato de fé.

A graça divina intervém nestas várias operações para iluminar a inteligência e inspirar a parte afetiva; ela é menos necessária talvez para a credibilidade, mas absolutamente necessária para a credidade (convém crer) e para a adesão final: creio.

O motivo da fé é a autoridade de Deus revelador; o meio ordinário e a regra comum é a autoridade da Igreja.

Pode-se comparar essas três etapas da fé às três etapas da impressão de um livro.

  • O censor do livro diz: nihil obstat. É bom, não há impedimento.
  • O Bispo diz: Imprimi potest: pode ser impresso...
  • O autor, entregando o livro à tipografia, tira a conclusão e diz: Imprimatur. Seja o livro impresso.

Em suma, esses três atos são: É bom – Convém – faço!

Assim o homem ouvindo uma exposição apologética, aprende os motivos de credibilidade: É crível. A sua vontade instruída diz logo: Creia pois! (credidade) e, estimulada pela graça e pela inteligência, a vontade exclama: Creio, Senhor!

V – Necessidade da Apologética

Bem compreendido o que acabamos de dizer do ato de fé integral, podemos, com segurança, tirar uma conclusão de grande alcance.

A falta de fé sólida e convicta é o grande mal da nossa época.

É preciso, não simplesmente ensinar a doutrina, o dogma, a moral: é preciso, antes de tudo, argumentar e fundamentar a fé.

Ora, o caminho desta fé integral é o que já chamamos – introduzir nos espíritos os preâmbulos da fé.

Estes preâmbulos são a Apologética, contendo:

  1. Os motivos de credibilidade, mostrando as raízes, as belezas, os atrativos, o lado racional das verdades religiosas: é preciso mostrar que a religião é crível.
  2. É preciso deduzir destas noções a necessidade de abraçar e praticar esta religião, pelos motivos de credidade ou conveniência. Se a religião é crível, convém crer nela.
  3. Só depois desse preparo do espírito e da vontade haverá um ato de fé integral, baseado de um lado sobre o conhecimento da religião, e de outro lado sobre a autoridade de Deus, revelador da Religião.

Assim sendo, o primeiro ensino a dar aos fiéis é o ensino apologético: donde a necessidade de um curso completo sobre o assunto, durante o ano inteiro, na pregação dominical.

VI – Conclusão

Concluímos que o presente curso de Apologética é de incontestável necessidade, para preparar as almas ao dom da fé, que lhes mostra a religião, não mais como uma simples opinião, mas como uma verdade revelada por Deus.

A exposição dessas verdades, longe de ser árida, como uns pensam, excita nos ouvintes um imenso interesse de conhecer melhor a religião e de praticá-la integralmente.

Fruto de longa experiência no púlpito e na administração paroquial, o presente livro não tem outra ambição senão de ajudar os zelosos sacerdotes no desempenho de sua atrelada e às vezes espinhosa missão de instruir os fiéis e de excitar neles uma fé sincera, fundada e ativa.

Nada de novo ensina, é certo, aos sacerdotes, porém coordena, divide, adapta e deduz do Evangelho, numa ordem lógica, umas tantas verdades, que não se nota à primeira vista, mas cuja explanação relembrará aos pregadores o que sabem e lhes mostrará o modo prático de expor estas verdades ao povo.

Seja este livro nas mãos do nosso clero zeloso, um instrumento para a salvação das almas, é a única aspiração do autor.

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