(Meditação do Evangelho segundo Lucas, 2,42-52)
É uma cena encantadora que o Evangelho nos apresenta, cena da união íntima e amorosa que une os três membros desta família divino-humana, composta por Jesus, Maria e José.
Todos haviam ido à Jerusalém para assistir à festa da páscoa. Voltaram para Nazaré, eis que Maria Santíssima, indo com as demais mulheres, e José no grupo dos homens, ao se encontrarem no fim da primeira jornada, verificaram a ausência do Menino Jesus, que não se achava em nenhum dos grupos.
Voltaram pressurosos e tristes para Jerusalém, à procura de Jesus, e eis que o encontraram no templo, no meio dos doutores da lei.
O lugar onde se encontra Jesus é o templo, é o sacrário bendito, onde Ele fixou sua morada, onde Ele reside, e onde quer ser procurado e pode ser encontrado. Ele está ali verdadeiramente presente, a espera dos que o procuram.
Sirva-nos de exemplo Maria Santíssima e São José. Primeiro na procura de Jesus e segundo no encontro de Jesus.
A PROCURA DE JESUS
E como devemos procurá-lo? Pela visita amorosa. Deus longínquo, cuja imagem não podemos delinear em nosso espírito, nos aparece em Jesus Eucarístico, perto e visível.
Jesus possui todas as aspirações da nossa natureza: Ele é homem; e todas as aspirações da Santidade: Ele é Deus.
Nele encontramos um Deus capaz de chorar, de sorrir, de abrir-nos os braços e de apertar-nos contra o seu coração.
Oh anjo, indicai-nos onde Ele está mais perto, mais visível... Para irmos até ele!
Olha acolá... Esta Igreja... Perto de ti... Ó alma: é ali tua morada! Tu o percebes de longe... Tu o encontras ao passar de frente. A qualquer hora tu podes visitá-lo: ali, os teus passos ecoarão no silêncio... Nenhuma voz importuna perturbará o teu colóquio com Ele! Uma pequena lâmpada, de luz tímida, tal uma estrelinha no céu, guiar-te-á e, na pobreza de um estreito tabernáculo, tu encontrarás Jesus.
Ele está aí, aquele que a Virgem santa carregava em seus braços maternos... Aquele que o Pai eterno conserva sentado a sua direita!
Ajoelha-te: pois Ele é Deus! Fala-lhe com teu coração: pois Ele é nosso irmão! Conta-lhe as tuas penas: pois Ele é amigo! Expande a tua generosidade: pois Ele é grande! Implora a sua misericórdia: pois Ele é bom! Envergonha-te das tuas misérias: pois Ele é puro!
Fala-lhe da vida dele, de outrora, de seus trabalhos, de seus ensinos, de seus sofrimentos... Fala-lhe daqueles que o amaram e o amam ainda hoje: Ele se sentirá consolado em seu abandono.
Sai, depois, um instante, em espírito, do estreito espaço e contempla este grande Deus, atravessa o espaço e contempla-O o no céu. Oh! Como Ele é belo, grande, feliz... Alegra-te de tanta grandeza, e das adorações que envolvem o seu trono na glória.
Lembra-te que o teu lugar é ali com estes anjos; perto dele... E que Ele te fita com o seu olhar amoroso. Não é assim que fazem os amigos na terra?
O ENCONTRO DE JESUS
E como encontrar Jesus? Pela Sagrada Comunhão. Amanhã este altar solitário se tornará um Calvário. O sacrifício real se efetuará, e Jesus abrirá de novo as fontes das suas sagradas chagas, para comunicar as suas graças às almas que dela se aproximarem.
Quando uma alma piedosa se aproxima do tabernáculo, para adorar o divino hóspede, Jesus fica-lhe sorrindo ternamente; mas quando esta alma se aproxima da Mesa da Comunhão, o divino menino, velado pelas aparências da hóstia, estende os bracinhos ao que vai recebê-Lo.
Que alegria para Ele, quando chega o momento da Comunhão, quando ouve ranger a chave do tabernáculo; quando a sua prisão se abre! Não pode conter-se.
O sacerdote não se apressa bastante, e às vezes a hóstia sagrada escapa das suas mãos e voa até os lábios do comungaste: Jesus tem fome de ser comido: tomai e comei, este é o meu corpo!
O fim da Eucaristia é alimentar. Ora, alimentar é dar mais vida. Recebendo mais vida temos mais ser, e na medida que cresce nosso ser espiritual, Deus se estende nele mais largamente, ampara-se nele mais fortemente, e une-se com ele mais intimamente.
Pela Sagrada Comunhão recebemos realmente o corpo de Jesus Cristo, porém o que assimilamos é qualquer coisa da sua vida divinizada. Digamos melhor: é esta própria vida que se apodera de nós, como o oceano se apodera de uma gota d’água caída em sua imensidade, incorpora-a, absorve-a; somos como absorvidos pela divindade.
Como são sublimes estas coisas: procurar e encontrar Jesus - é unir-se com Ele.
O evangelho nos indica a aflição com que Maria e José procuravam Jesus perdido. Esta aflição deve ser a nossa por termos vividos tantos anos, sem bem compreendermos a desgraça de termos perdido este Jesus, e sem tê-Lo procurado onde Ele está: em seu tabernáculo de amor.
O mesmo evangelho indica a alegria sobrehumana dos santos esposos, ao encontrarem o seu tesouro no templo.
Possamos, como eles, encontrar muitas vezes este mesmo Jesus, no fundo deste tabernáculo, donde Ele quer sair para encontrar nossos corações; para tomar posse da nossa alma, uní-La a sua natureza divina, transformá-la pela sua graça para que seja um só com Ele - Tu em nós e nós em ti! Para que esta união, começada aqui nas trevas, no exílio, possa estender-se até a glória da pátria celeste.
Pe. Júlio Maria De Lombaerde
Comentário Eucarístico do Evangelho Dominical, p. 75-82
In Mistagogia Eucarística do Pe. Júlio Maria, p. 27-31
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