domingo, 23 de fevereiro de 2014

Comunicado - a respeito dos comentários

Caros leitores do Obras do Pe. Júlio Maria De Lombaerde,


Paz!


Sou imensamente grato a todos os que leem o nosso despretensioso blog. Desde o início das nossas atividades temos a graça de vários acessos, de diversos lugares do Brasil e também de alguns outros lugares - não há como deixar de mencionar algumas visitas da Bélgica, terra natal do nosso homenageado.

Ao longo desse tempo, muitas pessoas se dignaram a tirar um pouco do seu tempo e deixar nas nossas postagens algumas palavras de incentivo: seja elogiando, seja perguntando, seja corrigindo... Tudo isso enriquece muito o nosso trabalho. Faço questão de ler cada uma das contribuições e sou muito agradecido a todos. 

Como estamos num espaço democrático, evidentemente nosso trabalho deve estar também aberto a críticas. E, se nosso espaço é destinado a uma pessoa histórica, é natural que surjam visões diversas a respeito dela. 

Nossa visão editorial é clara e está expressa em diversas postagens, qual seja: acreditamos na santidade da vida e das obras do Servo de Deus Pe. Júlio Maria De Lombaerde, e pedimos a Deus que um dia ele possa ser elevado à honra dos altares - não para a própria glória do padre, mas para o louvor de Deus e para o bem de todo o povo fiel.

Se existem visões que distam desta, estamos dispostos a acolhê-las aqui, conforme temos feito a respeito dos temas mais diversos ao longo desses poucos anos de participação nos apostolados virtuais. Desde que essas opiniões sejam exprimidas conforme os bons costumes da honestidade intelectual e do debate de IDEIAS, e não baseadas nos ataques ad hominem.

Portanto, gostaria de deixar registado aqui que de nenhuma maneira serão aceitos comentários levianos a respeito das ações, dos escritos, das obras e - principalmente - da moral do Servo de Deus Pe. Júlio Maria De Lombaerde.

Debates sadios e respeitosos são bem aceitos. Difamações e calúnias, jamais.

Espero contar com a compreensão de todos os que, ao longo desses anos, nos acompanham. E também de todos aqueles que futuramente se juntarão a nós.

Mais uma vez, obrigado a todos pela participação. Continuemos juntos na causa da expansão do Reino Eucarístico de Jesus, em união com sua Mãe Santíssima, no mundo.

Em Cristo e Maria da Eucaristia,

Saudações,

Frt. Matheus R. G. Andrade, SDN
Matozinhos-MG, 22 de fevereiro de 2014
Festa da Cátedra de São Pedro

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Pe. Júlio Maria, "servo de Deus": como assim?

Frt. Matheus R. Garbazza, SDN

Desde o seu início, professando cheia de fé, a Igreja reconhece Jesus Cristo como o “Mestre e modelo divino da perfeição, celebrado juntamente com o Pai e com o Espírito Santo como o ‘único santo’”, conforme diz o Papa João Paulo II[1].

Esse mesmo Jesus deixou aos seus discípulos o preceito de imitar a perfeição do Pai, reproduzindo em seu agir a justiça de Deus. Para que pudessem cumprir bem esse propósito, Jesus enviou o auxílio constante do Espírito Santo, garantindo a perseverança no amor a Deus e na comunhão fraterna.

Sem demora, alguns dos seguidores de Cristo se destacaram no seguimento profundo do Divino Mestre: seja com a prática heróica das virtudes, seja com a graça do Martírio pelo Reino de Deus.

A esses, a Igreja sempre venerou juntamente com a Virgem Maria e os santos anjos de Deus. Ao mesmo tempo, “implorou devotamente os auxílios de sua intercessão”, no dizer do Papa João Paulo II.

Cumprindo sua missão de ensinar, santificar e governar o povo de Deus, a Igreja propõe tais homens e mulheres – os santos e santas -  à veneração dos fiéis, para que como modelos sejam auxílio para que também nós possamos chegar à glória celeste.

