quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Biografia do Padre Júlio Maria de Lombaerde

7 – Crescimento das Congregações e outras atividades

Nesse meio tempo, a Congregação masculina do Pe. Júlio Maria, crescia e se espalhava por Minas Gerais. Os missionários estavam marcados pelo espírito de pobreza e desapego, por enorme disposição para o trabalho pastoral, e suas paróquias eram sempre movimentadas e piedosas, eucarísticas e marianas. Por seu lado, O LUTADOR se difundia pelo Brasil afora, entrava praticamente em todos os Estados, especialmente os do Sudeste e do Sul, e chegava a atingir mais de 900 cidades, levando o nome, as lutas, a doutrina do Padre Júlio Maria e aumentando seu prestígio no país.

Enquanto essas coisas iam acontecendo (e era muita coisa que acontecia em torno do Pe. Júlio Maria De Lombaerde), ele ia escrevendo e publicando, além do jornal O LUTADOR - que redigia praticamente sozinho e era, quase exclusivamente, uma folha religiosa e apologética para esclarecimento dos católicos diante das objeções ou ataques, por vezes violentos, dos "inimigos" da Igreja - muitos livros de apologética, mas sobretudo de espiritualidade ou doutrina mariana e eucarística. No jornal e nos livros que nasciam do jornal, Pe. Júlio utilizava um estilo polêmico, irônico, agressivo até, mais por motivo jornalístico, por causa do gosto natural que os leitores têm por esse tipo de literatura e que, de fato, acabou fazendo dele - segundo uma avaliação da Editora Vozes, naquela época - o autor católico mais lido no Brasil. É bom notar que as Vozes publicaram, nesse tempo, muitos livros do Pe. Júlio Maria e tinham dados comerciais para afirmar o que afirmaram.

Simultaneamente, o Fundador mantinha cerrada correspondência espiritual com seus religiosos e com as Irmãs Sacramentinas. Nessa época, estava impedido, por prudência e por obediência, de se corresponder com as que então chamávamos "as Irmãs do Norte". Essas Irmãs do Norte, ou seja, as Filhas do Coração Imaculado de Maria cresceram muito e se desenvolveram espiritual e materialmente, difundindo-se por várias unidades da Federação. Só depois da morte do Pe. Júlio, muitos anos aliás após sua morte é que começamos a nos relacionar mais freqüente e intimamente com elas. Hoje, somos cada vez mais uma família julimariana, formada pelas Filhas do Coração Imaculado de Maria (FCIM), as Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora e os Missionários de Nossa Senhora do SS. Sacramento.

Na década de 30, o Pe. Júlio Maria, enquanto construía o novo e grande prédio do Seminário Apostólico de seus missionários, sofreu muito por causa das perseguições político-religiosas, teve de assistir à invasão de sua gráfica e a seu empastelamento, e depois, sofreu anos e anos de censura prévia, durante a ditadura Vargas, que, de vez em quando, obrigava O LUTADOR a atrasar sua postagem e a refazer ou cortar textos já compostos laboriosamente, ainda na base do "tipo" catado a mão, um por um. Mas o jornal não deixava de sair afinal, embora às vezes com grandes tarjas negras, apagando textos censurados.

A Congregação se espraiou nesse tempo pelas Dioceses de Aterrado, hoje Diocese de Luz, MG, com o apoio e aprovação de Dom Manuel Nunes Coelho, então seu Bispo diocesano. Tivemos uma casa em Belo Horizonte e a paróquia de Cachoeirinha, ainda nos tempos de Dom Cabral. Nesse tempo, os nossos estudantes vieram cursar teologia no então grande e prestigioso Seminário Provincial do Coração Eucarístico de Jesus. Ainda nessa época, abrimos um Seminário Menor em Dores do Indaiá, e assumimos a paróquia aí e em Bom Despacho, ambas na Diocese de Aterrado (Luz), assim como a direção do Colégio dos Padres na cidade de Patos de Minas. A Congregação do Pe. Júlio Maria crescia e dava um belo testemunho de amor à Igreja, à Eucaristia e Maria Santíssima.

Uma atitude que distinguia as obras do Pe. Júlio: ele procurava não confiar nas seguranças humanas. Fazia questão de entregar tudo o que fazia à Divina Providência. Quando começou a construção do grande prédio do Colégio Pio XI, claro que tinha perspectivas financeiras. Mas não tinha tostão em caixa. E a obra não teve de ser interrompida nenhuma vez, por falta de dinheiro.

Apesar de sua nunca bem entendida sua paixão pela França (ele se dizia francês, apesar de ser belga e flamengo, falava com notável entusiasmo dos heróis franceses, da literatura francesa, da língua francesa que ele fazia questão de dizer que sabia, porque temos de conhecer "nossa língua"); apesar disso, quis se abrasileirar, desde os tempos de Macapá, no sentido que quis entender o povo, amar o Brasil e sua gente, fundar uma Congregação religiosa brasileira (a sua foi a primeira Congregação religiosa masculina brasileira e continuou sendo a única durante décadas). E mais que isso, em 1940 requereu sua naturalização. Ser brasileiro, deixar de ser francês, foi um grande sacrifício, um exercício de "kénosis", de esvaziamento afetivo por amor de Cristo, como um testemunho de despojamento pessoal em nome do amor ao povo ao qual dedicou praticamente toda sua vida sacerdotal. (Ele veio para o Brasil quatro anos apenas depois de ordenado padre, e nunca mais voltou à Europa, nem em visita, durante mais de 32 anos que viveu ainda.) O título de cidadão brasileiro lhe foi entregue solenemente em 31/10/1941, pelo Juiz de Direito de Manhumirim.

(Este texto é uma resenha e um rearranjo do livro “Pe. Júlio Maria, sua vida e sua missão”, de Dom Antônio Afonso de Miranda, sdn, o primeiro religioso da Congregação do Pe. Júlio Maria escolhido para ser bispo, hoje Bispo Emérito de Taubaté, SP, e que foi o primeiro biógrafo do seu Fundador.)

[Continua...]

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