quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

[Comentários Apologéticos]A imortalidade da alma

Domingo da Epifania (Segundo a forma extraordinária do Rito Romano)

Evangelho: Mt 2,1-12

1. Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.

2. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.

3. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.

4. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.

5. Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta:

6. E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo(Miq 5,2).

7. Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido.

8. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.

9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.

10. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.

11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.

12. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.

Comentário Apologético

Jesus havia nascido em Belém, numa gruta abandonada, deitado numa manjedoura de animais.

Ele esconde a sua majestade e abaixa sua grandeza, enquanto os anjos o aclamam e uma estrela resplandecente convida os reis magos a irem adorar o Rei recém-nascido.

Os reis do oriente, tendo encontrado este Rei misterioso, cujo trono é uma manjedoura e cuja púrpura são uns paninhos de pobres, prostram-se, adoram-no e lhe oferecem os seus presentes: ouro, incenso e mirra.

O ouro exalta a realeza do menino. O incenso proclama a sua imortalidade. A mirra significa a sua humanidade.

Deus é o grande, o supremo Imortal.

Os homens participam desta prerrogativa, pela sua alma, criada à imagem e semelhança de Deus. Consideremos esta prerrogativa de nossa alma, examinando:

A natureza da imortalidade.

As provas desta imortalidade.

Estas considerações nos farão compreender melhor a grandeza do homem e a sublimidade de seu destino.

I – A natureza da imortalidade

Chama-se imortalidade da alma a prerrogativa de que é dotada de não morrer.

Tudo o que é material está sujeito à lei da corrupção ou decomposição.

A nossa alma, sendo simples, espiritual, sem nenhuma composição, não pode estar sujeita a esta lei; a sua espiritualidade conduz logicamente à idéia da sua permanência depois da morte natural.

O que chamamos morte, não é o aniquilamento, é uma decomposição ou dissolução, palavras que indicam uma separação de partes.

A alma, não tendo partes, não está pois sujeita à morte. Cícero, apesar de pagão, tem a este respeito uma frase sublime, nos Tusculanos l. 1. 29.

“A alma, diz ele, é necessariamente uma substância muito simples, sem mistura, sem composição, sem elementos diversos. Segue-se daí que não se pode nem dissolve-la, nem dividi-la, nem rompe-la, nem quebra-la. É pois imortal, porque a morte não é mais que a separação das partes que antes estavam ligadas”.

Na própria natureza da alma, encontramos já uma prova da sua imortalidade.

Todos nós experimentamos o desejo de uma felicidade que não podemos alcançar aqui na terra.

Ora, Deus não pode infundir na alma desejos irrealizáveis, senão seria uma oposição em sua própria obra.

É preciso pois que na outra vida, na sobrevivência possamos alcançar esta felicidade que não encontramos neste mundo.

O homem está em marcha para o infinito que persegue sempre, mas que sempre lhe escapa.

Ele concebe, sente este infinito, trá-lo dentro de si: daí provém este instinto de imortalidade, esta esperança universal de uma outra vida, que exprimem todos os cultos, todas as poesias, todas as tradições.

Se assim não fosse, a maior das criaturas estaria maltratada: seria até um monstro eterno, pois nunca chegaria à perfeição de seu estado e de suas aspirações.

II – Provas da sua imortalidade

A alma, não podendo ser decomposta, podia ser aniquilada. Isto, porém, não é concebível. Aniquilar e criar são dois atos iguais.

Para aniquilar a alma, Deus deveria exercer um ato positivo de sua divindade.

Ora, na natureza não encontramos um único exemplo de aniquilamento. Nada é aniquilado, mas simplesmente transformado.

O corpo do homem, o dos animais, mesmo as plantas são simplesmente dissolvidos, transformados, mas não aniquilados.

Aliás a semelhante aniquilação se opõem a sabedoria, a justiça e a veracidade divinas.

Deus, em sua sabedoria infinita fez a nossa alma imortal em sua natureza, pois tudo o que é espiritual é eterno. Ele fez esta alma a sua imagem e semelhança, sendo ele o Imortal.