Deus não quis salvar os homens individualmente, sem vínculos uns com os outros, e desde o tempo antigo escolheu para si um povo – Israel – que é a prefiguração da Igreja universalmente aberta a todos os povos. Assim a Igreja, “comunidade consagrada daqueles que, crendo, voltam seu olhar para Jesus, autor da salvação e princípio da unidade e da paz”[2] entende-se como “Mãe dos Santos”, pois é dentro dela que os homens e mulheres se santificam.

Por isso, em relação ao reconhecimento de uma pessoa como tendo vivido em grau admirável o seguimento de Jesus, “ao longo dos séculos os Romanos Pontífices preocuparam-se em emanar normas adequadas para facilitar a obtenção da verdade numa matéria de tão grande importância para a Igreja”[3]. A última legislação nesse sentido provém do Papa João Paulo II e, mais recentemente, da Congregação das Causas dos Santos durante o pontificado de Bento XVI.

Observando a vida do grande missionário Padre Júlio Maria De Lombaerde, percebemos nele essa vivência fiel do seguimento de Jesus e da prática heroica das virtudes evangélicas – sacerdote ardoroso que foi. A isso a Igreja dá o nome de “fama de santidade”. Além disso, são numerosos os testemunhos de graças e milagres alcançados de Deus pela intercessão do Pe. Júlio Maria, ao que a Igreja nomeia de “fama de sinais”.

Quando percebe-se numa pessoa essa fama de santidade e de sinais, é possível abrir o que comumente se chama de “Causa de Beatificação”, para que seja atestada a santidade daquela pessoa. E durante muitos anos o desejo de instaurar a causa do Pe. Júlio Maria ficou latente nas suas Congregações e no povo de Deus sem que, por dificuldades diversas, isso tivesse sido possível.

Entretanto, após a posse de Dom Emanuel Messias como Bispo de Caratinga, em 2011, e após a celebração do centenário de chegada do Pe. Júlio Maria ao Brasil, em 2012, esse desejo se tornou mais forte e passou a ser mais viável. Contando com amplo apoio popular e dos religiosos, as Congregações fundadas pelo Pe. Júlio constituíram uma equipe para encaminhar os trabalhos, tendo o Pe. Heleno Raimundo da Silva, SDN, como responsável. Para representar o processo junto à Cúria Romana estamos contando com o trabalho do advogado eclesiástico Dr. Paolo Vilotta, responsável por diversas causas semelhantes no Brasil.

Enfim, depois de quase um ano do andamento dessa fase preliminar junto às autoridades romanas, chega-nos da Santa Sé Apostólica a autorização para a implantação da fase diocesana do processo de beatificação.

Segundo as normas da Igreja, “É chamado Servo de Deus o fiel católico do qual já se iniciou a causa de beatificação e canonização”[4].

A partir de agora, portanto, inicia-se o processo de beatificação do Servo de Deus Padre Júlio Maria De Lombaerde.

Esse título, portanto, marca apenas o início de um longo e árduo trabalho de investigação cheio de minúcias acerca da vida, dos feitos e escritos do servo de Deus. Para termos uma ideia da delicadeza dessa investigação, todos os seus quase 100 livros terão que ser examinados um a um por um perito teólogo. Além disso a investigação conta com promotores eclesiásticos, peritos doutrinais, médicos periciais, e tantos outros – além das testemunhas (oculares e históricas).

A nossa parte, a partir de agora, será rezar mais ainda para que esse santo homem possa ser colocado como exemplo para toda a Igreja, a fim de que sua intercessão seja invocada por todos nós com confiança renovada. Temos a oração pela beatificação, que pode ser rezada por todos.

Além disso, todas as pessoas que obtiverem de Deus uma graça ou milagre alcançado por intercessão do Servo de Deus Padre Júlio Maria, pode e deve comunicar à Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, por meio do Pe. Heleno, SDN[5].

Nesse caminho, lembramo-nos sempre da figura maternal de Maria Santíssima, Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, que (juntamente com seu servo dileto Pe. Júlio Maria e todos os santos e santas de Deus) nos mostra o caminho mais seguro para o seguimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, Filho de Deus. Assim seja!


