Publicamos hoje, no primeiro dia do tríduo a Nossa Senhora do
Santíssimo Sacramento, esse belíssimo texto da pena do Revmo. Pe. Júlio Maria.
Os grifos são nossos. É um texto antigo, e há que se considerar o contexto filosófico-histórico do autor. Mesmo assim, é uma das mais belas páginas da teologia eucarístico-mariana.
***
Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, na capela do Seminário Apostólico de Manhumirim-MG |
A
Igreja incluiu nas ladainhas da Santíssima Virgem esta significativa invocação:
Maria, porta do céu, rogai por nós!
Poucos
talvez, compreendem o alcance destas palavras.
Maria
é a porta do céu. Não se entra numa casa senão pela porta.
É-nos
impossível entrar no céu sem que passemos pela porta que Deus mesmo aí
colocou... e esta porta é a Virgem Imaculada.
Se
o céu é um lugar de delícias, é porque nele a alma possui a Jesus Cristo Nosso
Senhor, de tal maneira que possa dizer que “o céu é Jesus Cristo!”
A
porta do céu, a porta do coração de Jesus é Maria, é impossível nele entrar sem
passar por Maria.
“Possuerunt
me custodem” (Cant 1, 5). “Colocaram-me qual guarda”, nos diz ela mesma.
E
ainda “In me gratia omnis viae”. Em
mim se acha a graça do caminho que se deve seguir. Donde a conclusão rigorosa
que o Espírito Santo coloca ainda sobre os lábios da Virgem. “Aqueles que me
acham, acham a Vida eterna”. Qui me
inuenerit, inveniet vitam”. (Prov. VIII, 35).
Tais
trechos da Sagrada Escritura são a confirmação desta invocação, que os resume
“Porta do Céu”. Maria Santíssima é a guarda, a porta da vida eterna.
O
céu é a posse de Deus, de seu amor, de sua glória, posse até de qualquer coisa
de sua eternidade, na medida que esta pode ser o apanágio da criatura,
eternidade que tem um princípio, mas que jamais findará.
E
a porta desta posse é sempre a Virgem! É por Ela que tudo há de passar.
O
céu é a “contemplação de Deus, face a face”, tal qual é, contemplação de sua
grandeza, de seu poder, de seu amor, e, sobretudo, de todos os seus divinos
atributos.
E a porta desta visão é Maria... Sem ela é impossível
gozar desta bem-aventurança.
O
céu é a “manifestação” da glória de Deus. Aqui na terra esta divina glória é
desconhecida, desprezada às vezes, só aparece parcialmente e por intervalos. Lá
em cima manifestar-se-á em todo o seu esplendor, em toda sua extensão, sem
sombras.
Esta
glória nos cercará, nos penetrará, nos elevará e nos tornará partícipes da
glória de Deus.
Mas
a porta desta glória é sempre, é unicamente Maria; é por Ela, pois que devemos
alcançá-la.
Oh!
sim como tem razão os santos a repetirem sempre: “Tudo por Maria”, “nada sem
Maria!”
Tudo,
de fato, nos vem por intermédio da Virgem. tudo que nos vem do céu; graças,
auxílios, luz, consolação, força, amor.
E
tudo que sobe ao céu: orações, sacrifícios, virtudes, tudo passa também pela
“porta”, pelas mãos de Maria.
Penetremos bem o significado desta invocação: Maria,
porta do céu, rogai por nós!
Mas
não há somente o Céu do Céu, se assim posso dizer, isto é, Jesus Cristo,
glorificado no céu, há também o Cristo oculto no Tabernáculo.
Porta
do primeiro céu, Maria Santíssima é também porta do segundo, sendo que este
difere somente daquele, porque o primeiro é “glorioso” ao passo que o segundo é
“escondido”. Dizendo que Maria Santíssima é a porta do Tabernáculo, quero dizer
que para chegar a Jesus Hóstia, é preciso ainda passar por Maria “possuerunt me custodem”. E para que Jesus Sacramentado desça até nós, com suas
bênçãos e graças, é mister sair pela porta que é Maria.
A
vontade de Deus, diz São Bernardo, é que recebamos tudo das mãos de Maria.
Oh!
suave pensamento que nos indica as relações tão reais e tocantes da Sagrada
Eucaristia com Maria.
Jesus
Cristo está verdadeiramente no seu Sacramento de amor. Aí fica escondido na
pequena hóstia, atrás da porta visível do Tabernáculo, do mesmo modo que
esconde a glória e o amor, atrás da outra porta – invisível aquela – que se
chama a Mãe de Deus.
Pode-se
dizer que Maria Santíssima está presente na Sagrada Eucaristia?
Por si mesma, não! mas
está presente por Jesus de um modo inefável, pois se trata de uma verdade acima
de nossa compreensão.
Para
explicar a união Jesus e Maria, será insuficiente a comparação das relações que
unem mãe e filho, visto existir aí intimidade superior ao nosso entendimento.
Digamos
somente que Jesus é, e sempre fica como ele mesmo o disse “filho do homem”.
Aí
está o seu título próprio “Filius hominis”
Filho do homem... então Filho de Maria Santíssima.
A
Sagrada Eucaristia é a continuação da Encarnação. Pois a Encarnação é Maria
dando ao filho de Deus a vida humana.
A Eucaristia é ainda Maria
gerando, Deus à vida escondida do Tabernáculo.
Do
mesmo modo que o primeiro mistério se cumpriu por Maria, assim o segundo,
prolongamento do primeiro, deve operar-se por Maria. Jesus nascendo em Belém,
nasce de Maria Santíssima.
Jesus, nascendo sobre o
altar, entre as mãos e em virtude das palavras do sacerdote, nasce ainda de
Maria.
Precisamos
perguntar então se Maria está presente nesse mistério e qual é o seu papel.
O
papel da Santíssima Vigem é introduzir Jesus Cristo no mundo, como também de
conduzir as almas aos pés de Jesus.
Essa
grande verdade está sendo atualmente estudada pelos teólogos, que ainda não
deram uma fórmula certa e teológica ao mistério. Tal falta nos obriga a uma
certa reserva na expressão; entretanto, os corações eucarísticos e amantes
descobrirão neste pouco um horizonte novo de amor ao divino hóspede do
Tabernáculo.
Oh!
Maria, porta do Céu, rogai por nós!
Compreendeis,
agora, almas piedosas, o alcance da vida de intimidade com a Mãe de Jesus.
Se
viverdes perto, esta “porta divina” abrir-se-á diante de vós. “Beatus homo... qui vigilat ad fores meãs
quotide” (Prov VIII) Oh! sim, bem aventurado, diz o Espírito Santo, quem
vela todos os dias à porta do céu!
Na
terra, por Maria, ireis a Jesus Sacramentado, e Jesus descerá até vós.
Rematará
lá em cima a vida de intimidade com sua divina Mãe, pela posse de si mesmo;
pois lá ainda na glória é e sempre fica, o Filho de Maria Santíssima, a flor
brotada da virgindade perpetua de Maria, nutrida pela humildade e pelo amor da
Virgem-Mãe.
Oh!
sim! ficai sempre perto de Maria, e que seja ela a porta pela qual desce a vós,
e pela qual haveis de ao céu subir.
Pe. Júlio Maria De Lombaerde. In Voz de Nazareth, nº 83: novembro
de 1919.
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