Dr. Ivan Fornazier Cavalieri
Padre Júlio Maria, em vida, foi conhecido por diversos nomes: Padre Mestre, o Barbudo, o Martelo da Heresia no Brasil. Nenhum deles, porém, lhe agradava tanto quanto o de vovozinho, talvez por se ter devotado, de corpo e alma, ao trabalho com a criançada, sabendo encontrar nele o meio mais eficiente de chegar ao coração dos fiéis. E, de fato, foi poderoso recurso no apostolado paroquial, principalmente, em Manhumirim.
Por mais de uma vez, o próprio Fundador nos contou a verdadeira origem desse afetuoso nome. Ele, ainda estava em Macapá. A partir de 1916, as Filhas do Coração Imaculado de Maria dirigiam, na pequena e pobre cidade, o orfanato das meninas. Como o vigário visitasse frequentemente aquela casa de caridade, suas religiosas chamavam-no de “Meu Pai”. Curiosas e observadoras as caboclinhas concluíram: se as Irmãs que são nossas “mães” o chamam de nosso “Pai”, bem que nós poderemos chamá-lo de nosso “Vovozinho”. Dedução singela e acertada. Daquele momento em diante, trataram-no por esse cognome.
Nas residências do Norte e do Sudeste, em toda parte, as religiosas cordimarianas e sacramentinas chamavam-no de “Pai” e as alunas e demais crianças se referiam a ele como “Vovozinho”.
Abordamos o tema sob dois prismas diferentes:
Catecismo
Todas as quintas-feiras e domingos, às 15 horas, o antigo e pequeno sino da Matriz de Manhumirim anunciava autentica festa. Era a hora do catecismo da criançada.
Nesse momento, a igreja regurgitava de meninos e meninas de todas as camadas sociais, sem distinção alguma.
O ensino do ABC da doutrina católica estava a cargo de catequistas, as Irmãs Sacramentinas e alguns frades, todos dirigidos por América Vidal Soares, paroquiana inteiramente dedicada ao serviço de Deus, e Presidente das Filhas de Maria.
Uma hora depois, pela porta lateral, no altar do Sagrado Coração, Padre Júlio entrava na Matriz. Alegre, postava-se à frente do altar-mor. Em voz alta, rezava com a meninada três Ave-Marias e depois, cantava com emoção:
“Ó Maria concebidaSem pecado originalQuero amar-vos toda a vidaCom ternura filial[Coro]Vosso olhar a nós volveiVossos filhos protegeiÓ Maria! Ó Maria!Vossos filhos protegei (bis)”.
As vozes da criançada misturavam-se à do infatigável missionário e perdiam-se no ar. Fato comum nas celebrações religiosas na paróquia. Os meninos ou os homens ficavam nos bancos do lado esquerdo da igreja. As meninas e as mulheres lotavam o lado direito. Isso acontecia com os seminaristas, as normalistas, as Irmãs, as irmandades e todo o povo. Sem dúvida, velho costume europeu, ainda adotado pelo Padre Júlio em Manhumirim.
Terminado o catecismo, com que amabilidade o vovozinho era cercado pelas crianças, no adro da Matriz. Tocavam-lhe a batina, beijavam-lhe as mãos, abraçavam-no afetuosamente.
Naquela hora, repetia-se a passagem bíblica de Jesus entre as criancinhas.
Uma lição de vida e de amor!
Cruzada Eucarística
Das associações religiosas, a “Cruzadinha Eucarísticas” era a mais terna e graciosa. Uniformizada de branco com fita amarela atravessada ao peito, a garotada, uma vez por mês, assistia à Missa, cantava e comungava. Ideal supremo de todos os meninos(as) era a pureza e a bondade.
Desde sua chegada à cidade, Padre Júlio Maria se devotou a esse apostolado. Os relatórios de 1928 em diante afirmam explicitamente que o movimento juvenil era consolador. Em o nº 102 de “O Lutador”, de janeiro de 1931, lia-se o seguinte: “Tendo apenas uma população de 5.000 almas, a cidade possui na ‘Cruzada Eucarística’ mais de 200 crianças”.