[1] Sua Santidade, Papa João Paulo II. Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister, 25 de Janeiro de 1983.
[2] Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 9.
[3] Congregação das Causas dos Santos. Instrução Sanctorum Mater, 17 de maio de 2007.
[4] Congregação das Causas dos Santos. Instrução Sanctorum Mater, artigo 4, § 2.
[5] O contato pode ser feito pelo e-mail [beatificacao@padrejuliomaria.com] ou para o endereço: Praça Bom Jesus, 38 – Centro. Manhumirim-MG. CEP 36970-000.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Aos pregadores, uma simples observação

Pe. Júlio Maria De Lombaerde, SDN

Tem-se escrito muito sobre a eloquência, do ponto de certas pessoas julgarem que a arte da eloquência consiste em escrever um belo discurso, em decorá-lo e recitá-lo com firmeza.

A verdadeira eloquência não consiste nisso; ela vem de mais alto, de mais longe. Para o êxito duas qualidades são exigidas da parte do pregador e duas da parte do discurso.

I - Da parte do pregador

O pregador deve estar convicto do que diz e deve amar as pessoas que o escutam. A convicção pessoal do pregador é o primeiro elemento do bom resultado na pregação. Tal convicção se manifesta desde o princípio, pelo tom incisivo e firme, com que se enuncia o assunto. É preciso lançar a verdade de um só jato, em palavras firmes e fortemente destacadas.

A convicção dá algo de vigoroso, de penetrante, que fixa o espírito do auditor e o excita ao desejo de conhecer, mas a fundo, a verdade.

O amor ao auditório é o segundo elemento do sucesso. É preciso que o auditor sinta que o pregador quer fazer-lhe bem.

Trata-se de ganhar os corações e entrega-los a Deus. Só a caridade sabe descobrir os caminhos misteriosos, que conduzem ao coração.

É sempre eloquente quem quer salvar as almas. É sempre escutado com satisfação, quem ama. É o segredo da palavra viva e eficaz. Aí está a magia da eloquência sacra! Que belo exemplo nos oferece São Paulo!

A sua pregação é a efusão de uma alma repleta de caridade e de verdade, destacando, habilmente, os vícios e os erros das pessoas, fulminando o mal e estendendo a mão paternal aos que o cometeram.

II - Da parte do discurso

A popularidade:

O discurso deve ser popular e claro.

O sacerdote é o homem do povo, e a sua palavra deve ser compreendida por todos.

A eloquência acadêmica é profanação da eloquência sacra.

O grande modelo a imitar é, e sempre será, a palavra de Jesus Cristo.

Nunca homem falará melhor do que aquele que mais se aproximar da linguagem de Jesus Cristo.

A clareza:

É a segunda qualidade do discurso: clareza na expressão e no sentimento.

O povo nada entende das abstrações especulativas da razão. É mister conduzí-lo do conhecido ao desconhecido, do sensível da religião às altas verdades dogmáticas. A palavra clara agrada a todos e faz o bem a todos, enquanto a fraseologia bombástica diverte alguns espíritos, mas não penetra no coração.

O tom narrativo é o mais claro e o mais compreensível para o povo: é uma espécie de dramatização da verdade a expor.

É o método do Evangelho... narra e discute pouco, expõe, torna a verdade sensível pelas comparações e parábolas e deixa ao ouvinte tirar a conclusão pessoal.

Preguemos o Evangelho com convicção e amor.

Seja a nossa palavra popular e clara.

E o êxito será esplêndido, ultrapassando toda expectativa.

(Fonte: O Evangelho das Festas Litúrgicas. Manhumirim: O Lutador, 1952. p. 5-6. )

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Deus Remunerador

4º Domingo depois da Epifania (Segundo a forma extraordinária do Rito Romano)

Evangelho: Mt 8,23-27

23. Subiu ele a uma barca com seus discípulos.
24. De repente, desencadeou-se sobre o mar uma tempestade tão grande, que as ondas cobriam a barca. Ele, no entanto, dormia.
25. Os discípulos achegaram-se a ele e o acordaram, dizendo: Senhor, salva-nos, nós perecemos!
26. E Jesus perguntou: Por que este medo, gente de pouca fé? Então, levantando-se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma grande calmaria.
27. Admirados, diziam: Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem?

