sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Segredo da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria [VII]



CAPÍTULO IV
O MEIO DE UNIÃO A JESUS

Depois de mostrar a meta e o caminho que conduz até lá, é preciso indicar o meio. Indiquemo-lo desde já. Este meio é Maria Santíssima.

O papel de Maria é gerar Jesus Cristo em nós.  Provemos esta verdade, estudando como se faz tal gestação.

Esta função encerra toda a economia de sua intercessão e da sua mediação, e resume as questões mais profundas de nossa santa religião.

Embora seja um ponto um tanto filosófico, não devemos, entretanto, preteri-lo.

Para mostrar que tudo devemos a Maria, e que tudo nos vem por meio d’Ela, podemos apoiar-nos sobre este axioma: “Causa causae est causa causati”. Isto é, a uma causa se deve atribuir não somente o que ela mesma opera, mas também tudo o que ela faz operar pelos outros.

Jesus feito Homem é o Nosso Salvador. E é d’Ele que nos chega toda graça. Ele é a causa imediata e eficiente de nossa salvação.

Mas foi por Maria que Ele se fez Homem. Foi como Salvador e Senhor que Maria O concebeu e O deu à luz.

Logo, Maria é a causa mediata e moral de nossa salvação, já que, segundo o desígnio divino, sem Ela, estaríamos privados do Salvador.

“Do mesmo modo que Eva pela desobediência foi causa de sua ruína e da ruína de todo o gênero humano, – diz Santo Irineu – assim Maria, pela obediência, é a causa da sua salvação e da salvação de todos os homens” – Santo Irineu – Adversus haereses, III. C. XXXIII.

I. O que é graça
Para compreendermos a mediação de Maria e a glória inefável que d’Ela lhe advém, é preciso que tenhamos uma noção exata do que seja graça.

A graça – dizem os teólogos – não é uma substância. Não pode subsistir em si mesma, como a brancura de uma casa, o perfume de uma flor, a beleza de um quadro, não podem subsistir sem esta casa, sem esta flor, ou este quadro, dos quais são qualidades.

A brancura é um acidente, um modo de ser, uma qualidade da casa; o perfume é uma qualidade da flor; a beleza, uma qualidade do quadro. Assim, a graça é uma qualidade de nossa alma.

É a qualidade que a torna agradável a Deus. Ou, sob outro ponto de vista, um acidente que a dispõe para operar de modo sobrenatural.

A graça atual é, de fato, qualidade sobrenatural que nos faz agir de um modo sobrenatural; ou, ainda, são atos da Providência divina, dispondo as coisas com o fim de nos proporcionar a graça, e finalmente a salvação.

Tal é a graça, quer santificante – também chamada habitual – quer atual.

Pois bem, todas estas graças, Deus no-las dá por Maria Santíssima. É a Virgem sem mancha que no-las distribui. É uma verdade aceita por todos.

A razão é que “a ordem estabelecida por Deus não muda”. Aprouve-lhe dar-nos, por Maria Santíssima, o autor da graça. É preciso, por conseguinte, que todas as graças derivadas desta graça primeira – e todas derivam dela – nos venham por Maria.

É o raciocínio de Bossuet.Montfort diz por sua vez: “Quem quer ser membro de Jesus Cristo deve ser formado em Maria, pela graça de Cristo, que nela está em plenitude, para ser comunicada aos membros verdadeiros do Salvador” – cf. Segredo de Maria.

II. Elevação de Maria
Maria é a tesoureira das graças divinas. Mas, como acabamos de ver, não se distribuem graças como se distribuem moedas. A moeda existe em si mesma, independente de quem a distribui: Mas a graça não subsiste em si; é uma qualidade da alma.

Antes, pois, de dá-la, é mister que o doador a possua primeiro em sua própria alma. Maria é a dispensadora de todas as graças divinas. É ela quem tudo distribui. Logo, é d’Ela esta graça ou vida divina. Não é, sem dúvida, uma porção de sua substância; mas é, verdadeiramente, uma coisa que lhe pertence.

Que suave este pensamento que eleva a Santíssima Virgem a uma altura quase infinita! E não podia ser doutro modo; se,como diz Santo Tomás, é infinita a dignidade da Mãe de Deus, infinita deve ser, também, a sua elevação, pois uma deve ser proporcional à outra.

Sublime elevação!

Todas as graças, quer habituais, quer atuais antes de adornar nossas almas, adornaram a alma de Maria.

A comunicação da graça é, deste modo, uma espécie de contacto de nossa alma com a alma da Virgem Imaculada. Contacto dulcíssimo em que, nossa alma se aquece, ilumina e diviniza.

