segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Beleza de Maria [II]

Pe. Júlio Maria De Lombaerde
II - MARIA, BELA EM SUA CONCEIÇÃO


Maria é, pois, bela!... Bela com todas as belezas de Seu Filho, bela pela plenitude de graça que Ela reside. De Fato, é a graça santificante que dá à alma o seu valor real, sua graça, para agradar a Deus e ser por Ele amada; é a veste nupcial que a torna digna de assentar-se ao banquete do Cordeiro, e sem a qual não é permitido entrar na sala do festim.

Uma alma em estado de graça é tão bela, que é impossível a Deus não amá-la; possui direitos tão ingentes, que é impossível a Deus não se dar todo a ela.

Para compreender a beleza da alma de Maria, seria, pois, necessário fazer-se uma idéia das graças que Lhe foram outorgadas, pois a beleza aumenta à medida que aumenta a graça.

Ora, quem poderia imaginar as graças concedidas Àquela que era "cheia de graça", e isto já desde a Sua Conceição imaculada, sem por isso estar na incapacidade de aumentar, de acrescer ainda este tesouro, pois a Virgem deve não somente ser cheia de graças, mas tê-las em superabundância, para que possamos receber de Sua plenitude.

Vejamo-lA primeiramente em Sua Conceição imaculada. Como desde já esta plenitude se irradia!...

Esta beleza da imaculada Conceição é tanta, que nem mesmo é necessário começar a descrevê-la. Antes de elevarmos os olhos para este fascinante esplendor, mais fácil seria inclinarmo-nos sobre o abismo de misérias, a que nos relegou a queda original, e fazermos assim, por contraste, uma longínqua idéia da alma virginal de Maria. Falemos apenas uma única palavra de nossas chagas íntimas.

A primeira chaga é a perda de toda justiça: - da graça santificante, virtudes infusas, equilíbrio das potências de nossa alma, subordinação do corpo ao espírito, direito a uma proteção especial de Deus. Todos estes dons nos foram retirados, e Maria, ao contrário, foi enriquecida de todos estes bens, desde ao Seu primeiro instante.

"Cheia de graça", nEla circula a vida divina.

É uma beleza, uma riqueza, uma luz, uma força.

É a paz, a ordem, a harmonia.

A inteligência vê claramente, a vontade governa, e Deus vela sobre a Sua obra com um cuidado invejoso.

Nós não somos apenas despojados, somos manchados.

Não somente somos deformados, somos positivamente culpados.

Carregamos o peso da inimizade divina.

E Maria é toda bela, toda pura, toda agradável.

Ela inflama de amor o Coração de Deus, e Ele não se sacia nunca de contemplar a primeira e única criatura, sobre a qual Ele pode baixar os olhos com complacência. E Ele também não contém a Sua alegria por encontrar, enfim, sobre quem expandir a Sua ternura.

Chama-A Sua única, Sua amada, Sua pomba, Sua irmã, Sua esposa.

Maria é a "Bendita", a "Bem-aventurada", Aquela a quem estão reservadas todas as honras possíveis e todas as beatitudes imagináveis...

O batismo restitui-nos a graça, apaga a nossa culpa e remite a nossa pena.

Como é bela a alma batizada!...

Ei-la: - é perfeita, radiante, estabelecida em sua integridade esplêndida, à semelhança da alma de Maria!...

Teria a nossa pureza reconquistada o mesmo valor que a pureza original de Maria?...Oh! não... E bem o sentimos nós desde o despertar de nossas faculdades e desde o primeiro vôo que a nossa alma quer tomar. Ela foi perdoada, reavivada, mas suas asas ficaram amortecidas e suas faculdades feridas.

Um véu de ignorância se estende sobre o nosso espírito, um mundo de malícia pesa sobre nossa vontade, um foco de concupiscência se aninha bem no fundo de nosso coração e uma fraqueza mórbida anemiza todo o nosso ser.

