sexta-feira, 17 de julho de 2009

[Comentários Apologéticos] Razão e Revelação

2º Domingo do Advento (Segundo a forma extraordinária do Rito Romano)

Evangelho: Mt 11, 2-10

2. Tendo João, em sua prisão, ouvido falar das obras de Cristo, mandou-lhe dizer pelos seus discípulos:

3. Sois vós aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?

4 .Respondeu-lhes Jesus: Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes:

5. os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres...

6. Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda!

7. Tendo eles partido, disse Jesus à multidão a respeito de João: Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?

8. Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas luxuosas? Mas os que estão revestidos de tais roupas vivem nos palácios dos reis.

9. Então por que fostes para lá? Para ver um profeta? Sim, digo-vos eu, mais que um profeta.

10. É dele que está escrito: Eis que eu envio meu mensageiro diante de ti para te preparar o caminho

Comentário Apologético

Lendo com atenção o Evangelho de hoje, notamos que ele é a expressão de certa inquietação.

Os discípulos de João Batista querem saber se Jesus é o Messias esperado, ou se devem esperar por outro.

Jesus responde a estas dúvidas, mostrando as suas obras, para que o julguem conforme estas obras.

Domingo passado, provávamos a existência de Deus: hoje damos mais um passo avante e respondemos a uma certa inquietação que nos invade a respeito de Deus.

Deus existe: é certo, mas podemos nós pelas luzes da nossa razão conhece-lo plenamente, ou precisamos de outra luz para penetrar seus aparentes segredos?

Resolvamos esta dúvida, examinando:

1º. O que pode a razão humana.

2º. O que não pode por si mesma.

Será um duplo raio de luz lançado sobre o grande mistério da união da razão e revelação.

I – O que pode a razão humana

A nossa razão pode dar-nos umas noções sobre Deus, porém, muito limitadas e incompletas.

A nossa razão é muito limitada. Ela é para as coisas intelectuais o que é o nosso olhar para as coisas materiais: vê apenas certas coisas e não percebe nada até no fundo.

A nossa razão é finita: Deus é infinito, de modo que podemos ver apenas o que está ao nosso alcance, todo o resto nos escapa.

Remontando da sua própria existência e das criaturas, a nossa própria razão pode conhecer a existência de Deus, o seu poder criador; e refletindo, pode formar-se uma idéia de certos atributos de Deus, como a sua unidade, sua eternidade, sua justiça, bondade, etc.

Temos pois uma idéia de Deus; e notemos que tal idéia é já uma prova da existência de Deus, pois o homem é incapaz de ter a idéia de uma coisa inexistente, em partes ou em seu todo.

Deus assim concebido permanece entretanto um ser incompreensível, misterioso:

a) em sua natureza, que ultrapassa infinitamente toda natureza criada;

b) em suas perfeições, que incluem todas as perfeições;

c) em seus decretos que são impenetráveis;

d) em suas obras que o manifestam, mas não o mostram senão velado, misterioso.

A nossa razão precisa, pois, de um auxílio que lhe permita penetrar mais no fundo das verdades entrevistas, do mesmo modo como a nossa vista, para enxergar o que ultrapassa o seu raio visual, precisa de um instrumento, para penetrar além.

O olho nu vê certas coisas, com um binóculo vê mais longe, com uma luneta penetra mais além ainda.

Este auxílio, este instrumento que nos permite ver mais longe, mais claramente, chama-se Revelação Divina, ou a voz de Deus, explicando-nos o que não compreendemos.

II – O que não pode a razão

A razão, como acabamos de ver, tem o seu circulo visual determinado e limitado. Existência de Deus, imortalidade da alma, princípios da lei natural: eis o seu horizonte.

Para conhecer as verdades de ordem sobrenatural, a razão precisa absolutamente de uma voz reveladora, e esta voz chama-se: a revelação.

Deus, diz o Apóstolo, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos profetas, ultimamente nesses dias falou-nos por meio de seu Filho (Heb 1, 1-2).

Esta voz de Jesus Cristo ensinando-nos a verdade é o caminho sobrenatural: como um complemento do caminho natural da razão.

Há sobretudo três verdades importantes que a nossa razão não pode conhecer. São:

- A origem das misérias humanas;

- Os meios de expiação;

- Os destinos futuros do homem.

Para estas verdades a revelação é absolutamente necessária.

Ela é moralmente necessária para serem plenamente conhecidos e com certeza os preceitos da lei natural, que devem guiar a nossa vida e os quais a razão pode apenas distinguir vagamente.

