3º Domingo do Advento (Segundo a forma extraordinária do Rito Romano)
Evangelho: Jo 1, 19-28
19. Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: Quem és tu? 20. Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: Eu não sou o Cristo. 21. Pois, então, quem és?, perguntaram-lhe eles. És tu Elias? Disse ele: Não o sou. És tu o profeta? Ele respondeu: Não. 22. Perguntaram-lhe de novo: Dize-nos, afinal, quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo? 23. Ele respondeu: Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías (40,3). 24. Alguns dos emissários eram fariseus. 25. Continuaram a perguntar-lhe: Como, pois, batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 26. João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. 27. Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado. 28. Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.
Comentário Apologético
O Evangelho de hoje conta que os judeus enviaram mensageiros a João Batista, perguntando-lhe quem era. Se era o Cristo, Elias ou qualquer outro Profeta.
O precursor rejeitou todos os títulos e intitulou-se: a voz que clama no deserto, para preparar os caminhos do Senhor; e ele termina fazendo, em nome de Deus, a grande revelação da presença de Jesus Cristo entre eles: Entre vós está quem não conheceis.
Nós também devemos aproximar-nos de Deus, e pedir-lhe que se revele a nossa fé, pois sem essa revelação, nunca teremos uma idéia certa, clara, convicta de Deus, e de sua vida em nós.
Procuremos convencer-nos fortemente da necessidade da Revelação Divina, examinando hoje:
1. A existência da revelação.
2. As épocas da revelação.
São duas noções necessárias para excitar em nós este espírito de fé com que devemos receber e acatar as verdades reveladas.
I – A existência da revelação
A revelação existe. É um fato.
Temos toda a certeza de que Deus manifestou aos homens verdades que a simples razão não pode descobrir, ou pode apenas conhecer superficialmente.
Deus não era obrigado a retirar o homem da abjeção em que o havia mergulhado o pecado original e a remediar as suas grandes misérias.
Mas, notemos que Deus é pai; e um pai, vendo o seu filho no fundo da miséria não pode deixar de estender-lhe a mão.
Quando a criança entra nesse mundo, é já um ser racional, embora seja incapaz de orientar-se. Deus colocou a seu lado uma criatura, sua mãe, que se inclina sobre o berço, e o semblante iluminado pelo amor, lhe fala, instrui-a e sustenta-a.
E Deus, pai tão amoroso, não se inclinaria sobre o berço da humanidade, onde se agita e chora sua pobre filha, pedindo luz e amparo? Ah! Isto não; é impossível. Deus seria menos terno do que nossos pais na terra!
Eis porque Deus falou, nos revelou i que ignoramos e o que precisamos saber.
Deus destina o homem para um fim sobrenatural; é preciso pois que lhe dê luzes sobrenaturais, e tais luzes devem brotar de seu próprio Coração e lábios.
E como pode o homem conhecer que uma revelação é verdadeiramente divina?
Pelos caracteres negativos e positivos que acompanham sempre a palavra divina.
Os negativos referem-se à própria revelação, afastando o que seria oposto às perfeições divinas, a uma revelação anterior, a preceitos positivos existentes, e à perfeição do homem.
Os positivos às provas que acompanham as revelações, isto é: os milagres e as profecias, dois fenômenos exteriores extraordinários, luminosos, que se impõe à convicção.
Os milagres e as profecias não fazem compreender o mistério revelado, nem dão a razão do preceito positivo, mas fazem-nos aceitar como sendo de Deus.
São como o selo, o carimbo que Deus imprime sobre suas obras, ou as credenciais com as quais Ele apresenta seus enviados; os milagres e as profecias constituem o
Sinal divino por exceleência.
II – As épocas da revelação
A revelação completa efetuou-se em três épocas.
A primeira foi feita a Adão, no berço da existência humana, nas sombras do paraíso terrenal.
Continha essa revelação verdades naturais, por exemplo: a existência dos anjos bons e maus, e, depois da queda, a visão do libertador prometido.
Continha também certos preceitos positivos, por exemplo: o modo de oferecer sacrifícios.
Esta primeira revelação confirmada e cada vez mais determinada a Abraão e aos demais patriarcas recebeu o nome de:Revelação primitiva ou patriarcal.
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A segunda revelação foi feita a Moisés, no monte Sinai e aos profetas, encarregados de a transmitir aos hebreus.