Comentário Apologético
Já vimos que há um Deus Criador e Conservador... estas duas noções importantes completam-se pela noção de Deus remunerador.

Esta palavra significa que Deus recompensa ou castiga a sua criatura racional, - o homem, conforme obedece ou desobedece às leis que lhe são traçadas pelo Criador.

O Evangelho de hoje nos mostra os Apóstolos em luta contra a fúria do mar, enquanto Jesus dormia sossegado no fundo da barca.

Em seu terror aproximam-se de Jesus, clamam e pedem socorro; e na hora mesma, Jesus recompensa a sua confiança e põe um freio às ondas em revolta.

Estudemos hoje este assunto importante, examinando com amor estes dois pontos importantes que dizem respeito à remuneração.

1º. Em que consiste a remuneração divina.
2º. As provas desta remuneração.

O homem sendo atraído ao bem pela esperança de uma recompensa e afastado do mal, pelo temor, estas considerações nos estimularão no cumprimento do nosso dever.

I. A remuneração ou sanção

Existe uma lei divina: é certo.

Ora, toda lei deve ter uma sanção.

Logo, Deus não pode tratar do mesmo modo os que cumprem esta lei e aqueles que a desobedecem e deve, necessariamente, em virtude da sua justiça, recompensar os bons e castigar os maus.

Esta sanção é imperfeita e perfeita.

Ela é imperfeita neste mundo para os indivíduos, porém ela é perfeita para as nações. A razão é que os homens têm um destino eterno e podem receber na outra vida uma sanção perfeita: o céu para os bons, o inferno para os maus.

As nações tendo apenas uma existência terrestre, recebem, aqui na terra, a recompensa ou o castigo de seus atos.

Na terra Deus aplica a sanção imperfeita:

- Pela voz da consciência, que aprova ou condena, que é alegre ou cheia de remorsos, conforme os nossos atos.

Fazendo um ato bom, sentimos uma aprovação interior deste ato, uma consolação que sustenta e anima; ao passo que, fazendo o mal, sentimos uma espécie de mordedura no coração, um desgosto íntimo: é o remorso. Nem os aplausos do público, nem a fortuna, nem as honras são capazes de impor silêncio a este testemunho inexorável.

O homem mau, embora rico e honrado pelo mundo, ouve no meio dos prazeres, sorrisos e adulações, uma voz estridente que lhe brada: - Tu és um miserável! Tu não mereces estas honras!

II. As provas desta remuneração

A remuneração ou sanção imperfeita é visível, palpável. Basta observar os fatos; porém lá não se limita a sanção divina: há uma outra perfeita na outra vida.

De fato, a sanção temporal falta muitas vezes e deve faltar. Porque, se os justos fossem sempre recompensados neste mundo e os maus sempre castigados, os homens serviriam a Deus por interesse temporal, por medo, por egoísmo e não por amor e, deste modo, a ordem moral, fundada sobre a obediência livre seria completamente destruída.

É preciso, pois, que haja uma sanção perfeita na outra vida, que consiste numa recompensa eterna ou num castigo sem fim.

Tal sanção eterna nos é revelada pela fé e não pela simples razão. Podemos, entretanto, mostrá-la por motivo da razão.

a) Corresponde às aspirações da nossa natureza;
b) É admitida por todos os povos.

A nossa natureza aspira de toda sua força a uma felicidade integral, sem fim. Ora, não encontramos aqui na terra uma tal felicidade. Logo, deve existir na outra vida.