Compreendeis agora a intimidade que existe entre Deus e Maria, entre Maria e nossa alma? Como dissemos acima, é um círculo perfeito:

De Deus, por Jesus,
a nós, por Maria.
E, nossas relações com Deus:
Por Maria, a Jesus;
Por Jesus, a Deus.

Depois disso, podemos compreender melhor como a graça é verdadeiramente uma participação da natureza divina; participação que se faz por intermédio de Maria.

É a essência mesma da religião. Deus e o homem se encontram. E a Virgem Mãe é o templo em que se efetua este encontro.

Compreendemos, também, agora, as expressões dos santos aparentemente exageradas ao proclamarem a graça da Mãe de Deus superior à de todos os anjos e santos; ao afirmarem que Ela é mais querida de Deus e ama a Deus muito mais que todas as criaturas reunidas.

III. Papel de Maria
Mostremos como se opera a comunicação da graça de Maria Santíssima às nossas almas. Para compreendê-lo, basta que nos lembremos do papel da Santíssima Virgem no mistério da Encarnação; suas funções na distribuição da graça, são as mesmas que neste mistério.

Quando o Verbo se fez carne, foi o Espírito Santo quem formou seu corpo. Maria Santíssima forneceu a matéria, o sangue imaculado, depois de ter consentido que o mistério se realizasse – cf. A. Lhoumeau: – “La vie spirituelle à l’école du Montfort”, obra de profunda e sólida teologia.

Auxílio e consentimento – eis em que consiste, de modo principal, sua cooperação. Deus produz a graça, e Maria concorre como ministro e instrumento; ou, ainda, para nos dispor a recebê-la, ministerialiter et dispositive, segundo o dizer dos teólogos.

Para receber a graça é necessário o concurso e a vontade de Maria Santíssima.

Disse um dia a Virgem Santíssima à sua pequena Serva, Maria Lataste: “Pede-se uma graça, Deus consente, meu Filho concede-a, e eu a transmito”.

Dar-nos a graça, fazer-nos comungar a natureza divina... que é isto senão formar Jesus Cristo em nós, fazê-lo crescer em nós?

Tudo isto mostra, luminosamente, a função de Maria Santíssima na obra de nossa santificação. Que é santidade? A santidade não é outra coisa senão a plena conformação de nossa vontade com a vontade de Deus.

Um notável escritor ampliou esta asserção, dizendo: “A santidade consiste em aderir a Deus, de maneira a ter com Ele um só e mesmo espírito; de maneira a estar penetrado de sua graça, de sua vida, dependente de seus impulsos, conformando-se a seus pensamentos, abandonando-se a seu belprazer; de modo enfim, a estar possuída por Ele, e a não ter mais uma vida própria e independente” – Mgr. Gay. 105. De la Sainteté.

Eis o fim. Vejamos o meio de alcançá-lo. Este meio, nos é indicado pelas mesmas palavras do virtuoso Bispo, aplicadas a Maria Santíssima.

A santidade é, assim, aderir a Maria de maneira a ter com Ela um só e mesmo espírito; de maneira a estar penetrado de sua graça – já explicamos no começo deste capítulo, § II, em que sentido a graça pode ser chamada SUA – , de sua vida, dependente de seus impulsos, conformado com seus desejos, abandonado a sua vontade; de maneira, enfim, a estar como possuído por Ela, e a não ter mais uma vida própria e independente.

IV. União com Maria
A doutrina precedente merece atento estudo, pois demonstra a necessidade que temos de uma Consagração completa de nós mesmos à Virgem Santíssima.

Nossa perfeição consiste em estarmos unidos a Jesus Cristo pela graça. E a graça está em Maria. Será pois, mais intimamente unido a Jesus, e conseqüentemente mais perfeito quem mais intimamente se unir à Virgem Mãe. A união a Maria e a medida de união a Jesus Cristo, e portanto de perfeição. Quem mais semelhante for à Santíssima Virgem, mais se parecerá com Jesus Cristo.

Modelar-se sobre a Santíssima Virgem é modelar-se sobre Jesus Cristo. Depender de Maria é depender de Jesus. Viver para Ela é viver para Deus, pois quem vive em Maria é Jesus, Jesus que ela faz viver em nós.

Quanto mais íntima for a nossa união com Maria, tanto mais Jesus Cristo viverá em nós, e tanto mais abundante será a nossa graça.

Após estas verdades fundamentais, bem provadas, cumpre examinar de que modo podemos unir-nos a Maria Santíssima, e que dentre estes diversos modos é o mais profícuo para nós mesmos. Será o assunto dos capítulos seguintes.

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