Há uma foto de maio de 1929, tirada à porta da igreja. Pe. Júlio, ainda de batina preta, está no meio de 106 neo-comungantes mirins vestidos de branco.
Ele costumava afirmar:
- “A cruzada é a metade de minha alma. O que ninguém alcança, a cruzada me obriga a fazer quase chorando...”.
Bem vivo em nossa memória um fato relacionado à “Cruzada Eucarística” de Manhumirim.
Depois de cruel enfermidade, veio a falecer em 29 de março de 1941, o robusto menino Carlos Luís – Lulú – filho do farmacêutico Álvaro Vidal Soares e dona Marinalva Soares Vidal.
Família tradicionalmente católica granjeou o maior apreço moral de toda a cidade que acompanhou de perto o desenrolar da moléstia e conduziu ao túmulo o cruzadinho de sete anos.
O enterro foi uma verdadeira procissão de fé religiosa, com cânticos e flores. Ninguém vestiu creme, a Cruzadinha e as Filhas de Maria, todas de branco, acompanharam o corpo do anjinho até a derradeira morada. Rezou-se e cantou-se em clima de ardor celestial!
Pelas ruas da cidade, conduziu-se uma bandeira de religiosidade e de glória!
Lulú aprendera com o Vovozinho que a estrada mais rápida para o céu é fazer a vontade de Deus, mesmo entre o padecimento e a dor.
O seu exemplo foi mimosa flor na Cruzada Eucarística de Manhumirim.
***
A paróquia do Bom Jesus do antigo Pirapetinga ficou sob os cuidados do missionário belga, de formação cultural francesa, por 16 anos contínuos (1928-1944).
Com entusiasmo e ardor, deixou várias associações religiosas em franco progresso. Por que não lembrar aqui tantos jovens marianos, rezando, comungando e cantando? E as dezenas de senhores vicentinos todos voltados para a caridade fraterna? As filhas de Maria formavam uma falange exemplar. As damas do Coração de Jesus completavam o quadro de fiéis em torno do enérgico, porém edificante pároco.
Na diocese de Caratinga, Manhumirim, inegavelmente, era um centro destacado pelo sou profundo amor à Eucaristia e à Nossa Senhora.
NOTA: Temos informações de que o nome da esposa do Sr. Álvaro, supracitado, é na verdade MIRALDA MACHADO VIDAL.
Muito bom o blog sobre Padre Júlio Maria. Ele é patrono da escola onde trabalho: Escola Padre Júlio Maria que fica do lado de uma capela onde moram irmãs consagradas Cordimarianas. A escola já existe há 47 anos em um bairro muito tradicional em minha cidade com fortes raízes mineiras. Abraços e parabens pelo blog
ResponderExcluirDe fato, a fundação das Irmãs Cordimarianas buscava suprir a carência de bons educadores da sociedade da época.
ResponderExcluirPelas mãos das irmãs e de tantas pessoas que se empenham no ideal da educação das nossas crianças se prolonga o ideal missionário de nosso fundador!
Não deixem de conferir as atualizações do Blog.
Abraço cordial,
-Pro Catholica Societate-
Obrigado pela visita. Tem um email sim: blogpadrejulio@gmail.com
ResponderExcluirAbraço e parabéns novamente!!
O nome da falecida esposa de Álvaro Vidal Soares era MIRALDA MACHADO VIDAL.
ResponderExcluirComo este texto é uma reprodução de um livro não podemos fazer alterações no corpo do texto. Mas colocaremos essa observação em nota. Obrigado pela leitura e pela colaboração!
ExcluirEu Gostaria de Conhecer Varias Fotos do Padre Julio Maria de Lombaerde nos primeiros dias de padre e tambem nos primeiros diasou mais dele aqui no brasil em 1912 a 1944
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