quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Reflexão litúrgica - Sobre o ato de ajoelhar-se

Escrevi, recentemente, um artigo para o Apostolado Sociedade Católica, comentando a postura adequada para a Adoração, especialmente Eucarística. Faço, portanto, a indicação deste texto, que pode agradar aos nossos leitores.

Perante o nome de Jesus todo joelho se dobre

Por Matheus R. Garbazza
Postulante da Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora,
Estudante de Filosofia pela FAJE – BH,
E membro do Apostolado Sociedade Católica

Bendizei a Deus... aclamai e reconhecei que sua misericórdia é para sempre” (Dn 3,90)

Dado que a Igreja vive da Eucaristia, a Santa Missa é aquele momento específico do tempo em que mana com toda a força a vida da Igreja. Pela ação do Espírito Santo e pelas palavras do sacerdote, torna-se presente sobre nossos altares o mistério tão sublime de nossa redenção, o sacrifício salvífico único de Cristo sumo-sacerdote, conforme narra-nos a Carta aos Hebreus: “Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pela imolação de si mesmo” (9,26). 

Jesus Cristo se faz realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Por este motivo, a grandeza da Santa Missa é incomparável: “O augusto sacrifício do altar é insigne instrumento para aos crentes distribuir os méritos derivados da cruz do divino Redentor: ‘toda vez que se oferece este sacrifício, cumpre-se a obra da nossa redenção’”. Diante de tão augusto acontecimento, brota do coração do homem redimido um sentimento único, que só aparece diante da majestade divina: a adoração. 

De fato, a adoração é um dos fins da Liturgia Eucarística. “Idênticos, finalmente, são os fins, dos quais o primeiro é a glorificação de Deus. Do nascimento à morte, Jesus Cristo foi abrasado pelo zelo da glória divina e, da cruz, a oferenda do sangue chegou ao céu em odor de suavidade. E porque este cântico não havia de cessar, no sacrifício eucarístico os membros se unem à Cabeça divina e com ela, com os anjos e os arcanjos, cantam a Deus louvores perenes, dando ao Pai onipotente toda honra e glória.”

Em palavras simples e facilmente compreensíveis, como poderíamos definir a adoração devida unicamente à soberania divina, culto esse que nem à Santíssima Virgem Maria e a nenhum dos santos é devido? 

“A adoração pode ser preparada por longa reflexão, mas termina com uma intuição e, como toda intuição, não dura muito. É a percepção da grandeza, da majestade, da beleza e também da bondade de Deus e de sua presença que tira a respiração. É uma espécie de naufrágio no oceano sem margens e sem fundo da majestade de Deus”.

Sendo a adoração uma intuição, nada mais justo que se exprima no nível interior, cognitivo, espiritual. É antes de tudo, portanto, um movimento interno. Tanto que uma das expressões mais perfeitas da adoração é precisamente o silêncio, onde se encontra Deus. No silêncio é que tudo se cala, tudo cessa, tudo desfalece. Ali, onde nada mais existe, só existe Deus. Esse Deus que é digno de receber toda a adoração do nosso coração. 

Lembrando-nos de que a “a fé, se não se traduz em ações, por si só está morta”(Tg 2, 17) e de que “aquele que ouve a Palavra e não a põe em prática é semelhante a alguém que observa o seu rosto no espelho: apenas a observou, sai e logo esquece como era a sua aparência”(Tg 1, 23-24), temos que a adoração – sendo primariamente interior – deve exteriorizar-se por atos concretos. Especialmente quando a consideramos no contexto da ação litúrgica que – pela própria força do nome – é culto público dos homens a Deus. 

Acerca da relação entre sentir e agir, explana o Pe. Leo Tresse: “’Sim, creio na democracia, creio que um governo constitucional de cidadãos livres é o melhor possível’: alguém que dissesse isto e ao mesmo tempo não votasse, nem pagasse os seus impostos, nem respeitasse as leis do seu país, ficaria em evidência pelas suas próprias ações, que o condenariam como mentiroso e hipócrita. É igualmente evidente que qualquer pessoa que manifeste crer nas verdades reveladas por Deus e não se empenhe em observar as leis de Deus, será absolutamente insincera”.

Dentre os diversos modos de exteriorizar o movimento de adoração, encontra-se na Igreja Latina o gesto de ajoelhar-se, colocar-se pequeno diante d’Aquele que é adorado. Sto. Tomás de Aquino, grande teólogo da Igreja e – sobretudo – um homem místico, já cantava esse aniquilar-se do homem diante de Deus: Adoro-te, devote, latens Deitas/ Quæ sub his figuris vere latitas/ Tibe se cor meum totum subjicit,/ Quia te contemplans totum deficit (Com devoção te adoro, oculta Divindade, em verdade escondida sob estas figuras. A ti meu coração todo se confia, porque ao contemplar-te cai e desfalece). 

Sem dúvidas, na presença do Senhor ressuscitado todo o ser do homem (alma e corpo, naquela feliz unidade querida pelo criador) desfalece, despenca, prostra-se. Analogamente ocorre durante a celebração da Santa Missa. Ao fazer-se sacramentalmente presente no Santíssimo Sacramento, Nosso Senhor recebe de seu rebanho fiel a adoração e o louvor, também pela sua posição corporal – de joelhos. 

Há pessoas porém, talvez até bem intencionadas, que tentam a todo custo dissuadir os fiéis dessa postura tão edificante. Seja por acharem que não se coaduna com a nossa cultura vigente, ou por a considerarem demasiadamente humilhante, ou por julgarem uma postura inadequada para a assembléia daqueles que, tendo sido salvos por Jesus Cristo, lhe rendem culto. 

Muito embora busquem propagar estas idéias, que se encontram infelizmente difundidas em alguns círculos eclesiais, estes indivíduos equivocam-se. Apesar de pontualmente possuírem razão em uma ou outra argumentação, erram em sua conclusão: “não se deve ajoelhar durante a Santa Missa ou em outros atos litúrgicos”. 

Estão, portanto, enganados, segundo o que se verifica: 

1º - Pela fundamentação bíblica
2º - Pela reflexão teológica
3º - Pela autoridade da Igreja

***

A íntegra do texto pode ser conferida no sítio do Apostolado, pelo endereço: [http://www.sociedadecatolica.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=702]


Ao final, acrescentei ainda o De Joelhos, escrito pelo Pe. Júlio, para enfatizar ainda mais o sentido teologico-espiritual desse belo ato.

Espero que os leitores possam fortalecer as suas convicções ou, no mínimo, serem motivados à reflexão.

Pro Catholica Societate!

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