É duro, sem dúvida, o pensamento de um castigo eterno para as faltas cometidas neste mundo e não expiadas, porém, basta lembrar-nos:

a) de que o homem morto num estado de rebelião voluntária contra Deus, fica fixado definitivamente neste estado, de modo que não pode mais ser objeto de qualquer recompensa.

b) de que se o castigo do crime não fosse eterno, a sanção imposta por Deus seria impotente para fazer evitar o mal e a sua justiça poderia ser insultada impunemente pelo pecador, que poderia dizer-lhe: Tu serás obrigado a perdoar-me um dia, ou a aniquilar-me; e num ou noutro caso, escaparei aos teus rigores.

III. Conclusão

Os homens admitem facilmente a eternidade de felicidade, mas repugna-lhes a eternidade de suplícios.

A segunda, entretanto, é a conseqüência necessária da primeira. Se Deus é justo e bom, Ele deve recompensar a virtude... e quem recompensa a virtude deve necessariamente castigar o mal, pois é a destruição da virtude.

Para todo o pecado há misericórdia neste mundo; não porém no outro. A razão é simples.

Neste mundo o homem pode converter-se, porque passado o instante do pecado, resta-lhe outro instante em que pode arrepender-se.

A eternidade é um ponto imutável; não é uma sucessão sem fim de séculos, anos e minutos, mas sim um presente eterno, sem futuro e sem outro passado senão o da terra.

Uma vez entrado neste presente eterno, não há mais mudança possível: qual se entra, tal se fica.

O justo entra e fica justo: recebe a recompensa. O mau entra e fica mau: logo o castigo abate-se sobre ele, enquanto for mau: e não podendo mais mudar, fica mau eternamente e merece como tal um castigo eterno.

Exemplos
1. No tribunal revolucionário
Um sacerdote compareceu perante o tribunal revolucionário de Lião.
- Crês tu no inferno? Perguntou o Juiz ateu.
- Oh! Como poderia duvidar do inferno, respondeu o Padre, vendo o que se passa aqui na terra!? Se tivesse sido incrédulo, neste momento me tornaria crente.
Nada, de fato, prova melhor a existência de uma sanção futura do que a impunidade de que gozam os maus neste mundo.
Inútil será dizer que o corajoso sacerdote foi logo condenado à morte.

2. Uma palavra do Padre Grange
Alguém disse diante do Padre, grande Apologista popular.
- Não creio no inferno: ninguém voltou de lá para dizer-nos o que há no além.
- Cuidado, respondeu o Padre, isto prova que quem entra no inferno não sai mais.

3. Miguel Ângelo
Quando Miguel Ângelo pintava o célebre quadro do Juízo final, na Capela Sistina do Vaticano, um Camareiro do Papa criticou um dia a obra do mestre. Este, para vingar-se, pintou o camareiro, tendo orelhas de burro, no meio dos réprobos, enroscado nas dobras de uma serpente.
O camareiro foi queixar-se ao Papa, pedindo-lhe que mandasse apagar este retrato.
O Papa perguntou-lhe sorrindo: Onde é que te colocaram?
- No inferno, no meio dos réprobos, Santo Padre.
- Oh, então, retrucou maliciosamente o Pontífice, é impossível; se te tivessem metido no purgatório, eu poderia ajudar-te, no inferno porém, é impossível. Sabes muito bem: quem lá entra, aí fica!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Escravos de Maria




CAPÍTULO VII
ESCRAVOS DE MARIA

Entramos no terceiro modo de dependência da Santíssima Virgem. Não satisfeitos com laços ordinários que nos unem a Ela como criaturas e como cristãos, almejamos confirmar este estado de dependência, dando-nos, como o amor se dá: sem reservas nem restrições.

O primeiro grau na Consagração voluntária à Santíssima Virgem e que serve de fundamento aos outros graus é conforme a palavra do Evangelho: “Quem se humilhar será exaltado”. Devemos humilhar-nos perante a Virgem Santíssima, para que Ela nos eleve até Jesus. Em outros termos: devemos proclamar-nos seus escravos, para que Ela nos eleve como filhos. Nada de mais ínfimo, nem de mais humilde que o escravo.

I. O que é a escravidão

Que é, em verdade, a escravidão de amor?