E, mais ainda, este langor paralisa a vontade. Estas concupiscências todas sobem como nevoeiros diante dos olhos já enfraquecidos da nossa inteligência. Não possuímos mais a noção justa das coisas, deixamo-nos fascinar pelos falsos bens, e somos curiosos, frívolos, perturbadores, inconstantes.

Talvez isto ainda não é mais que o defeito; brevemente, porém, será o pecado.

Apenas criada, a alma inteiramente límpida da Virgem Imaculada, vibrante de sentido, de força e de amor divino, conhece Seu bem supremo, voa até Ele, prendendo-se-Lhe irrevogavelmente.

A candura da luz eterna se reflete neste espelho sem mácula. As claridades de Deus são as Suas, e Sua é também a vontade de Deus.

Todas as Suas potências, todas as Suas tendências se dirigem para Ele. Não experimenta, nem pode experimentar o atrativo, não digo de um mal qualquer, mas nem do menor bem, nem doutro bem a não ser Ele.

Tão impossível Lhe é escolher a imperfeição, como é às almas beatificadas dos eleitos cometer o pecado. Entretanto, Ela guarda ainda o mérito da liberdade. Nela tudo é impulso irresistível para Deus, mas é um impulso querido, refletido, meritório!...

E tamanha perfeição e pureza, que fizeram de Maria, desde o primeiro instante de Sua Conceição, a Rainha de todas as santidades angélicas e humanas, nEla não é mais que um ponto de partida, um germe, um começo.

Ela irá crescendo de beleza em beleza, de virtude em virtude, até à hora em que Sua alma, envolta num suspiro de amor, alcançar a mais alta perfeição que possa realizar uma simples criatura.

A faísca que se propaga na floresta, torna-se um oceano de chamas; a imaculada Conceição, irradiando sobre a vida de Maria, lança sobre Ela um resplendor diante do qual empalidecem todas as purezas criadas.

Oh! devem cantar as glórias e as belezas da Virgem sem mácula os anjos, únicas testemunhas deste inefável mistério!...

Se os ouvidos do homem estivessem tão atentos e lhe tivesse Deus concedido ouvir seus cânticos e suas aclamações, teriam experimentado alguns destes acentos que mais tarde deveriam ouvir os santos e os doutores, teriam recolhido em seu espírito e em seu coração graciosas imagens.

Ouçamos um pouco os ecos chegados até nós:

Uns diziam: "O doce Sol de misericórdia não poderia tardar a aparecer. Eis a Sua obra, dEle recebendo os Seus raios, projetando-os ao céu e sobre a terra, e expelindo as sombras da noite". - Maria aurora praenuntia Dei. (S. Bern.)

Continuaram outros: "Salve, ó belo arco-íris, Vós és para a terra o sorriso de um Deus prestes a apaziguar-Se; anuncias o fim dos trovões, das tempestades e das ameaças". - Maria iris mystica. (Alegrin d'Abbville)

E outros, enfim: "Corre, ó graciosa nave! Por Vós o Verbo divino sulcará as ondas do mar lodoso do mundo, estenderá a mão aos infelizes que naufragaram, e reconduzi-los-á todos ao porto". - Maria navicula Domini.(Adam des Iles)

Santo Ildelfonso chama-A: "Terra nova, novo Éden, plantado pela mão de Deus, no qual Deus tornará a conversar com o homem. Campo florido, odorífero, fecundo, no qual germinará uma flor da eternidade." -Maria campus floris aeterni. (S.Ildefonso)

E ainda Hugo de S. Vítor: "Raiz viva! Floresta verdejante! Haste cheia de nobreza! e gloriosa, cuja flor será Deus". - Maria radiz vitae florens; Virga, cujus flos Christus. (Hugo de São Vítor)

Santo Antoninho pôde escrever: "Até então se haviam as vozes da humanidade perdido nos ecos do mundo. Nenhuma tivera o poder de penetrar as nuvens. Eis a grande, a poderosa voz, cujos sons chegaram ao céu". - Maria vox clamantis in caelum. (S. Antonino)

