quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Biografia do Padre Júlio Maria de Lombaerde

5 - Chegada e primeiras atividades em Manhumirim

Em 29/02/1928, Pe. Júlio Maria embarca, afinal, para o Rio de Janeiro, onde se encontrou com Dom Carloto que o recebeu com o maior respeito e carinho e o levou para Caratinga. Pe. Júlio recusou a oferta de paróquias em cidades mais importantes e maiores. Fez questão de escolher Manhumirim, na época uma cidade pequenina, modesta, embora na Zona da Mata mineira, rica em café. Manhumirim lembrava ao Pe. Júlio a pequenez e o anonimato de Grave, na Holanda, onde o Fundador de sua Congregação, que ele amava tanto, quis começar a fundação. Ótimo lugar para uma instituição que precisava de aprender a amar e viver a pobreza e a humildade.

Pe. Júlio chegou a Manhumirim dia 24/3/1928. Hospedou-se com o Pe. La Barrera, vigário da cidade. Havia uma igreja nova em construção, construção que se arrastava havia longos anos. A vida paroquial, como um todo, ia no mesmo ritmo. O velho vigário, já cansado, não podia fazer muita coisa. Pe. Júlio ficou ali, procurando conhecer a situação, observando e aprendendo. Limitou-se, durante um mês e pouco, antes de tomar posse, a celebrar a missa, observar as coisas, planejar. A posse aconteceu em fins de abril.

Apaixonado por Nossa Senhora, quis marcar sua entrada na paróquia com um Mês de Maria vibrante, piedoso e muito bonito. Pediu que se improvisasse no interior da igreja nova, ainda em construção, um altar para coroação de Nossa Senhora. Movimentou as crianças e as famílias, que se sentiam renovados com a nova liderança paroquial. Os festejos entusiasmados em honra de Maria Santíssima preocuparam os protestantes, numerosos na cidade e no município, que reagiram, espalhando entre o povo um folheto contra o culto a Maria. Pe. Júlio resolveu aproveitar a ocasião e dar uma resposta séria e firme, baseada na teologia e na Bíblia. Usou para isso o jornal da cidade. Católicos e protestantes notaram logo que estavam diante de um líder, que não apenas fazia festas e celebrava missas, mas que tinha cabeça, tinha poder de fogo intelectual, manejava com segurança e facilidade a palavra escrita. Todos perceberam sua envergadura. Os católicos vibravam. Os protestantes sentiram o peso da mão do novo pároco e missionário.

Não eram tempos de ecumenismo, infelizmente. Eram, antes, tempos de polêmicas e anátemas. Em Manhumirim, as posições se definiram e se antagonizaram. Quem era católico, começou a ser mais firmemente católico; quem era protestante, maçom, espírita teve de se decidir. Não era mais possível ser católico e espírita, católico e maçom. Os protestantes, aliás, sempre foram claramente protestantes. Estávamos diante de um catolicismo militante, aguerrido. Certamente, houve nisso coisas boas e más. Não nos compete aqui nenhum julgamento histórico. Mas é certo que o Pe. Júlio expressava bem uma posição que era a de grandes homens de Igreja naquele tempo, como o Pe. Leonel Franca, S.J. Era preciso - continua sendo preciso - catequizar os católicos, mostrar-lhes sua Igreja, as razões de sua fé e de sua esperança, de modo que eles pudessem decidir-se esclarecidamente, em moral e em doutrina.

O jornal de Manhumirim não queria desagradar nem ao padre, nem aos protestantes. Seu diretor pediu ao Pe. Júlio que escrevesse sobre outras coisas. O Pe. Júlio, porém, achou que os ataques protestantes ao culto de Nossa Senhora tinha sido espalhados entre os católicos e não podiam deixar de ser respondidos. Foi então que resolveu fundar um jornal e um jornal combativo, a que deu o nome de O LUTADOR. O primeiro número saiu em 25 de novembro de 1928 e nunca mais deixou de ser editado. As lutas de O LUTADOR variaram nesses mais de 80 anos, mas ele sempre lutou por algumas causas fundamentais para o Reino de Deus. Com linguagens diferentes, com enfoques diversos, mas sem perder de vista a meta final, os objetivos básicos.


(Este texto é uma resenha e um rearranjo do livro “Pe. Júlio Maria, sua vida e sua missão”, de Dom Antônio Afonso de Miranda, sdn, o primeiro religioso da Congregação do Pe. Júlio Maria escolhido para ser bispo, hoje Bispo Emérito de Taubaté, SP, e que foi o primeiro biógrafo do seu Fundador.)

[Continua...]

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