A escravidão é a dependência total e absoluta para com um senhor, de modo que o escravo não se pertença mais, mas fique sob o poder de seu dono, para que este se sirva dele à vontade e em proveito próprio.

O escravo – diz Monsenhor Pio – pertence completamente e para sempre a seu dono, com tudo o que possui, sem exceção nenhuma. Trabalha sem exigir nenhum salário, sem que o Senhor tenha sobre ele direito de vida e morte (a lei natural como também a mosaica e as leis modernas não reconhecem tal poder a não ser por um mandato especial de Deus, que é o Senhor da vida). Montfort se põe aqui simplesmente do ponto de vista do fato, conforme as leis civis dos países onde vigorava em seu tempo a escravidão. Seu intento, abstraída a moralidade do ato, é dar um exemplo de dependência total (nota da 4.ª edição). O servo, ao contrário, é livre; presta seus serviços por um salário durante um tempo determinado, reservando sempre para si o direito de mudar”.

Basta esta simples definição para convencermo-nos que somos não simplesmente servos de Jesus Cristo e de Maria Santíssima, mas verdadeiramente escravos. E notai que não é uma fórmula nova, suspeita ou inspirada por uma devoção repleta de entusiasmo sentimental... É o pensamento fundamental da religião; ideia do Santo Batismo, que é o que há de mais radical em nós, como cristãos, (cf. Lhomeau, op. cit.). Montfort salienta três espécies de escravidão, ou, ao menos, três títulos que motivam esta dependência de Deus:

O primeiro – diz ele – é a escravidão por natureza; todas as criaturas são escravas de Deus neste sentido.

O segundo é a escravidão por constrangimento, em que alguém é reduzido à servidão, seja por violência, seja por uma lei justa ou injusta. Tal a escravidão dos demônios e dos réprobos.

O terceiro, enfim, é a escravidão por amor, ou por livre vontade. Esta é a mais gloriosa para Deus, que vê o coração e que se chama o Deus do coração ou da vontade amorosa.

Em resumo, e como aplicação destas três espécies de escravidão: todas as criaturas são escravas de Deus pelo primeiro modo; os demônios e réprobos, pela segunda; os justos e santos, pela terceira.

II. Significação do termo

Praticamente esta devoção da Santa Escravidão não é outra coisa, senão a ratificação, por livre escolha, do que já somos por natureza, isto é que constitui a glória e a felicidade dos justos e santos.

O sentido atual da palavra servo é recente; antigamente só se conhecia o senhor e o escravo. É neste sentido que se devem tomar as palavras latinas: servus – ancilla, empregadas outrora.

Quando os profetas designam o Messias como Servo de Deus (“Servus Dei”); quando São Paulo nos ensina que Jesus Cristo tomou a aparência do servo (“formam servi accipiens”); quando a Virgem Santíssima se intitula: “a serva do Senhor” (“ancilla Domini”); quando o grande Apóstolo dá a si mesmo o nome de servo de Cristo, etc., todos empregam esta palavra no sentido de escravo.

Sou a escrava de Cristo – dizia Santa Ágata – e por este título me declaro de condição servil”.

Para ser devoto escravo do Filho – escreveu Santo Ildelfonso – suspiro por tornar-me fiel escravo da Mãe”.

E São Bernardo: “Sou um vil escravo, para quem é honra demais servir, como tal, o Filho de Maria”.

Assim fala grande número de santos e de piedosos, sábios, como São Pedro Damião, Santa Teresa, São João Eudes, Venerável Olier, Padre de Condren, etc. A tão estimada oração de Santo Inácio: “Recebei, Senhor, minha liberdade”, bem como a do Pe. Zucchi: “Ó minha soberana...”, não são mais que fórmulas expressas da Santa Escravidão.

Os soberanos Pontífices sancionaram estas fórmulas. Urbano VIII, em 1636, aprovava os Cônegos do Espírito Santo, que se consagravam na qualidade de escravos a Jesus e Maria.