Esta segunda revelação relembrava e revigorava a lei natural, as revelações anteriores, e prescreviam muitos novos preceitos, tendo em vista a preparação dos espíritos para a vinda do Messias. É a revelação mosaica.
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A terceira foi feita pelo próprio Jesus Cristo, sendo dirigida à humanidade inteira.
Esta nova revelação que completa todas as revelações precedentes, com mais clareza e perfeição junta-lhe um conjunto completo de verdades, de preceitos e de auxílios sobrenaturais, que dão à lei antiga a sua perfeição completa e definitiva.
É a revelação cristã ou religião cristã.
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Convém notar que estas três revelações, distintas quanto ao tempo em que foram feitas, constituem uma única e mesma revelação, ou religião, desenvolvida por Deus através dos tempos.
Todas essas revelações tem o mesmo autor: Deus; o mesmo fim: a fé sobrenatural; os mesmos meios sobrenaturais: a graça sobrenatural; o mesmo fundamento: o Redentor esperado e chegado; os mesmos preceitos: o decálogo; e os mesmos dogmas.
O que se constata é que os dogmas foram revelados progressivamente, manifestados pouco a pouca na medida das disposições dos espíritos; todos, porém, estavam contidos em gérmen nas três revelações.
III- Conclusão
Pelo que precedo compreendemos os imensos benefícios que nos trouxe a revelação.
Antes de tudo, a revelação vem enxertar uma nova ordem de idéias sobre as idéias existentes: a ordem sobrenatural veio elevar e aperfeiçoar a ordem natural.
A ordem sobrenatural é uma mudança radical em nossas idéias e aspirações.
A razão, tocada pela graça, tornou-se fé;
O desejo natural de gozo tornou-se esperança;
A simpatia natural, mudou-se em caridade.
Em resumo: o homem da lei natural saiu das mãos de Jesus Cristo, enaltecido, transfigurado, aperfeiçoado, não fugindo mais de Deus, como os antigos judeus, mas apresentando-se diante dele com sentimento de amor filial.
A lei do temor cedeu lugar à lei do amor.
O homem racional tornou-se homem celestial, como o admiramos nos santos, dizendo que são anjos numa carne mortal.
Exemplo
Inauguração de uma estátua
Devia ser inaugurada uma grande e bela estátua de um herói da nação. Lá estava a estátua, de pé, altiva, em cima do céu pedestal finamente esculpido. Embaixo, lia-se o nome do herói.
A estátua, porém, ficou velada por um pano grosso, que só deixava aparecer as linhas gerais, o tamanho do herói, mas que encobria por completo a expressão de seus traços, seu gesto, a flama de seu olhar, a sua fronte altiva.
Há música, há discursos, há foguetes e vivas.
Os oradores, em frases altissonantes retraçam a vida operosa e benfazeja do herói. Outros, mostram a caridade, o seu corações generoso, os rasgos de sua dedicação. Mas a estátua permanece velada.
Lê-se no olhar da multidão o desejo de contemplar o herói, de admirar a sua fronte serena, de penetrar, como pelos seus lábios, até o seu grande coração.
E os oradores falam, exaltam, suscitam nos ouvintes um fremido de entusiasmo. Enfim, é a hora de tirar o véu, de revelaro grande homem.
Os braços se estendem... as mão se preparam... os olhos dardejam chamas, as bocas se abrem.
O véu cai... A imagem aparece em toda a sua beleza. Os seus traços se revelam, enquanto mil mãos batem palmas e mil vozes lançam retumbantes vivas!
Caiu o véu!
A estátua fica desvelada.
O herói está revelado.
Eis o que é a revelação divina.
Lá estava Deus, grande, majestoso, mas velado... deixando aparecer contornos de sua majestade, nas obras de sua mão, no universo. Mas ele vai ser revelado, vai cair o véu.
Um canto do véu caiu já no paraíso terreno: é a primeira revelação. Outro canto caiu no Sinai: é a segunda revelação.
Enfim, o véu cai inteiro: e nos aparece o Cristo, Deus e Homem, falando ao mundo e revelando-lhe os mais íntimos segredos de sua natureza e da sua vida. É a grande revelação. A revelação completa da religião.
A razão viu a estátua em seus traços gerais. A revelação fez cair o véu e Deus apareceu, tão visível quanto pode ser visível a olhos humanos a deslumbrante grandeza de Deus.
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