quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Segredo da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria [III]

CAPÍTULO I
CONCORDÂNCIA DE DOUTRINAS

Três grandes idéias dominam a espiritualidade de hoje: a de Santa Teresinha, a de Santa Margarida Maria e a de São Luís Maria Grignion de Montfort.

O espírito de cada um destes santos é, respectivamente:

O abandono filial,
A união amorosa,
A dependência total.

Santa Teresinha insiste sobre o abandono filial e põe em relevo a bondade de Nosso Senhor. Esta é a base de sua santa infância.

Santa Margarida Maria concentra-se sobre a união amorosa com o Coração de Jesus e faz sobressair o amor infinito que este divino Coração tem aos homens.

São Luís Maria Grignion de Montfort salienta a nossa total dependência de Jesus e Maria, e o reino do Salvador nas almas.

I. Aparente contradição

À primeira vista, parece haver contradição ou pelo menos, separação, entre a doutrina destes santos. Tal separação, porém, não existe. E até reina entre os ensinos deles a mais completa harmonia e a unidade mais perfeita.

O que há é diferença de expressão, segundo a finalidade, que cada ensino tem em mira.

Santa Teresinha é a apóstola da bondade de Jesus.
Santa Margarida Maria é a pioneira do amor desprezado do Coração de Jesus.
São Luís Maria Grignion de Montfort é o soldado do reino de Jesus por Maria.

Para realização de seu ideal, cada um dos três exige das almas piedosas o que constitui a base de toda santidade: a humildade perfeita.

Ora, há três modos de praticar a humildade:

1. Entregando-se, com abandono total, à pessoa, que manda;
2. Ficando em união de vontade com quem manda;
3. Permanecendo na dependência completa de quem manda.

Abandono, união e dependência, são manifestações de uma só virtude: a humildade.

O abandono é mais filial e mais suave,
A união é mais amorosa e mais íntima,
A dependência é mais radical e mais humilde.

Santa Teresinha escolheu o abandono de si mesma, enquanto Santa Margarida adotou a união amorosa e São Luís Maria Grignion de Montfort recomendou a dependência.

O abandono de si constitui a via da santa infância.
A união realiza o espírito de reparação e expiação.
A dependência concretiza a Santa Escravidão.

São os métodos dos três santos.

II. Método de Santa Teresinha

Sta. Teresinha, da Infância Espiritual
A humildade de coração forma a base da infância espiritual promulgada por Santa Teresinha.

Pode-se de fato distinguir: humildade de espírito, humildade de vontade e humildade de coração.

A santinha escolheu a humildade de coração, para patentear que sua humildade não é simplesmente o estado da alma, que vê que nada é e nada pode, mas ainda o estado de amor a esta nulidade.

Averiguar que nada somos é o primeiro passo; amar esta condição é o segundo.

Aceitar uma humilhação com calma é a humildade de espírito.

Procurar aquilo que humilha é a humildade de vontade.

Amar a humilhação e nela comprazer-se, – eis a humildade de coração.

Ser pequeno” – diz a amável santinha – é não atribuir a si mesmo as virtudes praticadas, nem reputar-se capaz de qualquer coisa; é, sim, reconhecer que é o bom Deus, que põe nas mãos de seus filhinhos o tesouro da virtude, de que Ele se serve quando precisa, porquanto a virtude permanece sempre tesouro de Deus.

O que agrada a Jesus em minha pequenina alma é ver que amo a minha pequenez e minha pobreza, é a cega esperança que tenho em sua misericórdia”.

Estas palavras resumem toda a espiritualidade de Teresinha.

Não somente ela se julga pequena, fraca e inconstante, mas ama esta pequenez, compraz-se nela e nela acha a sua riqueza.

Continua Santa Teresinha: “Para sermos humildes, é preciso que consintamos alegremente em tudo o que os outros nos mandam.

Quando alguém vos pedir um serviço, considerai-vos um pequeno escravo, a quem todos possam dar ordens” .

É o caminho do santo abandono nas mãos de Deus. Consiste em considerar Deus como pai carinhoso e aceitar com amor tudo o que Ele nos manda.

A santinha de Lisieux deu a esta prática o nome de infância espiritual. Veremos depois como esta convicção e amor da própria pequenez redunda no que São Luís Maria Grignion de Montfort chama Santa Escravidão.

III. O método de Santa Margarida

Santa Maria Margarida e a aparição do Coração de Jesus
Santa Margarida, cujas revelações foram o mais belo e completo código da santidade, trilhara o mesmo caminho e ensinara a mesma prática de Santa Teresinha.

Deu-lhe apenas um nome diferente, por tê-la considerado sob outro prisma.