A alma, sendo superior ao corpo, deve ter um destino que seja superior a este.

Ora, o nosso corpo não será aniquilado: nem um de seus componentes voltará para o nada, mas será apenas separado dos outros elementos.

Ora, se a alma morresse, a sua sorte seria menos nobre que o de seu inferior, o que repugna a sabedoria de Deus.

***

Deus é infinitamente justo, e esta justiça exige que o mal seja punido e o bem recompensado.

Ora, a alma não encontra neste mundo a sanção do bem que faz, nem o mal que comete. É preciso pois que haja uma outra vida, onde triunfe a justiça divina... e esta outra vida exige a imortalidade da alma.

***

Deus é verdadeiro, e este Deus não somente nos faz aspirar à imortalidade, mas nos obriga a crer nela. A ressurreição da carne, a vida eterna, são dogmas sagrados da nossa fé.

Logo, tal imortalidade existe, claramente ensinada pelo próprio Deus.

III – Conclusão

As consequências práticas da crença na imortalidade da alma são o que mais fortifica e estimula a vida. Esta crença nos consola no meio dos sofrimentos da vida. Ela é um estímulo constante na aquisição de méritos e de virtudes.

Ela conserva o homem numa nobre dignidade, inspirando-lhe o respeito a si mesmo.

Com este dogma da imortalidade, a infelicidade é consolada, a virtude excitada, o vício reprimido, a providência justificada, o homem e o mundo moral estão explicados.

Basta deste dogma para formar grandes homens, elevar as grandes virtudes, aceitar grandes sacrifícios para Deus, para a religião e para a sociedade... enquanto que suprimir este dogma, seria suprimir toda a religião, toda virtude, todo dever!

Deus não morre, exclamava Garcia Moreno.

A alma também não morre, devemos ajuntar.

Ambos são imortais, porque a segunda é feita à imagem do primeiro.

EXEMPLO

1 – A lição do tic-tac

Um professor católico de Belfort quis dar a seus alunos a idéia da imortalidade da alma. Procurou um meio de tornar sensível à inteligência infantil esta verdade: que a morte do corpo não tira a vida da alma.

Tirou o seu relógio da algibeira e chamando os meninos, lhes disse: Escutem como o relógio faz tic-tac, e como ele está numa caixa de ouro.

Todos escutaram e admiraram o relógio. Então o professor tirou o mecanismo da caixa e conservando cada uma das peças em mão diferente, perguntou: Qual dos dois é o relógio.

- É a parte que faz tic-tac, responderam estes.

- Pois bem, estão vendo que a caixa, separada do mecanismo, tornou-se muda, enquanto o relógio continua a andar, embora separado de seu invólucro, a caixa. Assim acontece conosco.

A morte separa a alma do corpo, então o corpo torna-se mudo, a alma, porém, privada de seu invólucro, o corpo, continua a existir e a agir.

A comparação, sem dúvida, é muito imperfeita, mas os meninos compreenderam assim perfeitamente a verdade de tal modo provada.

2 – O martírio do Anamita

Nas últimas perseguições que assolaram a cristandade de Tokyo, um jovem cristão de 17 anos, chamado Moï, excitou a admiração dos próprios pagãos pelo heroísmo da sua constância.

-Pisa este crucifixo e renega a tua religião, bradou-lhe o juiz, e te darei $ 100,00!

-Excelência, não basta.

-Pois bem, eu te darei $ 500,00.

-Não basta ainda!

-O que?... pois bem, darei $ 1.000,00.

-É barato demais, Excelência!

O juiz, estupefato pela calma do cristão, perguntou-lhe nervoso: mas, então, quanto queres?

-Excelência, se queres que eu perca a minha alma, pisando o crucifixo e renegando a minha religião, dai-me bastante dinheiro para comprar uma outra alma imortal.

E o valente anamita marchou para o suplício com o sorriso sobre os lábios, deixando juiz e algozes boquiabertos de tanta coragem.

É que o anamita compreendia o que é uma alma imortal.

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