Pe. Júlio Maria De Lombaerde, sdn
Hoje é a grande
festa da Eucaristia!
É a festa do
triunfo eucarístico no mundo e nas almas: no mundo, pelas procissões solenes
que se fazem em toda parte; nas almas pela comunhão fervorosa deste dia.
‘A minha carne é
verdadeiramente comida’, diz o salvador. ‘E quem comer a minha carne fica em
mim, e eu nele – quem comer este pão viverá eternamente’.
Meditemos hoje
estas palavras divinas, tão expressivas e tão divinamente ternas.
Jesus é o nosso pão...
o pão que dá a vida eterna.
Nos queremos a
vida eterna: é preciso, pois, recorrer a este pão divino, e excitar em nós uma
espécie de fome espiritual por este pão dos anjos.
Dar ao homem
mortal uma vida eterna é operar nele uma completa transformação.
É esta
transformação que vamos considerar hoje, vendo:
1º O pão transformador.
2º O pão de cada dia.
I – O pão transformador
Sendo o corpo de
Jesus Cristo o alimento da nossa alma, o seu primeiro efeito é ser transformado
em nosso corpo e sangue; porém há um segundo efeito, divinamente terno, é que o
alimento por sua vez nos transforma.
O gênero de
alimentos contribui a formar as raças, e se contribui para este efeito geral,
produz necessariamente efeitos sobre cada indivíduo em particular.
É um fato, hoje
muito estudado e verificado, que tal alimento desenvolve a força dos músculos,
tal outro o vigor do cérebro, um provoca uma vida intensa, o outro uma ação
pacífica.
A divina
Eucaristia é o alimento que deve formar uma raça divina.
A graça é
chamada por São Pedro: ‘uma participação à natureza divina’ (2Ped 1,4).
Chama-se
natureza de um ser: o princípio de sua atividade.
Pela graça
adquirimos pois a possibilidade de agir divinamente, de fazer obras
sobrenaturais, merecedoras de vida eterna.
E aqueles que
agem desse modo constituem verdadeiramente uma raça divina: genus electum, diz São Pedro (1Ped 2,9).
Somos da linhagem de Deus, como diz São Paulo. Ipsus enim ET genus sumus (At 17,28).
***
O próprio corpo
não fica estranho a tal transformação, nem pode ficar, pois o corpo e a alma
formam uma única pessoa, e esta pessoa participa necessariamente das
transformações da alma e do corpo.
Reflitamos bem. É
o corpo que recebe realmente Jesus Eucarístico e o conserva durante a sua
passagem, infelizmente tão curta.
Ora, um tal
contato não pode ficar sem efeito.
Logo,
divinizando a nossa alma, a Eucaristia deve comunicar qualquer coisa dessa
divinização a nosso corpo.
Durante a sua
vida, Jesus Cristo curava os doentes pelo contato da sua mão; tocando-nos pelas
santas espécies, porque não santificaria nossas lutas e abrandaria nossas
inclinações malignas?
O estado normal
da alma é a união com o corpo.
É preciso, pois,
que o corpo participe de qualquer modo às influências da alma.
A alma
pervertida comunica ao corpo qualquer coisa de duro, de irrequieto; enquanto a
alma divinizada pela graça lança sobre o semblante do homem uma irradiação de
bondade e paz.
Um dia o nosso
corpo tem de ser unido de novo à alma; é preciso pois que este corpo adquira a
aptidão de ser o companheiro adequado da alma, partilhando a sua felicidade e a
glória, e reformando a personalidade única, resultante da união do corpo e da
alma.
II – O pão de cada dia
O que acabamos
de ver sobre o papel transformador da Sagrada Comunhão, é o bastante para
compreender a necessidade de recebê-la com freqüência.
A alma, tão bem
como o corpo, tem continuamente forças a refazer, elementos malsãos a eliminar,
por a vida da natureza continua a existir, e procura, pela lei das oposições, a
sufocar a vida sobrenatural, que é o seu antagonista.
O pão material
de cada dia é uma necessidade, porque além das forças a refazer, por dentro,
pelo gasto da atividade, temos de resistir a mil micróbios que nos espreitam de
fora, e ameaçam a estrutura do nosso organismo.
O pão espiritual
devia ser, por sua vez, de cada dia, pois temos também, por dentro, forças que
se perdem e que devem ser restituídas, como temos por fora milhares de
micróbios de perdição que procuram roer a nossa alma e lançá-la no abismo da
tríplice concupiscência, como é a inclinação da carne, a volúpia dos olhos e o
orgulho da vida.
Eis porque o
mestre divino nos faz pedir o pão de cada
dia.
Este pão é Deus!
É Ele que deve
alimentar o elemento divino em nós, para conservá-lo em sua força dominadora.
Todo cristão, em
estado de graça, tem pois o direito de desejar, como tem a obrigação de pedir
este pão divino. Deve recebê-lo, não obstante o seu pouco valor pessoal, em
vista das suas necessidades prementes da vida sobrenatural.
Ah! Não digais:
Isto é o ideal?
É o ideal, sim;
mas dizei-me: qual é a condição normal de um homem divinizado? Não é o ideal
divino?
O que é divino é
necessariamente ideal: a mediocridade seria para ele uma decadência. É certo,
infelizmente, há muitos cristãos medíocres, porém, não é por direito, é por
decadência.
Examinemos se os
obstáculos materiais que talvez nos privam da comunhão freqüente são deveras
invencíveis. É um dever nosso, procurar antes de tudo, o reino de Deus em nossa
alma.
Quantos motivos
mesquinhos, quantas ilusões estreitas nas desculpas, nós costumamos apresentar
para eximir-nos da mesa sagrada!
Deus nunca exige
o impossível. Se pois ele nos faz pedir o pão de cada dia, é porque há
possibilidade de recebê-lo.
III – Conclusão
As festas
eucarísticas de hoje devem excitar em nós, o desejo de cooperar na grande obra
da glorificação de Jesus Sacramentado, glorificação social, pública, e
glorificação individual, pessoal, que se deve operar pela recepção da Sagrada
Comunhão.
Sentimos por
demais a necessidade de uma transformação
em nossa vida, e tal reforma deve realizar-se pela recepção do pão
transformador, que nos põe em contato com Deus.
E como tal obra
é de todos os dias, precisamos recorrer à comunhão freqüente. A comunhão deve
ser o pão de cada dia, para que cada dia tenhamos a força de vencer os inimigos
da nossa alma.
Um pouco de boa
vontade e todos os clamores da indolência, do interesse e do respeito humano
calarão diante da necessidade e do amor.
A necessidade
deve impelir-nos; enquanto o amor nos deverá atrair.
É na mesa
eucarística que está a salvação das almas e do mundo.
[In Comentário Eucarístico do Evangelho Dominical, págs 242-247]
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