Santa Teresinha concentra-se na união com Jesus sob o nome de dependência filial, e termina na prática da Santa Escravidão.

A vidente de Paray-le-Monial exalta a mesma união sob a forma de união amorosa; e termina, como Santa Teresinha, na Santa Escravidão.

Na primeira e solene aparição do Coração de Jesus – 1674 – o divino Salvador disse à Santa: “Até então tomaste o nome de escrava; de agora em diante te dou o nome de discípula querida de meu coração”.

Mais tarde Jesus lhe disse – 1688 – : “Enfim és inteiramente minha, vives para mim, vives para fazer tudo o que eu desejar, filha minha, como minha esposa, minha escrava, minha vítima, dependente em tudo do meu coração”.

E é por isso que, em suas cartas, na narração de sua vida e em várias de suas consagrações, a santa se declara escrava do Coração de Jesus. Deseja ela com este título, exprimir a sua submissão total ao Coração de Nosso Senhor e aos deveres impostos por esta devoção.

Escreve alhures: – “Quero fazer consistir toda a minha glória em viver e morrer na qualidade de vossa escrava”. No retiro de 1672, inspirada pelo Sagrado Coração, escreveu em suas resoluções o seguinte:

“Eu, ínfima e miserável criatura, protesto, diante de Deus,submeter-me e sacrificar-me em tudo o que Ele pedir de mim, imolando o meu coração no cumprimento de sua vontade, sem reserva de outro interesse que sua maior glória e seu puro amor, ao qual consagro e entrego todo o meu ser e todos os meus movimentos. Pertenço para sempre ao meu bem-amado, como sua escrava, sua serva e sua criatura”.

Vê-se, claramente, através destes sentimentos e expressões da santa, que o título de escravo não é uma novidade na vida espiritual; é, sim, para ela a expressão adequada de sua completa entrega a Jesus Cristo.

Margarida Maria, que muito bem soube interpretar os desejos do Coração de Jesus, não ignorava, por certo, as suaves intimidades da infância espiritual. Mas compreendia também que entre os dois termos escravidão e confiança não havia nenhuma incompatibilidade, e, mais perfeita harmonia de doutrina e de prática.

IV. A Santa Escravidão

São Luís M. G. de Montfort,
autor da Santa Escravidão
Ensina-nos São Luís Maria Grignion de Montfort as virtudes, obras a praticar e as disposições de que devemos nos revestir, para alcançar esta Santa Escravidão ou dependência completa de Jesus por Maria ou de Maria por Jesus.

Por ora não vamos insistir sobre estes pontos, pois serão longamente desenvolvidos no correr do livro. Mostremos apenas a união de espírito entre Jesus e Maria; sem isto não poderemos compreender os termos que Montfort emprega.

São Francisco de Sales diz a respeito: “A Virgem Santíssima tinha uma só vida com seu divino Filho. Jesus e Maria eram, de certo, duas pessoas, mas tinham um só coração, uma só alma, um mesmo espírito, uma vida idêntica”.

Se o Apóstolo pôde dizer que a sua vida era a vida de Cristo, com mais razão podia dizer a Santíssima Virgem que a “sua vida era a vida de Jesus”.

Ora, sendo assim tão unidos Jesus e Maria, a ponto de terem uma só vida, podemos, logo, chamar-nos, indiferentemente: escravos de Maria ou escravos de Jesus.

Montfort insiste muito sobre este ponto. Repete, a cada passo, que há a mais íntima união entre Jesus e Maria. Tão intimamente são unidos, que um se acha inteiramente no outro. Jesus está inteiramente em Maria. Maria Santíssima está inteiramente em Jesus.

Ou, antes, ela não é mais ela, mas Jesus é tudo nela; a tal ponto que diz ser mais fácil separar a luz do sol do que separar Maria de Jesus.

Maria Santíssima torna-se, deste modo, um caminho fácil para irmos a Jesus. E isto porque um caminho preparado pelo próprio Deus; caminho pelo qual Jesus Cristo veio ate nós e onde não há estorvo ou obstáculo.

Daí resulta, – continua Montfort – que a devoção que mais intimamente nos une a Maria pode ser considerada como o caminho fácil, curto, perfeito, para conduzir à união divina, na qual consiste a perfeição cristã... Além disso, este caminho é muito fácil por causa da plenitude da graça e da unção do Espírito Santo de que está repleto”.

Neste caminho – completa o Santo – não há nem lodo nem poeira, nem a menor mancha de pecado, pois a Virgem Imaculada é a mais perfeita e a mais santa das criaturas, de modo que Jesus Cristo chegou perfeitamente até nós, sem tomar outro caminho em sua grande e admirável viagem do céu à terra”.

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