E um outro panegirista de Maria assim se expressa:

"Sua perfeição, diz ele, força atrativa e irresistível triunfará de qualquer obstáculo. Como um magnete precioso, Ela atingirá até ao Verbo divino em Sua eternidade, e atraí-lO-á para o tempo". - Maria magnes spiritualis. (Adam de Perseigne)

"Eleva-te, exclama Santo Anselmo, ó maravilhosa escada, que deve unir o céu e a terra, escada sagrada, pela qual, enfim, Deus descerá até ao homem, e o homem subirá até Deus". - Maria scala, Dei descendetis et homini ascendentis. (Sto. Anselmo de Luca).

E Ricardo de São Vítor:

"Eis preparada a morada hospitaleira do Verbo eterno feito peregrino no tempo. Eis o leito de honra, sobre o qual repousará a Sua adorável humanidade, o trono vivo sobre o qual Se assentará para inaugurar o Seu reino, o altar sagrado sobre o qual começará a Sua vida e o Seu holocausto". - Maria diversorium Dei peregrinantis (Ricardo de São Vítor).Maria thalamus humanitatis Christi (São Cripiano). Maria altare terrenum (Pedro de Celles).

Aclamando-A, diz o grande bispo de Hipona: "Primeiro e magnífico esboço do Cristo Redentor! Em Sua alma e em Seu corpo, em Suas aspirações e em Suas virtudes, Ela é como que um Jesus começado. Ela é o molde admirável, em que serão fundidas, indissoluvelmente unidas, reduzidas à unidade de uma só pessoa, a humanidade e a divindade do Verbo". - Maria forma Dei. (S. Agost. Sermão da Assunção)

Enfim, outros exclamam: "Em Maria imaculda reconheçamos o penhor das antigas promessas, o sinal da alegria univerdal, o grande aleluia dos corações fiéis". - Maria pignus promissionis (Absalon de Trèves). Maria Alleluia fidelium (Sto. Anselmo de Cantuária)

Eis o que teria percebido o ouvido atento. Mas não há apenas hinos de alegria para a terra; há sobretudo um tesouro!... Ter uma Virgem imaculada nas fileiras da família humana, este pensamento não excita somente a admiração, mas ainda um outro sentimento, que é a consolação.

Se Maria é toda bela e imaculada, não é apenas uma honra, que redunda sobre nós, mas é um tesouro em que nos podemos saciar.

Ela é o nosso tesouro de pureza, com a missão de enriquecer-nos.

Não é isto consolador?...

O nosso canto é o "Miserere"; o Seu é o "Magnificat"!!!

Cada túmulo diz à podridão e ao vermes: "Vós sois minha mãe, sois minha irmã" (Jó 17).

O túmulo da Virgem dirá às estrelas: "Deixai passar a minha pomba".

A Sua imaculada Conceição prepara a Sua assunção. E do alto do céu, compadecer-se-á Ela de nossas misérias e de nossos túmulos.

Oh! como este dogma da Conceição Imaculada inunda de indizíveis consolações a alma do crente!...

O pobre pecador pode dizer de si para si: Sou infeliz, iníquo, coberto de manchas, mas há ao menos em minha família uma criatura bela, que é a mesma pureza, e não só a pureza, mas até a caridade...

Uma dobra de Seu manto cobrirá a minha miséria diante do justo Juíz!...

Deste modo a prerrogativa da imaculada Conceição torna-se um como bem de família e um tesouro em que nos podemos enriquecer. É o que fazia dizer a S. Hugo Magno: "Ó Maria, eu vos comparo a uma gota de orvalho que bastaria para purificar o mundo".

Porque Amo Maria? Ed. Paulinas, 1960 - págs 341-346.

Um comentário:

  1. Como as palavras têm poder! Estas me deixaram embevecidas com a candura de Maria. Tão merecidas quanto as palavras de algum poeta:
    "Deus juntou todas as águas e chamou mar; Deus juntou todas as graças e chamou Maria."

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