domingo, 2 de setembro de 2012

Contemplando o Pe. Júlio Maria no retrovisor da História


Mês da Bíblia: Marcos – um roteiro de viagem tendo Jesus como guia.

Olhar no retrovisor da história nos ajuda a continuar a caminhada sem perder de vista a direção. Os primeiros discípulos foram chamados por Jesus e deixaram seus pertences, famílias, barcos e redes (Mc 1, 16-20), sua fonte de riqueza: Levi (Mc 2, 13-14). A experiência que fizeram com Ele, mudou completamente suas vidas. Os bispos reunidos em Aparecida apontam alguns exemplos de encontros com o Senhor que surtiu efeitos e teve consequências inovadoras: “Nicodemos e seu anseio de vida eterna (cf. Jo 3,1-21); da samaritana com seu desejo de culto verdadeiro (cf. 4,1-42); do cego de nascença e seu desejo de luz interior (cf. Jo 9); de Zaqueu e seu anseio de ser diferente (cf. Lc 19,1-10)… Todos eles, graças a esse encontro, foram iluminados e recriados porque se abriram à experiência da misericórdia do Pai que se oferece por sua Palavra de verdade e vida”. (DAp 249)
A vontade de Deus e seus caminhos desfizeram os projetos pessoais que Padre Júlio Maria De Lombaerde tinha, e o tornou um homem sem fronteiras. O encontro com o Pai, nas longas orações e em contato permanente com a Palavra, o fez capaz de ter solidez e ser solidário! Acreditou na promessa: “Eu estarei contigo…” (cf. Ex 3,12); “Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome; sê uma bênção!” (cf. Gn 12,2). O encontro com o Senhor e sua Palavra teve consequências fortes em sua vida e ações sendo capaz de deixar expressar seus sentimentos mais profundos diante do que seus olhos viam: “Meus ardentes anseios eram pegar-me o coração com as duas mãos e jogá-lo transbordando de ternura e de chamas para esse povo assentado à minha frente…” (Diário Missionário do Pe. Júlio Maria, p. 126).
Nesse Ano Jubilar fomos chamados a olhar no retrovisor da nossa história Julimariana para contemplar, ‘escutar’, ver de novo aquele que teve em vida o coração abrasado de amor, paixão, ternura, ousadia para nossos irmãos pouco vistos e menos amados!
O Evangelho de Marcos (neste mês da Bíblia) nos propõe um roteiro de viagem tendo Jesus como guia. Esse roteiro ajudou os cristãos em momentos de crise a não se perder no longo caminho que tinham pela frente.
Na Festa Julimariana que celebramos em julho foi um momento rico e oportuno de rever alguns dos muitos roteiros deixados por nosso querido Fundador! Reforçou em todos e em todas, a convicção que já tínhamos da sua paixão na divulgação da Palavra, da evangelização! Moldou sua vida em Jesus e a partir de então foi capaz de fazer várias travessias em diferentes mares sob o olhar apaixonado de Maria. Ir para o ‘outro lado’ é abrir mão de nossas seguranças, trocar as lentes dos óculos, e aprender a caminhar num outro ritmo! Só os encharcados de sabedoria, pela escuta atenta e amorosa de Deus por meio de sua Palavra, passam no teste desta aprendizagem! Somos filhos e filhas deste grande herói que foi aprendendo a ser criativo em todas as travessias que fez: “Na França, na Bélgica e na Holanda, pregou com amor e ardor, ousadia e veemência apostólicas. Fez missões paroquiais numerosas, durante quatro anos, mobilizando e trazendo à prática religiosa centenas, milhares de pessoas, reconstituindo famílias,…” (Bibliografia do Pe. JM); de Recife, Belém, Macapá, Manhumirim, acolheu, interagiu, inculturou-se, amou, salvou, educou, evangelizou; fundou: Congregações e obras, tais como: hospital, “O Lutador”, escolas… para difundir a vida, a saúde e a Palavra evangelizadora.
Padre Júlio Maria foi interativo e alternativo nas ações, usou de todos os recursos que ajudou a somar na sua árdua missão. Sabemos da sua ousadia, frente às escassezes da realidade que o envolvia! Qual era a fonte que abastecia e alimentava tanta inspiração, coragem, determinação? A sua vida de oração frente ao Senhor na Eucaristia, a Palavra e a realidade, eram molas mestras do seu ser e agir! Pe. Júlio era um homem diante do qual a gente tinha de tomar posição. A favor ou contra”. (Bibliografia do Pe. JM). Sua autoridade era alicerçada e configurada na escuta da Palavra de Deus, abastecido na Eucaristia e guiado pelas mãos amorosas de Maria.
O grande apaixonado por Maria, desejoso de fazer comungar dos valores eucarísticos, deixa esse legado precioso para nós em um de seus escritos: “Há nesse mundo, a mesa da intimidade, onde se reúnem os membros de uma família. Há também a mesa festiva, em redor da qual se reúnem os amigos na alegria de seus encontros. […] Mas há, na Igreja uma mesa única, que se chama a Mesa Sagrada, onde não se assenta, mas ajoelha-se, de mãos postas, de olhos baixos e coração pulsando de fé e amor, por causa da santidade, da divindade do alimento que é servido”. (Comentário Dogmático, Pe. JM, p. 217). Em outra passagem ele continua falando da eucaristia baseado em Orígenes: “Tomando um alimento inferior, ele se muda em nós; mas sendo este alimento de uma natureza mais excelente, nós somos mudados nele”. (Comentário Dogmático, Pe. JM, p. 220).
Celebrar os 100 anos de sua chegada ao Brasil é celebrar sua audácia, sua paixão, sua entrega encharcada de amor a Deus, ao povo, aos pobres.  E como missionário, pisando em terras estranhas, teve a humildade, sabedoria e atitudes contemplativas da vida do povo. “A pergunta que esquentava sua cabeça e ardia em seu coração era: o que poderia ser e fazer para ganhar o coração desse povo” (cf. ‘O Lutador’, dez. 2011).

[Retiro preparado pela Equipe de Espiritualidade e Formação Continuada das Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora]

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