quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Aos pregadores, uma simples observação

Pe. Júlio Maria De Lombaerde, SDN

Tem-se escrito muito sobre a eloquência, do ponto de certas pessoas julgarem que a arte da eloquência consiste em escrever um belo discurso, em decorá-lo e recitá-lo com firmeza.

A verdadeira eloquência não consiste nisso; ela vem de mais alto, de mais longe. Para o êxito duas qualidades são exigidas da parte do pregador e duas da parte do discurso.

I - Da parte do pregador

O pregador deve estar convicto do que diz e deve amar as pessoas que o escutam. A convicção pessoal do pregador é o primeiro elemento do bom resultado na pregação. Tal convicção se manifesta desde o princípio, pelo tom incisivo e firme, com que se enuncia o assunto. É preciso lançar a verdade de um só jato, em palavras firmes e fortemente destacadas.

A convicção dá algo de vigoroso, de penetrante, que fixa o espírito do auditor e o excita ao desejo de conhecer, mas a fundo, a verdade.

O amor ao auditório é o segundo elemento do sucesso. É preciso que o auditor sinta que o pregador quer fazer-lhe bem.

Trata-se de ganhar os corações e entrega-los a Deus. Só a caridade sabe descobrir os caminhos misteriosos, que conduzem ao coração.

É sempre eloquente quem quer salvar as almas. É sempre escutado com satisfação, quem ama. É o segredo da palavra viva e eficaz. Aí está a magia da eloquência sacra! Que belo exemplo nos oferece São Paulo!

A sua pregação é a efusão de uma alma repleta de caridade e de verdade, destacando, habilmente, os vícios e os erros das pessoas, fulminando o mal e estendendo a mão paternal aos que o cometeram.

II - Da parte do discurso

A popularidade:

O discurso deve ser popular e claro.

O sacerdote é o homem do povo, e a sua palavra deve ser compreendida por todos.

A eloquência acadêmica é profanação da eloquência sacra.

O grande modelo a imitar é, e sempre será, a palavra de Jesus Cristo.

Nunca homem falará melhor do que aquele que mais se aproximar da linguagem de Jesus Cristo.

A clareza:

É a segunda qualidade do discurso: clareza na expressão e no sentimento.

O povo nada entende das abstrações especulativas da razão. É mister conduzí-lo do conhecido ao desconhecido, do sensível da religião às altas verdades dogmáticas. A palavra clara agrada a todos e faz o bem a todos, enquanto a fraseologia bombástica diverte alguns espíritos, mas não penetra no coração.

O tom narrativo é o mais claro e o mais compreensível para o povo: é uma espécie de dramatização da verdade a expor.

É o método do Evangelho... narra e discute pouco, expõe, torna a verdade sensível pelas comparações e parábolas e deixa ao ouvinte tirar a conclusão pessoal.

Preguemos o Evangelho com convicção e amor.

Seja a nossa palavra popular e clara.

E o êxito será esplêndido, ultrapassando toda expectativa.

(Fonte: O Evangelho das Festas Litúrgicas. Manhumirim: O Lutador, 1952. p. 5-6. )

Um comentário:

  1. Ave Maria!
    Quanta profundidade nos escritos do Pe. Júlio!
    parabéns pelo blog e pelo trabalho..

    In Cordi Iesu et Mariae semper!

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