Leão XIII, em 1887 aprovou igualmente os “Escravos do Sagrado Coração”, e enriqueceu de indulgências uma congregação inspirada por Jesus Cristo a Santa Margarida Maria, que termina dizendo: “Quero fazer consistir toda a minha felicidade em viver e morrer como sua escrava”.

III. Escravo e amigo

A escravidão não está em oposição com o espírito de infância e de amor que anima o Cristianismo. Jesus disse: “Não vos chamarei mais servos, porém amigos”.

Isto, porém, nada prova contra esta devoção.

Quando um príncipe, pela amizade que tem a um de seus escravos, cumula-o de benefícios e o chama seu amigo, deixando-o no estado onde se acha, não deixa aquele de ser escravo, apesar do título de amigo do príncipe. Seu dono pode libertá-lo, sem dúvida.

Servindo-nos da comparação, somos como escravos diante de Deus. Deus, entretanto, não pode libertar-nos, pois que nossa escravidão está essencialmente ligada à nossa condição de criatura. Como o escravo feito amigo de seu príncipe, podemos tornar-nos “Amigos de Deus”, sem cessar de sermos escravos (cf. Franzelin: De Verbo Incarnato – Thes. 38. teol. 2).

As odiosas e abomináveis lembranças do paganismo desacreditaram a palavra escravidão; mas não queremos dizer que, preconizando a ideia de nossa servidão para com Deus, não repudiamos a tirania de muitos donos e a degradação dos escravos. Estas foram circunstâncias acidentais, que de nenhum modo entraram na essência desta condição.

Coraríamos de ser escravos de Deus, escravos de Jesus Cristo, escravos da ideal beleza de Maria, nós que nos gloriamos de ser escravos do nosso dever, escravos da honra, escravos de uma beleza efêmera às vezes?

Jesus Cristo e a sua Santíssima Mãe não estão infinitamente acima de todos esses passageiros encantos, que muitas vezes nos atraem para o ilícito, ao passo que a beleza de nossa Mãe nos atrai para o alto e nos transfigura?

IV . Humildade e elevação

Mas não se esqueçam: o que nos eleva e transfigura é o que nos humilha: “Qui se humiliat exaltatur”. E quanto mais profunda for nossa humilhação, tanto maior será nossa elevação.

Desejais crescer na intimidade de Deus? Abaixai-vos até o último grau; tornai-vos escravos...

Desenvolveremos mais tarde as belas e animadoras conclusões que defluem deste princípio. Basta, por enquanto, ter indicado e classificado a Santa Escravidão, seu fundamento e a retidão de seus termos e de sua prática.

Concluamos com as palavras de São Luís Maria Grignion de Montfort, o grande Apóstolo de Maria Santíssima:

Atesto firmemente que, tendo lido quase todos os livros que se referem à Mãe de Deus e conversado familiarmente com os mais santos e sábios personagens destes últimos tempos, não conheci nem aprendi prática para com a Santíssima Virgem semelhante à que vou expor, capaz de exibir de uma alma os maiores sacrifícios por Deus, desapego de si mesma e de seu amor próprio, mais fidelidade na conservação da graça, ou na aquisição desta, que a una de modo mais perfeito e mais fácil a Jesus Cristo, e, finalmente que seja mais gloriosa para Deus, mais santificante para a alma e mais útil ao próximo” (Tratado da Verdadeira Devoção).

Paremos no pensamento da sublimidade desta prática e peçamos a Deus a sua compreensão, pois é um segredo, e um segredo que não se revela senão às almas humildes e generosas.

Oxalá sejamos deste número!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Flash do Pe. Júlio Maria

[MANHUMIRIM-MG] Por ocasião do XV Capítulo Geral Ordinário dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, realizado de 14 a 18 de outubro de 2013, o quadro com a foto do Revmo. Padre Fundador é solenemente entronizado na sala capitular.


Os responsáveis por conduzir o quadro são Dom Antônio Affonso de Miranda, SDN [na foto, à esquerda] e Pe. Demerval Alves Botelho, SDN [D]. Ambos conviveram com o Fundador.