Antes do pecado original, os nossos primeiros pais conheciam perfeitamente o bem e o mal; depois do pecado a razão humana ficou obscurecida, enfraquecida e como paralisada pelas paixões que nos dominam, falsificam a nossa vista intelectual, e nos fazem tomar o mal pelo bem e o bem pelo mal, como dizia o Apóstolo: o homem faz às vezes o mal que não quer, e não faz o bem que quer (Rm 7, 19).

É um fato de experiência que um povo sem sacerdotes para instruí-lo e exortá-lo cai inevitavelmente na ignorância das verdades da ordem natural.

É preciso que os princípios da lei natural lhe sejam, vez ou outra, claramente formulados, frequentemente repetidos e incutidos com vigor, senão, em breve, ficam alterados ou esquecidos.

“deixem uma paróquia sem sacerdote – dizia o santo Cura D’Ars – durante vinte anos, e os seus habitantes adorarão os animais!”

O povo precisa ser instruído até nos princípios da lei natural; com quanto mais razão nos princípios da lei sobrenatural.

III – Conclusão

Eis pois duas verdades bem esclarecidas: a nossa razão enfraquecida pode conhecer a existência de Deus e umas outras verdades elementares, porém tudo bastante superficialmente; para um conhecimento total, sobrenatural, precisamos do auxílio da revelação divina.

As conseqüências destas revelação em nossa razão são imensas e admiráveis.

É a revelação que reforma as idéias inexatas, esclareces as idéias confusas, tornando impossíveis a inquietação e a dúvida.

A razão nos mostra que a alma é incorruptível; a fé nos diz que é imortal.

A razão indica uma vida futura; a fé nos dá uma promessa positiva da mesma.

A razão entrevê recompensas e castigos; a fé nos mostra a sua extensão e natureza.

A razão vislumbra um destino futuro; a fé no-lo apresenta luminoso e indica os meios de adquiri-lo.

A razão nos esmaga sob o peso das nossas misérias; a fé nos levanta pela misericórdia divina.

Em suma: a revelação satisfaz todas as aspirações do homem:

- O nosso espírito precisa de uma doutrina certa: a revelação lhe dá.

- Ele precisa de um código moral: a revelação lhe fornece.

- Ele precisa de uma lei social de caridade: a revelação lhe ministra.

- Ele precisa de conselhos de perfeição: a revelação os dá.

Exemplos

1 – Resposta de um filósofo

Pode-se definir Deus, porém toda definição é humana e incompleta.

Um dia uma comissão de estudantes foi ter com seu professor de filosofia, pedindo que lhes dissesse claramente o que é Deus.

- Pensarei, respondeu ele, voltem depois de uma semana.

Oito dias depois a comissão está de novo com seu professor, pedindo a resposta.

- Pensarei, voltem depois de uma semana.

Após uma semana, nova pergunta, e idêntica resposta.

- Mas, exclamaram os estudantes, é sempre a mesma resposta... até quando devemos voltar depois de oito dias?

- Até o fim da vida, respondeu o filósofo, pois Deus é tão grande que é impossível fazer dele uma definição perfeita.

2 – Morte de Garcia Moreno

Garcia Moreno era presidente da República do Equador.

Católico fervoroso, tinha atraído o ódio da maçonaria, que resolveu suprimi-lo.

Em 6 de agosto de 1875, Garcia tinha comungado antes de abrir solenemente a sessão legislativa.

Nesse mesmo dia caiu assassinado pelos sicários... E caindo exclamou:

- Deus não morre! E exalou o último suspiro.

Um comentário:

  1. Caro sr. Matheus R. Garbazza, Salve Maria!

    Muito me agradou o blog do sr, cheguei até ele a procura de obras do Pe. Julio Maria.
    Provavelmente como o sr, sofro por não encontrar obras disponíveis deste grande Padre. Possuo apenas o livro “O Sol Eucharistico” escrito por Pe. Julio, e atualmente estou lendo “Maria e a Eucharistia”, livro que um bom Padre me emprestou. Infelizmente livros só encontrados em sebos e tão velhos que talvez não suportariam passar por um xerox sem se desfazerem.
    Gostaria de lhe deixar meu e-mail, a fim de trocarmos informações sobre como adquirir as grandes obras de Pe. Julio.

    Um abraço,
    Rennan Caminhotto

    Email: caminhotto@yahoo.com.br

    (PS: Me perdoe por estar utilizando o login de minha mãe, pois não possuo um próprio)

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