terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Virgem Amável

Vitral_NS

A amabilidade é uma virtude maior e mais sobrenatural do que se acredita geralmente: é irmã da caridade, ao mesmo tempo em que é o seu mais suave fruto. É um verdadeiro reflexo do Céu. E destes reflexos do Céu tanto precisamos nesta pobre terra, tão fria, tão gelada! O que a faz resplendecer um pouco, o que a reanima, é o calor do Céu.

A mesma coisa dá-se quando se trata da nossa existência: para levantá-la, animá-la, fazê-la brilhar um pouco, é preciso um resplendor do Céu. Pois se a caridade é a irradiação da alma, pode-se dizer que a amabilidade é a irradiação do coração.

Ser amável é possuir ao mesmo tempo um atrativo que atrai o coração dos outros, e um laço que liga esse coração ao nosso.

Seria a beleza, a elegância, a ciência, a educação, a virtude em geral?

Não! é mais do que isso. Sem dúvida, sem virtude é impossível ser perfeitamente e durante muito tempo amável; mas não se deve concluir que a virtude, debaixo de qualquer forma que se apresente, seja sempre amável. É preciso, como o diz o Apóstolo, que ela se faça tudo para todos, que se derrame, que se dê, e se dê sorrindo.

Em Nazareth houve, num supremo grau, esta arte deliciosa da amabilidade. Amabilidade que atraía, que ligava à Virgem Santa aos corações daqueles que se lhe aproximaram, como ainda em nossos dias, sem ver a sua fisionomia bendita, sua bondade e sua beleza atraem e ligam os corações daqueles que a conhecem, e isso ao ponto que São Bernardo a chamou: arrebatadora dos corações, “Raptrix cordium”.

Quem nos dera uma idéia das encantadoras cenas de amabilidade que se passaram debaixo do humilde teto de Nazareth.

Não falemos do Menino Jesus. É o ideal desafiando toda descrição. Quantas vezes por dia, quantas vezes de noite até, Maria e José se conservaram imóveis diante do adorável Menino, atraídos pela sua graça, ligados pela contemplação de tamanhas maravilhas de bondade.

Que suaves lágrimas derramaram os olhos da ditosa Mãe, quando o pequeno Jesus, veio propor-lhe suas perguntas infantis, radiantes de simplicidades e de candura.

“- Boa Mãe, não posso ser útil?”

“- Não posso ajudá-la nesta ocupação?”

“- Não poderia poupar-lhe esta pena?”

“- Dê-me uma ordem, mamãe, que bem obedecerei!”

“- Tanto gostaria de lhe provar meu amor!”

“- Tanta vontade tenho de agradar-lhe!”

Oh! doces suaves colóquios de amabilidade!

E quando a Virgem, que já levava no coração, a espada cruciante, que nele cravara o velho Simeão, no dia da Apresentação; quando Maria, via seu Jesus, a ser imolado um dia, para a salvação dos homens; Ela não mais continha suas lágrimas mas tomava o Menino, apertando-o ao coração, como que para subtraí-lo aos algozes. Oh! então como chorava, como sua santa mãe e como se esforçava por consolá-la!

“- Minha boa Mãe, por que choras? Ter-lhe-iam causado alguma mágoa? Quem são os que te fazem sofrer?”

E com sua mãozinha, cingindo o colo da Virgem, escondia a loura cabeça debaixo do véu de sua mãe, repetindo:

“Oh! boa mamãe, não chores, eu tanto te amo, e mais ainda amar-te-ei, mas enxuga teu pranto”.

Doce, a sublime comunhão do coração da Virgem e do seu divino Filho.

Algumas vezes derramaram-se lágrimas, em Nazareth... freqüentemente, até! Mas como estas lágrimas, depressa foram enxugadas pelo calor deste reflexo do Céu, que se chamava: a amabilidade de Jesus.

Se houve lágrimas, houve também alegrias profundas. Alegrias que nasceram desta amabilidade, qual nascem sob a influência do sopro tépido da primavera, flores que recreiam a vista, perfumam o ar, e produzem uma renovação de bem-estar e de vigor.

A amabilidade não é uma virtude separada: é a reunião de diversas grandes virtudes.

É a caridade, que se dá. E dar-se constitui uma felicidade incomparável, que só pode compreender quem já a experimentou.

É a humildade, que se abaixa. E abaixar-se é a marca das almas grandes e dos corações generosos.

É a paciência, que suporta. E suportar as injustiças e desatenções daqueles que nos cercam é a grande fonte de merecimento que devemos aproveitar para o Céu.

É afinal a força que nunca desanima, porque continuadamente tem diante dos olhos, o modelo e a recompensa.

E estas grandes virtudes enfeixadas constituem a amabilidade: virtude meiga, virtude atraente, e sobretudo virtude subjugadora.

Ser amável – é fazer refulgir nos outros esta luz de nossa alma que faz desabrochar o sorriso dos lábios e dilata o coração, como o raio de sol que faz desabrochar o botão de rosa.

Ser amável – é sempre ter nos lábios a doce palavra que levanta, reanima, consola, fortifica, como a gota de orvalho reergue, revigora e dar cor à planta que estava a fenecer.

Ser amável­ – é conservar no seu exterior esta graça de comportamento, esta simplicidade de maneiras, esta serenidade da fisionomia, esta benevolência do olhar, que se transmitem, se comunicam e que atraem as pessoas das nossas relações.

Tudo isso fazia-se em Nazareth, com uma naturalidade, com uma sinceridade, e com uma convicção que não reproduziremos, sem dúvida, mas de que nos podemos aproximar.

Por isso, basta afastar o que obsta ao desenvolvimento desta amabilidade.

O que é que fecha os corações? é o egoísmo. O que é que os estreita? é o amor das comodidades. O que é que os esfria e os insensibiliza? é a preocupação de si mesmo. O que é que os impede de atrair e de ligar-se aos outros? é a falta de fé e de caridade. Oh! pede, pois a Deus:

Esta bondade: que torna previdente;

Este amor: que torna dedicado;

Esta piedade: que impede a tristeza;

Este teto: que sabe agradar;

Esta união com Deus, que tudo sobrenaturaliza!

Resolução:

Em nossas relações com o próximo, com as pessoas, sobretudo, que nos são um tanto antipáticas, perguntêmo-nos às vezes: Como Maria Santíssima teria tratado tais pessoas?

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Pe. Júlio Maria De Lobaerde, Voz de Nazareth, nº 37, janeiro de 1916.

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